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Maria Francisca Macedo: “É um bom sinal que os jovens tenham a perceção de que não foi difícil aceder ao ensino”

A Academia Gerador realizou, em 2021, um estudo em que questionou os portugueses sobre quais…

Texto de Sofia Craveiro

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A Academia Gerador realizou, em 2021, um estudo em que questionou os portugueses sobre quais seriam as maiores dificuldades que os jovens enfrentam hoje em dia. Pedimos aos inquiridos que classificassem, numa escala de 1 a 10, em que 1 significa “nada difícil” e 10 significa “muito difícil”, as seguintes áreas: habitação; emprego; educação; família, tempo para vida social e para lazer; conexão social; e saúde mental e bem-estar.

Ao observarmos os resultados, compreendemos que os portugueses consideram que, hoje em dia, as maiores dificuldades enfrentadas pelos jovens estão relacionadas com a habitação (comprar ou alugar casa), atribuindo-lhe, em média, 8,7 pontos. Em segundo lugar, surge o emprego (conseguir autonomia financeira, trabalho estável e/ou na área de formação). De seguida, avaliada com 7,4, surge a dificuldade de conseguir constituir família. Só depois, com classificações menores do que 7, surgem os outros aspetos: a saúde mental, a educação, o tempo para o lazer e para a vida social, e, por último, com uma classificação abaixo de 6, a conexão social.

Depois de analisar estes dados, o Gerador decidiu lançar uma nova rubrica investigativa, composta por 7 entrevistas, realizadas a 7 jovens diferentes. Todas as semanas iremos abordar, junto de um entrevistado, um dos temas trazidos à discussão por este questionário. Começámos no passado dia 12 de agosto, Dia Internacional da Juventude, com o tema da Família, e hoje falaremos sobre educação.

A educação, definida aqui como a possibilidade de estudar e de prosseguir os estudos, não foi encarada, aos olhos dos portugueses, como uma das maiores dificuldades da juventude. Curiosamente, são os mais velhos quem atribui uma pontuação mais elevada a esta dimensão, encontrando-se igual ou acima de 7 a partir da faixa etária dos 35–44 anos, comparativamente com 5,6 na faixa etária dos 15–24.

Tendo estes dados em mente, fomos falar com a professora do ensino básico e autora de livros infantis Maria Francisca Macedo, qual a sua visão sobre a educação em Portugal.

A profissional viu o seu trabalho foi reconhecido pelo global Teacher Prize Portugal 2018, com uma menção honrosa, atribuída pelo contributo para a sustentabilidade social. Os seus livros do ‘Clube de Cientistas’ são também reconhecidos pelo plano nacional de leitura e pela CiênciaViva, no catálogo Ler + Ciência. Foi vencedora do prémio Maria Rosa Colaço para a melhor obra infantil inédita, em 2019.

Além de exercer a docência na área da biologia, Maria Francisca Macedo é membro do Conselho Editorial da revista APEduC, sobre investigação e práticas no ensino da ciência, matemática e tecnologia.


Gerador (G.) – Antes de seguirmos para a análise dos números, queria começar por uma pergunta mais pessoal. Sei que, quando iniciou os seus estudos académicos, tinha em mente seguir a área da biologia. O que a levou a mudar de ideias e seguir a vertente do ensino?

Maria Francisca Macedo (M. F. M.) – Isso é uma pergunta pertinente [risos]. [Foi] por várias razões, mas uma delas não posso negar que tem também a ver com a empregabilidade. Quando estamos a estudar devemos ter este cuidado [de pensar]: até que ponto o sonho que projeto para este curso, é realizável no país em que vivo?

Claro que também pesou muito o facto de sentir que a biologia acaba por ter um contexto e um conteúdo muito específico, e eu gosto de uma investigação mais transversal e longitudinal. Portanto, quando trabalho no ensino, quando trabalho com crianças, estou a trabalhar não só a ciência e a biologia, mas também a matemática e o português, e isto interessa-me muito, esta pluridisciplinaridade de conteúdos e de conhecimentos. Mas também porque acho que cheguei a meio do primeiro ano de curso e percebi que existem muito poucos biólogos a trabalhar na área da biologia enquanto biólogos, enquanto defesa do ambiente, em Portugal. Portanto, [pensei] das duas uma: ou eu vou lá para fora seguir este sonho ou, em Portugal, fico a dar aulas de biologia e de ciências. Então, se é para dar aulas, eu vou para a idade que mais me fascina e [onde posso] falar de muito mais conteúdos do que estes. E acabou por também ser um ajuste, que é sempre necessário, de gerir um bocadinho os sonhos, com as expectativas, o que é possível e o que é realizável. Isto porque eu gosto muito do nosso país e não estava em cima da mesa sair. Sei que existem jovens que preferem sair, que preferem seguir [a área] e não tem mal nenhum, mas [para mim] tem também a ver com isto. Eu quero manter as minhas raízes.

