O que conta o património de Braga sobre o legado colonial? Chisoka Simões, doutorando em Estudos Culturais na Universidade do Minho, vai levantar o véu com a visita guiada “O Império Ainda Mora Aqui? Memórias, Marcas e Caminhos da Descolonização em Braga”.
Não é a primeira proposta do género do investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade do Instituto de Ciências Sociais da academia minhota. Em abril, orientou o tour “Intersecting Histories: Colonialism and the Paths to Decoloniality in Braga”, um pré-evento do congresso inserido no projeto Migra Media Acts. Agora, lidera uma visita mais longa, que integra a terceira edição do PARAÍSO, um ciclo de programação dedicado à celebração das expressões artísticas afrodescendentes e lusófonas, com coordenação curatorial de Nuno Abreu.
Nascido em Angola, Chisoka veio para Braga com um ano de idade. A cidade onde sempre viveu tem sido também o seu principal objeto de estudo na academia. A 20 de setembro, partilha com o público uma parte desse conhecimento.
Esta visita surge na sequência da anterior ou o teu percurso académico acabou por te levar a querer explorar esta dimensão também?
Eu acho que é uma confluência de fatores, A minha história de vida levou-me para este ponto, tanto a nível pessoal, como a nível académico, como a nível profissional. Há vários anos, trabalhei como guia intérprete e como mediador cultural.
Sempre em Braga ou noutras cidades?
Essencialmente em Braga. Fazia serviços para Guimarães, para o Porto, para o Gerês, para o Viana do Castelo, Alto Minho, Baixo Minho, mas grande parte do percurso foi feito em Braga. Juntando a isso o facto de ser investigador e doutorando em Estudos Culturais, áreas em que já trabalho dinâmicas de identidade, memória e espaço público, quando surgiu o convite da professora Rosa Cabecinhas [também investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade] para organizar a visita no âmbito do Congresso, percebi que fazia sentido, porque era algo que não estava a ser oferecido nem discutido no espaço público bracarense.
Mesmo a nível nacional, há visitas do género, mas muito mais pontuais. As que existem têm sempre uma carga muito mais ligada ao legado africano, não tanto à visão imperial total. O que tento fazer agora é mostrar os efeitos, tanto no Atlântico como no Pacífico, da colonialidade do pensamento atual e dos legados que vão ficando, não só a nível dos povos que foram escravizados ou subjugados, mas também os efeitos no ambiente, no género, nas dinâmicas identitárias a nível geral.
Lisboa, para além de ser a capital, é uma cidade portuária, por onde passou o tráfico de pessoas escravizadas e o comércio de produtos que vinham das colónias. A zona de Belém, por exemplo, foi desenhada em função deste ideário colonial. Braga, para além de não ter esta importância do ponto de vista administrativo, porque não era uma capital, também não era uma cidade portuária. Qual é o lugar de Braga neste legado colonial?
O lugar de Braga passa por duas dimensões muito importantes. Primeiro, o clero. Braga foi uma grande sede religiosa durante séculos, e ainda é, para todos os efeitos. Évora e Lisboa tiveram arquidioceses muito importantes, mas ao nível do pensamento, ao nível de seminários, Braga teve um papel muito vincado, logo a partir do século XV. Por exemplo, a primeira cruz celebrada no Brasil está aqui em Braga, e isso é muito simbólico. Braga foi também sede dos primeiros beneditinos, que partiram virtualmente para todos os países do mundo, na altura ainda não independentes, ou seja, a pegada portuguesa existiu sempre. Outra fase importante de Braga surge com o Estado Novo, e todo o pensamento do Estado Novo em relação às colónias e [a publicação do] ato colonial. A Revolução de 28 de Maio de 1926 parte de Braga, ou seja, Braga foi o ponto de incubação da ditadura militar e do Estado Novo - foi uma transição, praticamente com os mesmos quadros. E todo o colonialismo tardio é reforçado porque houve uma ditadura em Portugal.
