Carolina Torres, um dos nomes do entretenimento português, é a autora e realizadora do novo documentário que viaja “pelas histórias mais inacreditáveis passadas no Cais do Sodré nas décadas de 70, 80 e 90”: “Caos do Sodré”.
A artista de 33 anos entrevista donos de espaços daquela época, empregados de vários bares, porteiros, músicos e Dj’s que animaram as noites do Cais. Os mesmos contam como era a sua vida e trabalho na altura, procurando responder ao principal objetivo da realizadora: “que se contem mais histórias, que haja mais acesso à cultura e à criatividade” e que se quebre o estigma que existe em torno da vida boémia que acontecia nesta zona de Lisboa.
“Encontrei uma revista dos anos 80 que falava de uma volta ao Mundo numa só rua e qualquer olhar mais atento repara nisso, repara que o Cais era mesmo assim”, começa por explicar Carolina Torres. A artista assume que tinha as expectativas baixas em relação ao impacto que este documentário iria ter no público, uma vez que lhe disseram “que ninguém se iria identificar com as histórias e que seria algo meio de nicho”. Porém, o feedback dos visualizadores tem provado o contrário. “A verdade é que os turistas se apaixonam pelo nosso país e está na altura de fazermos o mesmo”, declara a realizadora.
Outro objetivo de Carolina Torres, ao concretizar este documentário, é desmistificar alguns dos rumores da época e que ainda hoje persistem. Um exemplo desses rumores é a história de Maria, uma prostituta com quem o assassino de Martin Luther King terá vivido um romance, aquando da sua estadia em Portugal. Para além disso, o Cais do Sodré é um lugar frequentado pela própria artista e isso foi também uma ajuda para a gravação das cenas e para encontrar os protagonistas, alguns já seus conhecidos.
Alguns dos nomes que surgem em “Caos do Sodré” são: Samuel Úria, Tiago Bettencourt, Fernando Alvim, João Botelho, Soraia Carrega, Gisela João, António Costa (dono dos bares Viking, Cais do Pirata e Ménage), Augusto (dono do bar Copenhaga) e Fernando (dono do bar Tokyo). “Houve uma altura em que senti uma espécie de insaciabilidade, porque quando entrevistas alguém e essa pessoa fala de mais três ou quatro pessoas, dá-te sempre vontade de ir falar com essas também”, afirma Carolina Torres ao revelar que o seu maior desafio foi a seleção das histórias que deveria incluir no documentário.
“Caos do Sodré” foi realizado para eternizar as memórias e as vivências de quem experienciou a vida noturna do Cais do Sodré. Marinheiros, prostitutas, “mulheres de meia-idade” a servir bebidas nos bares. Estas são apenas algumas das figuras que se podiam encontrar na, agora conhecida, “pink street”. Carolina Torres expôs essas memórias, através de histórias contadas na primeira pessoa, e procurou “retribuir o amor” que o Cais e as suas pessoas lhe outrora deram, “sem julgamentos”.
“O que agora realmente importa são as mensagens que recebo todos os dias, com histórias sobre o cais ou reviews do documentário, e isso tem-me enchido o peito desmesuradamente”, conclui a artista.
O documentário está disponível na plataforma Youtube desde o dia 27 de julho e pode ser assistido de forma gratuita.