fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Paula Cardoso

Natural de Moçambique e licenciada em Relações Internacionais, trabalhou como jornalista durante 17 anos. Fundadora da comunidade digital “Afrolink”, autora da série de livros infantis “Força Africana”, faz parte da equipa do talk-show online “O Lado Negro da Força”, integra o Fórum dos Cidadãos, bem como os programas HeforShe Lisboa e Bora Mulheres, de mentoria e empreendedorismo feminino.

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

Nas Gargantas Soltas de hoje, Paula Cardoso fala-nos os juízos de valor e lições de moral que contaminam a sentença do caso Cláudia Simões.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

“Ninguém fez mal a Cláudia Simões”. Esta frase não me sai da cabeça desde que a ouvi, no passado 1 de Julho, no Tribunal de Sintra. A partir dela, proponho o seguinte exercício: peguemos na imagem do rosto desfigurado de Claúdia Simões, amplamente difundida na imprensa e redes sociais, e coloquemos essa afirmação como legenda. 

Acrescentemos ao texto a informação que consta do relatório de urgência do Hospital Amadora-Sintra, onde, às 22h18 de 19 de Janeiro de 2020, Cláudia Simões deu entrada, e o seu caso foi sinalizada como “muito urgente”. Segundo o documento, citado pelo Expresso e outros órgãos de comunicação social, a paciente apresentava, além do rosto deformado “por hematomas extensos em toda a face, principalmente na região frontal à esquerda, ferida traumática no lábio inferior e superior com pequena hemorragia activa.” A observação clínica identificou igualmente “traumatismo cranioencefálico frontal e trauma facial com edema exacerbado generalizado, edema dos lábios, com feridas dispersas, trauma da pirâmide nasal (…)”.

O retrato, resultante de uma escalada de violência a partir de uma viagem de autocarro – numa sucessão de excessos que pode ser recordada aqui –, foi suficientemente claro para, em 2022, a juíza de instrução do Tribunal da Amadora ter decidido levar a  julgamento Carlos Canha, João Carlos Cardoso Neto Gouveia e Fernando Luís Pereira Rodrigues, os três polícias acusados de agredir Cláudia Simões pelo Ministério Público (MP). 

Contudo, cerca de dois anos depois de deduzida a acusação, e mais de quatro após os acontecimentos, o Tribunal de Sintra apresenta uma leitura diferente, desligando a gravidade dos ferimentos descritos no relatório médico da acção policial.

Apesar de termos imagens, a partir de um vídeo partilhado nas redes sociais, do agente da PSP Carlos Canha a agredir Cláudia Simões, numa paragem de autocarros da Amadora; e de, nesse registo, a mesma não exibir qualquer hematoma facial; e apesar de ter ficado provado que entre as urgências hospitalares e esse momento apenas houve um ‘desvio’ para a esquadra do Casal de São Brás, a Justiça entende que “ninguém fez mal a Cláudia Simões”. Antes pelo contrário, na leitura da magistrada Catarina Pires, que presidiu ao colectivo de juízes do Tribunal de Sintra – onde o caso estava a ser julgado desde 15 de Novembro, culminando na sentença de dia 1 –, Cláudia fez-se “passar por vítima” para “vir a obter uma choruda indemnização”.

Mais: a juíza fez questão de assinalar que a defesa de Claúdia foi paga pelo movimento anti-racista, sugerindo manobras de instrumentalização ao serviço de uma agenda que vê racismo onde ele não existe. Pior: Catarina Pires dá a entender que acredita na ficção do racismo reverso, ao referir que, entre quem assistiu à actuação de Carlos Canha, se gerou a “preconceituosa percepção” de que se tratava de "violência policial contra uma senhora africana".

A sentença do absurdo, em que por repetidas vezes se sublinhou que a factualidade provada é o que vale em tribunal, prolonga-se em vários juízos de valor e lições de moral, que pintam Cláudia Simões como alguém cuja existência é, por si só, incriminatória. Até com prova em contrário!

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura II – Redação de candidaturas [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e manutenção de Associações Culturais (online)

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 Julho 2024

A nuvem cinzenta dos crimes de ódio

Apesar do aumento das denúncias de crimes motivados por ódio, o número de acusações mantém-se baixo. A maioria dos casos são arquivados, mas a avaliação do contexto torna-se difícil face à dispersão de informação. A realidade dos crimes está envolta numa nuvem cinzenta. Nesta série escrutinamos o que está em causa no enquadramento jurídico dos crimes de ódio e quais os contextos que ajudam a explicar o aumento das queixas.

5 JUNHO 2024

Parlamento Europeu: extrema-direita cresce e os moderados estão a deixar-se contagiar

A extrema-direita está a crescer na Europa, e a sua influência já se faz sentir nas instituições democráticas. As previsões são unânimes: a representação destes partidos no Parlamento Europeu deve aumentar após as eleições de junho. Apesar de este não ser o órgão com maior peso na execução das políticas comunitárias, a alteração de forças poderá ter implicações na agenda, nomeadamente pela influência que a extrema-direita já exerce sobre a direita moderada.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0