Na sinopse da visita refere-se que ao longo dos séculos Braga foi parte ativa das redes de expansão colonial portuguesa. Em termos mais concretos, em que é que isto se traduziu?
No facto de haver pessoas que foram circulando de cá para as colónias e também no facto de ter havido pessoas escravizadas que aparecem nos registos da cidade, das paróquias, durante várias décadas em várias freguesias. Depois da Conferência de Berlim [acordos firmados em 1884-1885 pelos países europeus para coordenar os projetos de exploração em África], temos os irmãos [João e Sebastião] Roby de Braga, que foram líderes das campanhas de pacificação (também vou pretender desconstruir estes termos: campanhas de pacificação, descobrimentos, guerra colonial). Se virmos uma linha histórica, do século XV em diante, muitos dos navegadores passaram por Braga, porque a maior parte do ensino e educação era religiosa.
Há um exemplo de que não vou falar no tour, mas é muito paradigmático. Temos em Braga o Pero de Magalhães Gândavo, que dá o nome a uma rua em Maximinos, uma freguesia da cidade. Ambos os pais eram de Gante [ou Ghent, na Bélgica], daí o apelido ser Gândavo. Ele nasce e cresce em Braga e foi das primeiras pessoas a ir para o Brasil, onde descreveu a fauna e a flora. Braga, por não ter feito parte da administração central, tem essas pessoas individuais, que, sempre com a ajuda do aparelho estatal, estiveram em quase todo o lado ao mesmo tempo. E houve também algumas casas senhoriais, como o solar de Infias, que está relacionado com a expansão ultramarina desde o século XVII. A influência também se sente nos produtos: acho que o que se destaca mais, não sendo Braga uma cidade portuária, são os produtos coloniais que sempre passaram por Braga. Quase toda a alimentação que temos tem uma influência colonial.
Para além do exemplo que deste, do solar de Infias, há outras marcas arquitetónicas, de estatuária e de toponímia? Há essa presença em Braga também, mais visível, mais implantada ainda na cidade, no património?
Sim. Há inclusive um monumento colonial em Braga que tem o formato do mapa de África. Em Braga, há um padrão dos descobrimentos, algo bastante colonial. Braga tem um padrão construído já no século XX como tributo aos descobrimentos, porque há esta dimensão da narrativa do Estado Novo. Algo também óbvio é o facto de Braga ter três ruas de conotação colonial: a rua de Damão, a de Goa e a de Diu. No tour vou falar do facto de serem as únicas. Portugal colonizou metade do mundo, ou mais de metade do mundo, e as únicas três cidades [presentes na toponímia bracarense] são as da Índia portuguesa.

Registo do tour “Intersecting Histories: Colonialism and the Paths to Decoloniality in Braga”. Fotografia de Elisangela Barbosa dos Santos
Pela tua investigação, percebeste se essa escolha reflete alguma proximidade maior de Braga com a colonização nessa zona da Índia do que aconteceu, por exemplo, com a zona de Lisboa?
Não. O que eu poderia dizer nessa dimensão é que Braga é uma cidade muito virada para o Atlântico, para o Norte Global, para o Ocidente. Quem circula pelo espaço público e quem não souber que houve 500 ou mais de 500 anos em que a cidade fez parte do Império Ultramarino, e que grande parte dos territórios eram no Sul Global, acaba por não perceber porque a cidade é muito virada para o Atlântico. A nível arquitetónico, de dimensões, e até dos negócios com conotação colonial direta, que existem em menor número do que em Lisboa. A nível proporcional, se formos apreciar as dimensões das cidades, Braga seria um quarto de Lisboa, talvez um terço do Porto. Acho que a narrativa da cidade-discurso é isso: ter uma cidade virada para o Atlântico. Depois entram várias dimensões internas do país: Portugal Atlântico, Portugal Mediterrânico - dividido mais ou menos na Serra da Estrela e no Tejo também - e Braga posiciona-se muito nessa dimensão. A nível das instituições, estão muito representados no espaço público elementos dos Rotários, dos Lions, e também o facto de Braga ter sido capital iberoamericana, capital europeia da juventude, candidata a capital europeia da cultura, capital portuguesa da cultura, mas depois há um vazio enorme em relação à CPLP, aos PALOP. Em Braga temos ruas recentes com nomes um pouco coloniais, como Comunidades Lusíadas, e depois temos muita ligação à Galiza: existe a rua Rosalía de Castro, mas não há [referências a] pensadores ou pessoas do sul global. Também quando há, no país, é sempre o Simón Bolívar, o chavão fácil, o libertador da América do Sul. Há que explorar mais a criação de algo muito mais inclusivo, e já tem sido feito. Por exemplo, recentemente foi feito o Jardim Brasil, em tributo à comunidade brasileira, e há vários pontos de tributo à comunidade ucraniana, também justificado porque é uma diáspora que já se fixou há alguns anos e tem um forte dinamismo na cidade.
