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Da cultura

Por estes dias discute-se o facto do orçamento de estado destinar 0,25% ao setor da…

Texto de Redação

Fotografia de Bebot

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Por estes dias discute-se o facto do orçamento de estado destinar 0,25% ao setor da cultura. É muito pouco. Mas, apesar dos discursos sempre tão acalorados quanto frívolos, é sobretudo demonstrativo da pouca importância que a cultura tem para a classe política. Toda ela, diga-se.

A jeito de anedota, basta pensar que o NFT “Everydays”, uma obra de arte digital, foi vendido recentemente por 100 milhões de euros, ou seja, um terço do orçamento do Ministério da Cultura. O qual, nem chegaria para adquirir a pintura de Leonardo da Vinci, Salvator Mundo, que foi vendida num leilão por 450 milhões.

Para além do baixo financiamento estatal, acrescente-se a inexistência de uma sociedade civil que apoie e promova as artes. Os ricos portugueses não se interessam nada por cultura. É mais carros, iates e futilidades. Quando o fazem, é para obter benefícios fiscais ou, pior ainda, para esquemas e lavagem de dinheiro. Aliás, neste domínio, a história da relação entre arte e crime financeiro está por fazer. O jornalismo dorme.

A falta de apoio privado torna a cultura portuguesa totalmente dependente de um estado que a despreza e lhe concede meras migalhas. Em consequência, os artistas tornam-se subservientes, submissos, reverentes perante os poderes. São raros os artistas independentes, críticos, rebeldes. O que se reflete na cultura mole que é genericamente produzida.

Outro efeito perverso da miséria reinante é o excesso de localismo. A cultura portuguesa está cada vez mais portuguesa. Com as inevitáveis e poucas exceções, falta-lhe mundo. Isto na época da globalização e, no momento em que outros, nomeadamente na ásia, mostram a sua pujança. Por cá, não conseguimos ir além do fado e dos fugazes floreados inconsequentes.

A atração fatal pelas tradições e pelo passado resulta num evidente atraso tecnológico da nossa cultura. Estimulados por um discurso pseudo-humanista crítico das tecnologias digitais, a maioria dos nossos artistas e agentes culturais não vive ainda no século 21. Continua a produzir-se arte, teatro, dança, música, etc., como se o último meio século não tivesse existido. A Inteligência Artificial está a bater à porta, mas o pessoal continua à procura do seu ser muito íntimo, do gesto particular, igual a tantos, da emoção que para além de irrelevante é chata e piegas. E não são só os criadores que patinam na insignificância. É a corte de curadores, agentes, organizadores que consomem boa parte do parco orçamento estatal para benefício de ninguém, nem sequer dos próprios, que são bastante tristes porque controlando muito não realizam nada.

Noutro domínio, tipo outra galáxia, a cultura que tem emergido nas últimas décadas e dominará as próximas, está intimamente ligada ao desenvolvimento das tecnologias digitais. Os artistas, os criativos, têm aliás um papel fundamental nesse desenvolvimento. Não para humanizar as máquinas, que não precisam, mas para desenhar tendências. Até aqui, a tecnologia tem-se desenvolvido de forma aleatória motivada sobretudo pelo lucro imediato. Precisa de outro tipo de orientações. Acima de tudo, de evolução geral, para todos, humanos, animais e máquinas. Só a simbiose humano/máquina pode ajudar a resolver os enormes problemas que a vida neste planeta enfrenta. E, nesse esforço, para além dos engenheiros e dos cientistas precisamos ainda mais dos artistas. Em conclusão, os 0,25% do orçamento de estado são, mais do que revelador da miséria do país, um sintoma do atraso e desajustamento de quem pensa, gere e faz a nossa cultura.

-Sobre Leonel Moura-

Leonel Moura é pioneiro na aplicação da Robótica e da Inteligência Artificial à arte. Desde o princípio do século criou vários robôs pintores. As primeiras pinturas realizadas em 2002 com um braço robótico foram capa da revista do MIT dedicada à Vida Artificial. RAP, Robotic Action Painter, foi criado em 2006 para o Museu de História Natural de Nova Iorque onde se encontra na exposição permanente. Outras obras incluem instalações interativas, pinturas e esculturas de “enxame”, a peça RUR de Karel Capek, estreada em São Paulo em 2010, esculturas em impressão 3D e Realidade Aumentada. É autor de vários textos e livros de reflexão, artística e filosófica, sobre a relação Arte e Ciência e as implicações, culturais e sociais, da Inteligência Artificial. Recentemente, esteve presente nas exposições “Artistes & Robots”, Astana, Cazaquistão, 2017, no Grand Palais, Paris, 2018, na exposição “Cérebro” na Gulbenkian, 2019 e no Museu UCCA de Pequim, 2020. Em 2009 foi nomeado Embaixador Europeu da Criatividade e Inovação pela Comissão Europeia.

Texto de Leonel Moura
Fotografia Bebot
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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