G. – Acha que, por exemplo, na fase universitária e académica se geram expectativas que depois não correspondem à realidade?

M. F. M. – Não, não acredito nisso. Eu acho é que, nós, quando estamos no secundário, primeiro acabamos por escolher uma área muito cedo e, acima de tudo, somos muito jovens e, portanto, nós próprios ainda temos uma gestão de expectativas muito inocente, não é? Quando chegamos aos primeiros anos de curso, apercebemo-nos do mundo real. Acho que os primeiros anos de faculdade são um encontro com o mundo real que ajuda a gerir essas expectativas. Não é à toa que existem muitos casos de jovens que fazem o primeiro ano num curso e depois percebem que não é por ali, e não tem mal nenhum, [porque] depois mudam de curso.

Tem muito a ver com isto: tinham uma expectativa inocente da juventude e depois, entram no primeiro ano, e, ao falar com pessoas, profissionais da área, professores que têm muito conhecimento na área, reajustam as suas expectativas e encontram-se de maneira diferente.

G. – No seu caso, essa mudança fez sentido? Sente-se realizada com a profissão que escolheu?

M. F. M. – Sem sombra de dúvida. Aliás, dou graças a Deus por ela, porque, na realidade, eu continuo a trabalhar muito naquilo que gostava. Quando escolhi biologia, também era muito esta missão de cuidar do ambiente, de cuidar do planeta, e na educação nós temos uma margem enorme para fazer isso e para educar as gerações futuras a fazê-lo. Portanto, sinto-me realizada por aí e também porque gosto muito do que faço. Ainda bem, no fundo, que esta gestão de expectativas me levou por um caminho mais completo.       

G. – Olhemos agora, então, para o nosso inquérito: a educação – definida como a possibilidade de estudar e de prosseguir os estudos – não foi encarada, aos olhos dos portugueses, como uma das maiores dificuldades da juventude. Curiosamente, são os mais velhos quem atribui uma pontuação mais elevada a esta dimensão, encontrando-se igual ou acima de 7 a partir da faixa etária dos 35–44 anos, comparativamente com 5,6 na faixa etária dos 15–24. Como avalia esta questão?

M. F. M. – Eu acho que não me surpreende. Não sei se a deixa a si surpreendida, mas, de facto, nós neste momento... Por exemplo, a primeira dificuldade que é relatada – e é uma dificuldade que tem vindo a ser muito estudada – é este acesso à habitação e o emprego, que estão altamente correlacionados. Se eu não encontrar um emprego estável, eu não consigo uma habitação ajustada às minhas necessidades. Esta dificuldade de constituir família também está muito relacionada, porque, se eu não tenho um emprego estável, também não me sinto tão preparado para constituir família. Se estou sozinho, não consigo tão facilmente suportar custos de habitação.

Todas estas [questões] se influenciam umas às outras. E, de facto, têm sido bastante disruptivas e muito analisadas. Felizmente, falando do acesso à educação, eu acho que é um tema que tem sido muito trabalhado ultimamente e que existe uma série de ferramentas para que este acesso à educação seja facilitado. É interessante reparar aqui nesta discrepância tão marcada entre a perceção das dificuldades dos mais jovens, e depois de uma faixa etária mais velha. Os mais jovens sentem que o acesso à educação é fácil e faz todo o sentido que o sintam. Quer dizer, esta faixa dos 15 aos 24, ou ainda está no secundário ou saiu há pouco tempo. Portanto, a perceção que têm é a perceção de uma escolaridade que, por ser obrigatória, é fácil de aceder mesmo havendo algumas dificuldades financeiras. Para além da rede de escolas públicas, nós temos o SASE, temos comparticipações de materiais de estudo, alguns subsídios para a família... portanto, temos aqui uma série de ferramentas que visam precisamente isto.