A história de Portugal tem sido contada, por cá, na perspetiva do colonizador, na perspetiva eurocêntrica e com muito pouca atenção para o impacto que todo este processo colonial teve sobre as pessoas colonizadas. Achas que a Academia tem procurado, e conseguido, contrariar um pouco esta lógica?
Sim, a Academia tenta muito fazer isso. Daí que, ao formular o congresso final do Migra Media Acts, pensámos muito nessa conexão com a sociedade, e é por isso que a visita surge. Seriam diálogos sobre vários temas, sobre a história do país e sobre as representações sociais, que é um conceito muito importante para nós. Depois houve o apagão, mas aconteceu na mesma. A última hora do tour foi durante o apagão. Claro que é sempre muito difícil chegar aos públicos alvo, e muito do que fazemos passa-se em escolas. Mesmo o projeto CONCILIARE – Confidently Changing Colonial Heritage, que está a colaborar com o PARAÍSO, é [sobre] a revisão do espaço público, dos manuais escolares. As imagens típicas dos portugueses quando chegam a um território novo, quando “descobrem”, mostram os povos nativos numa posição subjugada, mas sabemos que não foi assim, porque todos os contactos entre os mensageiros portugueses e os líderes locais eram feitos entre pares. Tanto que no século XV, século XVI, antes do apogeu da escravatura, houve imensa circulação de pessoas do Norte de Angola, atual Congo, para Coimbra, por exemplo. O primeiro estudante africano em Coimbra foi uma pessoa do atual Congo, por isso aquela posição de subjugação total e de surpresa não podia corresponder à realidade. Claro que há sempre avanços e recuos, porque o que falta em Portugal a este nível é um pacto de regime, e acho que também falta um regime sólido para se ter um pacto, por isso é muito difícil isto acontecer. Acho que a Academia está a tomar os seus passos, e eu sinto-me muito lisonjeado por ter esta responsabilidade de fazer o tour, porque a minha história de vida levou-me até aqui - nasci em Angola e vim para Braga com um ano de idade, ou seja, acabo por ter um hibridismo cultural, e este tour é criar um terceiro espaço, serve para criar uma terceira narrativa.
Essa representação do colonizador e das pessoas numa posição subjugada lembra-me a estátua, em Lisboa, do Padre António Vieira, que apesar de ter sido erguida já em 2017, reflete exatamente isso, o representante dos colonos portugueses perante pessoas infantilizadas, desumanizadas, subjugadas. Apesar da Academia estar a fazer esse esforço, são as esferas do poder público que tomam estas decisões sobre o espaço público, e tomam-nas com base em quê? Vocês são ouvidos quando estas coisas são pensadas?
Acho que o poder público conhece o nosso trabalho, mas tem sempre a sua própria agenda. Existem muitos think tanks académicos, com elementos do poder público, há muitos observatórios, e temos de pensar que muitos dos membros do poder público são também investigadores associados, investigadores visitantes dos centros de investigação, ou seja, vão às reuniões, estão nas mailing lists, sabem o que está a ser discutido, quais são as controvérsias do momento. Mas claro que a perpetuação dos estereótipos é algo que dá votos. Ou seja, se pomos o Padre António Vieira entre pares com uma pessoa originária do Brasil, quem vai votar? O público, o povo que vota, não vai perceber a mensagem veiculada, porque não é o que vem na missa, não é o que vem na história, não é o que foi contado pelos avós. Então perde essa dimensão. Por isso os políticos votam sempre pela semiótica fácil do que vai entrar na urna. E é por isso que é muito difícil desconstruir estereótipos, e podemos pensar isso também num lado privado: temos muitos logótipos ainda de marcas que são sempre reinventadas - por exemplo a Sical - mas acabam por reproduzir a fórmula de sempre, que é a mulher negra, forte, feliz, fértil, que está a usufruir de um produto fruto da escravatura.
Também queria mostrar que o Império teve mais vítimas do que as pessoas colonizadas, e isso também vai passar no tour, porque temos de pensar em toda a decadência humana, na miséria, perseguição e censura que houve com o Estado Novo. E o próprio Império esteve muito ligado à Inquisição, ou seja, foram várias centenas de anos de silenciamento total, em que houve alguma - pouca - luz durante a época mais liberal, depois da Guerra Civil entre D. Pedro e D. Miguel, e houve também uma esperança na altura de Marcello Caetano. Temos portugueses a ir para o Tarrafal, temos pessoas a passar a salto para França, para o centro da Europa. O Império termina - claro que sai muito debilitado e acaba formalmente com o 25 de Abril - oficialmente só com Macau, em 1999. Ou seja, acaba já na nossa geração, dos millennials. O Império é muito recente e a mentalidade colonial perpassa isso tudo. Há também imensos veteranos de guerra que foram para uma guerra acerca da qual nada sabiam.
Este ano assinalam-se os 50 anos das várias independências, e pelo menos aqui em Portugal, não parece que isso esteja a ser assinalado de forma muito visível. Esta data poderia ter sido aproveitada para aprofundar a reflexão sobre estas coisas?
Podia. A questão é que quando este tipo de celebrações é feito em Portugal, e isto é uma opinião pessoal, e evoca os vários países independentes agora, é muito na lógica do lusotropicalismo, dos povos irmãos, da excecionalidade portuguesa, [do país] que foi diferente e chegou primeiro… Se fosse feito cá, não sei qual seria o modelo ideal. Claro que mais devia ter sido feito porque uma coisa é dizer que são países irmãos, outra coisa é considerar as centenas de anos de ligação, não a melhor ligação de sempre, mas claro que a metrópole estava ligada às colónias, e se eram províncias ou colónias com um estatuto semelhante, pela retórica oficial, mereciam mais destaque. Mas eu acho que o legado português, porque cada colonizador tem o seu - a França tem o seu, a Bélgica tem o seu - infelizmente vai passar sempre por isso, por trazer o lado lusotropical, diferenciador, para a prática pública.
Referia-me a uma reflexão que tentasse até desafiar essa visão da excecionalidade do colonialismo português.
Eu acho que quando isso é feito, fala-se muito do período mais inicial do colonialismo, da escravatura, e claro que isso cria logo uma tensão. Depois fala-se muito da libertação e sabemos que aconteceu tudo no contexto da Guerra Fria, com aqueles blocos, fala-se de como a independência foi feita, se o processo correu bem ou se não correu bem. Acho que um processo, ou uma celebração que encarasse os estados como estados modernos equiparáveis, sendo feita tanto em Portugal como nos novos países e mediada exclusivamente pelos dois, ou seja, sem ser por um mediador externo, como as Nações Unidas, ia cair sempre na mesma ratoeira. Há que desconstruir, há que sair desse medo do lusotropicalismo, mas há que pensar um modelo diferenciado. Acho que a CPLP trabalha bem isso porque há o mesmo destaque para cada território, mas ainda há muitas tensões pós-coloniais.