Eu acho que [este resultado do inquérito] é sinal que as ferramentas estão a fazer um bom trabalho. Está a funcionar porque não existe uma perceção de dificuldade de acesso ao ensino. Mas, depois, temos os mais velhos a dizer: “OK, se calhar já me é mais difícil aceder.” Isto é muito interessante porque eu, se tenho 20 anos e quero aceder a um mestrado, consigo facilmente um sistema de ação social do ensino superior ou alguma bolsa de estudo ou alguma ajuda financeira. Nós temos a FCT [Fundação para a Ciência e Tecnologia], o Instituto Camões, a Gulbenkian, até algumas câmaras [municipais] atribuem bolsas, temos o financiamento europeu, que também cobre despesas diárias ou propinas... Nós temos uma série de apoios ao ensino superior para quem acabou de ingressar, mas depois se calhar se temos 40 anos e gostávamos de nos requalificar, gostávamos de fazer um mestrado ou uma formação específica, há uma dificuldade acrescida, que é o acesso à educação, mas é também o gerir isto com tudo o resto. Porque agora tenho de pagar eu os meus estudos e, portanto, tenho de mexer na verba familiar, tenho de gerir talvez até com a família, se tenho filhos pequenos... Portanto: sou trabalhador tenho de gerir todas estas questões e às vezes acaba por ser mais difícil – parece-me a mim – equilibrar tudo isto e ainda ir estudar.

Assim de repente, e olhando para os dados, eu diria que, por um lado é um bom sinal que os jovens tenham a perceção de que não foi difícil aceder ao ensino. Acho que é bom sinal. É também sinal que não estaremos tão preparados para apoiar os adultos num caminho de maior qualificação, se for essa a sua necessidade, e que, se calhar, têm de fazer escolhas. Daí acabarem por relatar esta perceção de maior dificuldade [no acesso] ao ensino. Aqui não seria tanto o começar os estudos, mas talvez mais na vertente de prosseguir os estudos que, de alguma maneira ou ficaram parados ou, às vezes, queremos só mais alguma coisa. Queremos uma pós-graduação, queremos o mestrado ou queremos a licenciatura que não tivemos oportunidade de fazer. E acaba por ser, talvez, um bocadinho mais difícil. Estamos menos preparados para os adultos e para as pessoas com família e com custos a cargo. Já para os jovens, estamos muito preparados para os acompanhar naquilo que é a missão deles primária, que é educar-se e aprender a pensar.

G. – Nos últimos dois anos, os impactos da pandemia alteraram profundamente as práticas de ensino, o que provocou vários problemas, nomeadamente ao nível das matérias em atraso. Estes problemas serão facilmente ultrapassáveis? Ou teremos crianças e jovens que ficarão com lacunas na sua educação?

M. F. M. – Creio que aqui existem opiniões muito diversas e aquilo que lhe posso dizer é a minha opinião. Eu acredito que, neste momento, estamos a falar de um ano e meio... Vá, dois anos escolares afetados, e eu diria que dois anos não são significativos para ficarmos muito preocupados com conteúdos específicos não aprendidos.

Por um lado, porque, apesar de mudarmos as ferramentas, os professores fizeram todos um grande esforço e adaptámos os meios, mas os objetivos continuavam lá e a maioria foi cumprida. Depois, porque eu diria que o maior problema nisto tudo, a maior lacuna que ficará, não será tanto um conteúdo específico ou uma fragilidade específica, mas eu acho que o que vai trazer, sim, um bocadinho mais dificuldade de reajuste agora nos próximos anos são as rotinas de estudo, a resiliência, o lado físico e social da aprendizagem. Acima de tudo, o bem-estar emocional e o desenvolvimento dos nossos jovens. Acho que devemos estar mais preocupados com isto. Ou seja, não tanto se, das 10 coisas que tinham de saber, se sabem pelo menos nove, mas acima de tudo [pensar]: “Sabes oito das dez coisas, mas estás bem?” Porque se eles estiverem bem, depois as coisas resolvem-se e apanham-se.

Se calhar, na minha opinião, não devemos estar tão preocupados com conteúdos quase como listas, checklists – [se] chegaram aqui, [se] chegaram ali – mas acima de tudo se conseguiram passar esta fase com relativa tranquilidade, com resiliência para que depois permaneçam as ferramentas para colmatar qualquer conteúdo que possa eventualmente surgir. Se eles souberem pensar, chegam lá na mesma.

G. – Então, na sua opinião não é caso para pensar que isto terá consequências irreversíveis…

M. F. M. – Não, a nível de conteúdos, não. A nível de conteúdos, acho que é reversível se as escolas e as famílias souberam cuidar do resto e se, depois desta pandemia, temos um grupo de jovens que, apesar de um conteúdo ou outro que ficou para trás, são jovens que estão tranquilos e que têm raciocínio e que conseguem mexer-se na mesma e chegar lá.