Vimos a celebração dos 200 anos da independência do Brasil, há três anos. Acompanhei por alto, houve muitas críticas, mas depois o coração de D. Pedro foi para o Brasil e foi escoltado pela Polícia Municipal do Porto até lá, por isso há sempre aquela dimensão colonial, e acho que só o tempo dirá se alguma vez os países serão vistos como pares. Quando Portugal estava na altura da crise da troika, os países colonizados - Moçambique, Angola - interessavam. Agora, os papéis inverteram-se um pouco, os países estão mais em crise, Moçambique com tensões políticas, Angola com crise económica, e há uma inversão e os discursos que pensávamos que tinham sido passado estão a regressar. Eu, por ter uma história de vida imigrante, sei como foi a discriminação em Portugal nos anos 90, 2000, e agora vejo que o bode expiatório são os imigrantes do Indostão. Está a ser usada a mesma fórmula, a mesma retórica. E algo interessante é que estes territórios, também tiveram presença portuguesa, por mais breve que tenha sido, ou seja, houve entrepostos comerciais ou feitorias. Essa história global, que infelizmente não posso passar em duas horas e meia, senão não ia aprofundar nada, deve ser contada.
Também queria mencionar que é um espaço importante a nível de diálogo, sabendo os tempos em que vivemos a nível global e a nível da nova extrema-direita que tem surgido. São fóruns que podem desaparecer (espero que não) e devemos aproveitar.
Recentemente, houve nova discussão informal sobre a reparação às ex-colónias e de imediato a extrema-direita levantou grande ruído sobre o assunto. Está mais difícil, nos tempos que vivemos agora, ter este tipo de conversas, fazer este tipo de iniciativas? O diálogo está mais condicionado?
Estas iniciativas não existiam. Não existia o PARAÍSO, havia coisas muito pontuais que eram feitas pelas próprias diásporas e quem consumia era a própria diáspora. O PARAÍSO está na terceira edição. Há dinâmicas parecidas pelo país, se calhar não tão vocacionadas como o PARAÍSO. E vimos, por exemplo, que a Bienal de Veneza teve curadoria e artistas afrodescendentes. Finalmente chegou-se a um local de compreensão, de dizer que esta população existe no território e existe há mais de 500 anos no país. Foi uma ponte que nunca foi quebrada, ou seja, sempre houve permanência de indivíduos negros no território nacional e agora há essa carga institucional - na última década tivemos mais deputadas negras do que tínhamos tido no passado. Claro que no Estado Novo, quando havia, era a nível ideológico. Acho que estamos num momento muito parecido ao da I República, onde havia iniciativas negras no país, havia deputados negros, havia jornais negros, havia sociedades empoderadas, que trabalhavam, eram independentes. Como a história é cíclica e aprendemos sempre um pouquinho da história, acho que esta é a altura de fazer. Já se passou muito tempo a discutir, a formular ideias, e agora é altura de atuar. Na altura das reparações históricas, perdeu-se muito a mensagem porque o que o [Presidente] Marcelo quis dizer, e que toda a gente diz, seja a academia ou a sociedade civil, foi que se pensasse naquilo a que a colonização, a escravatura e todos os processos imperiais portugueses levaram. Nunca foi uma questão económica, uma questão de fazer contas, de vários biliões de euros ou mesmo contas irrisórias, acho que a solução foi sempre perceber o que pode ser feito. Por acaso na altura até achei interessante uma das propostas do Governo, de aulas grátis de tétum em algumas universidades portuguesas. Acho que seriam medidas muito interessantes, de perceber que o Império existiu até recentemente e temos milhões de pessoas que foram afetadas - como podemos equilibrar a balança? Claro que nem toda a gente foi privilegiada por causa do Império, longe disso, mas existiram vidas que ficaram prejudicadas a nível intergeracional. E a recuperação é muito difícil e temos de pensar que estamos num sistema capitalista, por isso se houver mais facilidade de acesso em universidades, mais facilidade de obtenção de vistos, mais facilidade em várias coisas… Claro que não quero pôr os membros da CPLP num patamar acima de outros imigrantes, pelo contrário, senão voltaríamos ao mesmo ciclo, arranjamos um bode expiatório para ser discriminado, mas [deve haver] uma maior circulação e uma maior compreensão.