G. – Na sua opinião, quais foram as maiores falhas ou as maiores dificuldades durante este período?

M. F. M. – [pausa longa]... hummm... isso é amplo de mais...

G. – Pode dar alguns exemplos.

M. F. M. – Se calhar vamos por aí, porque há muitas possibilidades. Mas eu diria que as maiores dificuldades se centram todas numa só (se tentarmos resumir), que é o facto de a escola ter mudado drasticamente e em alguns momentos ter mudado de sítio. Quando digo que mudou de sítio [quero dizer que] deixou de estar na escola e passou a ser centrada na nossa casa. De repente, nós temos famílias – principalmente as famílias que têm mais do que uma criança – que estão a ajudá-los a gerir todos estes processos educativos através de um computador mas, ao mesmo tempo, estas crianças estão a aprender ligados à escola mas não deixam de estar em casa, com a gestão familiar que está a acontecer. E, lá está, mais uma vez vai tudo bater a este lado de desenvolvimento, de equilíbrio emocional, não só de cada jovem individualmente mas de toda a família. Acho que, depois, todos os pequenos exemplos vêm à volta disto.

Os mais velhos, por exemplo, sentiram muita dificuldade de relação, principalmente com os amigos, com os pais, com os professores. Nos mais novos, eu acho que houve muita dificuldade dos professores de chegarem a eles e conseguirem perceber o que se passava, porque não há tanta autonomia no computador. Precisam dos pais, mas os pais, no meio disto tudo, continuam a trabalhar [risos]. Portanto, há aqui uma série de coisas a gerir que dificultaram e seria difícil termos vivido isto de uma maneira perfeita. Acho que já muito se fez.

Por outro lado, não nos foquemos só em desvantagens: descobriram-se ferramentas de comunicação extraordinárias e que eu acho que podem ser transferidas agora para os próximos anos, quando voltarmos ao ensino absolutamente normal, que podem até potenciar a relação entre a escola e as famílias. Portanto, eu acho que também se descobriram coisas boas e novas aprendizagens, principalmente por parte dos professores que se calhar estavam um bocadinho mais instalados e que acabaram por se mexer e descobrir muitas coisas novas.

G. –De certa forma isso acaba por estar um pouco relacionado com a pergunta inicial, relativa à formação dos adultos. Os professores, especialmente aqueles em que talvez tenham iniciado a carreira há algum tempo, também se viram obrigados a renovar as suas competências e a aprender a trabalhar com novas ferramentas. Também será importante dar continuidade a essa formação dos professores...

M. F. M. – Perfeito, Sofia, concordo mesmo consigo. Os professores viram-se um bocadinho forçados a isso e ainda bem. Até porque às vezes nem é falta de vontade, porque havia muitos casos de pessoas que até queriam, mas não havia – lá está – ou disponibilidade na família ou na escola para que houvesse espaço para essa formação para além da mínima obrigatória, que os professores precisam de fazer. Portanto, acabaram mesmo por, todos eles, [de forma] um bocadinho autodidata, de entreajuda – surgiram imensas plataformas de entreajuda docente, que é uma coisa extraordinária – ajudámo-nos todos uns aos outros a aprender e a ir mais longe.

Também agora, fazendo esse paralelismo que fez tão bem, percebemos outra coisa que é: foi uma altura em que assistimos a uma formação maior por parte dos adultos. Houve muito mais procura por cursos curtos, cursos complementares ao que sabíamos ou completamente diferente. Houve quem fosse aprender pintura, piano e outras coisas e variar um bocadinho, porque, de repente, passou a haver uma maior facilidade na gestão da família, do tempo ou da casa porque as coisas ficaram mais acessíveis através do universo digital. Portanto, talvez também tenha sido bom por isto. Encontrámos aqui ferramentas para que o adulto possa aceder mais facilmente e a uma maior oferta de especializações e de cursos do seu interesse.

G. – Que retrato faz do ensino em Portugal, quando comparado com outros países europeus, de uma forma macro?

M.F.M – Eu acho que é sempre muito perigoso comparar, portanto não me vou mesmo meter por aí. É como quando os pais me perguntam “este meu filho, comparando com o outro...”, e eu costumo responder sempre que, para comparar, temos de ter a certeza que estamos a observar todos os fatores.

Às vezes quando comparamos um sistema de ensino com outro, focamo-nos ou nas desvantagens ou nas vantagens de sistemas de ensino e esquecemo-nos do ambiente social, da realidade e das dificuldades de cada país. Às vezes há coisas tão simples como determinadas decisões de um sistema de ensino diferente, que foram tomadas por causa da meteorologia, que nós temos diferente. E, se calhar, estamos a esquecer-nos desse fator e pensamos: “Eles têm umas férias tão grandes naquela altura do ano.” Sim, mas vamos lá pensar que fatores é que influenciaram isto. Também é muito cultural. O sistema que temos foi crescendo de uma maneira e adaptando-se às necessidades e outros sistemas cresceram de outra maneira. Eu não arriscaria comparar, principalmente dessa forma macro, porque é muito difícil ser justo nessa comparação.

G. – Nesse caso reformulo: que retrato faz do ensino em Portugal, de uma forma geral? É um ensino bem estruturado, adequado às necessidades atuais, ou, pelo contrário, ainda fica aquém das expectativas e necessidades?

M. F. M. – Eu sinto que temos feito um percurso bastante positivo nos últimos anos e que este ensino e, principalmente, o acesso ao ensino, tem vindo a marcar passos decisivos na sua evolução. Claro que há sempre três decisões para a frente e depois há uma para trás, como em todas as outras coisas. Não existem sistemas perfeitos, mas um exemplo muito bom é a adaptação da escolaridade obrigatória, que até há pouco tempo não existia e depois, de repente, passou a fazer sentido porque a população precisava de mais. Agora, neste momento, temos a escolaridade obrigatória até ao décimo segundo ano. Isto é um exemplo um bocadinho mais antigo – já tem uns bons anos –, mas agora, mais recentemente, toda esta flexibilidade curricular, esta maior autonomia das escolas, tudo isto se vai adaptando para que cada escola também tenha uma resposta mais adaptada à sua realidade. Porque – lá está – quando falamos em Portugal inteiro, não podemos esquecer que, numa aldeia no Norte, a realidade é completamente diferente de uma vila do Centro ou da capital. São realidades e necessidades diferentes. As escolas têm autonomia para se adaptar a isso e têm-na cada vez mais. Eu acho que isso é uma coisa positiva.

Eu vejo com bons olhos este caminho que estamos a fazer na educação em Portugal. Voltando, se calhar, aqui ao questionário, sobre o facto de o acesso à educação e a perceção da dificuldade do acesso à educação dos jovens ter sido de 5,6 é também um indicador disso. Eles consideraram que foi fácil aceder e permanecer no ensino. Essa perceção acho que é um bom indicador. Muitos outros existem – reforço sempre. Nunca estamos numa posição perfeita. Faz sempre sentido crescer e há sempre coisas que podem ser melhoradas, mas isso é em qualquer sistema de ensino.

G. –A mudança de critérios, nomeadamente nos exames do ensino secundário, em que foi alterado [o sistema devido à pandemia]. As provas passaram a não contar para a conclusão do ano letivo, mas apenas para o ingresso no ensino superior. Isso é positivo ou negativo?

M. F. M. – Acho que temos tido algumas decisões que acabam por ser... estou à procura da melhor palavra para caracterizar isto... Bom, inevitavelmente por mais que se estude para tomar uma decisão – e não tenho dúvida de que os decisores que chegaram a essas conclusões e que mudaram [o sistema] investigaram bem os prós e os contras e têm objetivos concretos – inevitavelmente, só passado uns anos da decisão ser tomada e aplicada na realidade é que conseguimos perceber todas as [suas] reais implicações. Portanto, acho que teremos de esperar para ver se isto é, de facto, positivo.

Não sei se já percebeu, mas sou uma pessoa que tento olhar só para o lado bom das coisas, e quando tenho de criticar alguma coisa, [procuro] fazê-lo com muita cautela [risos]. Eu acho que teremos de esperar para ver se isto fará sentido ou não. De qualquer maneira, dado o enquadramento dos últimos tempos, poderá ser uma decisão eventualmente não definitiva, de alguma forma reversível e que, mais uma vez, seja uma resposta adaptada a uma circunstância inesperada e que, depois de alguma regularização, seja repensada. Repare: muitas outras decisões no ensino foram assim. Decidiu-se uma coisa e depois “redecidiu-se” que afinal não faria tanto sentido. Tudo isto são adaptações. Vale a pena esperar para ver.


Ficha Técnica O universo do estudo é constituído por indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos, residentes em Portugal continental e ilhas. A amostra, com 1200 entrevistas validadas, foi estratificada por região, sexo e escalão etário, em Portugal continental, e por ilhas, e distribuída em cada estrato de acordo com a repartição da população-alvo em cada estrato. As entrevistas foram realizadas de 22 de março a 27 de abril de 2021, através de um questionário feito online utilizando o método CAWI (Computer Assisted Web Interview). Os resultados são apresentados com um nível de confiança de 95 %. A margem de erro para a média na escala 1 a 10 é de 0,13 pontos e a margem de erro para a proporção é de 2,12 pontos percentuais.

Texto de Sofia Craveiro
Fotografia cedida por Maria Francisca Macedo

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