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Opinião de Helena Mendes Pereira

Dar à arte o benefício da dúvida

Em pleno estado de emergência, pareceu-me urgente e obrigatório, desde o primeiro dia, que se…

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Em pleno estado de emergência, pareceu-me urgente e obrigatório, desde o primeiro dia, que se constituísse memória deste período e que se estabelecessem programas de incentivo à criação artística, que valorizassem os autores como os únicos capazes de pensar a montante, refletir por diante, ver mais longe. É cada vez mais pertinente que a arte de hoje seja o catalisador do espaço de reflexão que o tempo contemporâneo nos exige e que se desmistifiquem os caminhos criativos, permitindo modus operandi cada vez mais plurais e metadisciplinares. Pensar as artes nas suas relações, intrínsecas e extrínsecas, com as ciências, as tecnologias, as humanidades e as semióticas sociais é um dos caminhos mais promissores e desafiantes do presente, numa perspetiva de perceção da importância de democratizar o acesso e a apreensão das práticas artísticas, numa veiculação de uma ideia estruturante e missionária que é a de esta não ser, nem poder ser, única e exclusivamente das elites, mas para todos.

Ana Gadé Silva (PT, 1983) é uma alentejana que fez formação superior ao mais alto nível na área da farmácia, da epidemiologia, do marketing e do empreendedorismo social. Trabalha desde 2008 no INFARMED, I.P. Tem um olhar atento e responsável sobre o mundo e, sobretudo, tem um talento que vai para lá das áreas da saúde a que se dedicou. Encontrou na pintura um espaço de expressão e comunicação sobre o que a intriga e desperta, no contexto em que se insere e, no âmbito de um conjunto de ações da Semana Europeia do Antibiótico, aceitou a ousadia de olhar os vírus e as bactérias nos olhos em tempos de Covid-19. A artista acredita, ou pelo menos dá o benefício da dúvida, que a Arte e a forma como a experienciamos ou, simplesmente, o facto de a tomarmos como parte das nossas vidas, tem uma implicação positiva na nossa saúde mental e dá um contributo para o nosso equilíbrio interior e para a nossa inquietação de sobrevivência. Plenos de plasticidade e resultado de uma experimentação plástica bem conseguida, os trabalhos que apresenta convocam a pintura e remetem-nos para os caminhos da arte informal nos anos de 1970. O espaço bidimensional das propostas expande-se com ambição, recorrendo à assemblage de pequenos elementos minimais. A mimesis bacteriana é evidente mas, se olharmos a obra fora da atual expografia, ela adquire o teor quase de um tétris de um mapa mental que nos excita e questiona.

Quando nos conhecemos, no âmbito de uma partilha formativa, Ana Gadé Silva tinha dúvidas sobre o caminho a tomar: a saúde ou a arte. Quando me falou do atual projeto vi nele o seu propósito vida. Deixo-a, sem resposta, com a seguinte pergunta: e se os nossos médicos prescrevessem Arte (livros, exposições, espetáculos), experiências de consumo cultural para tratar maleitas e as nossas farmácias fossem menos de químicos e mais das coisas belas? A ideia não é minha mas alinhei-me com ela logo que a ouvi. Haverá lugar para este caminho? Afirmar isto a propósito de uma exposição em plena sede do INFARMED, I.P. não é coisa fácil e estou preparada para o contraditório mas a culpa é da Ana Gadé Silva que abriu o caminho ao vírus de um conhecimento mais holístico em que não é válida apenas uma resposta. Coube-me a mim, apenas, ser a indutora de mais uma utopia. Daremos à Arte, pelo menos, o benefício da dúvida.

-Sobre Helena Mendes Pereira-

É curadora e investigadora em práticas artísticas e culturais contemporâneas. Amiúde, aventura-se pela dramaturgia e colabora, como produtora, em projetos ligados à música e ao teatro, onde tem muitas das suas raízes profissionais. É licenciada em História da Arte (FLUP); frequentou a especialização em Museologia (FLUP), a pós-graduação em Gestão das Artes (UCP); é mestre em Comunicação, Arte e Cultura (ICS-UMinho) e doutoranda em Ciências da Comunicação, com uma tese sobre a Curadoria enquanto processo de comunicação da Arte Contemporânea. Atualmente, é diretora geral e curadora da zet gallery (Braga) e integra a equipa da Fundação Bienal de Arte de Cerveira como curadora, tendo sido com esta entidade que iniciou o seu percurso profissional no verão de 2007. Integra, desde o ano letivo de 2018/2019 o corpo docente da Universidade do Minho como assistente convidada. É formadora sénior e consultora nas áreas da gestão e programação cultural. Com mais de 12 anos de experiência profissional é autora de mais de 80 projetos de curadoria, tendo já trabalhado com mais de 200 artistas, nacionais e internacionais, onde se incluem nomes como Paula Rego (n.1935), Cruzeiro Seixas (n.1920), José Rodrigues (1936-2016), Jaime Isidoro (1924-2009), Pedro Tudela (n.1962), Miguel d’Alte (1954-2007), Silvestre Pestana (n.1949), Jaime Silva (n.1947), Vhils (n.1987), Joana Vasconcelos (n.1971), Helena Almeida (1934-2018), entre tantos outros. É membro fundados da Astronauta, associação cultural com sede e Guimarães e em 2019 publicou o seu primeiro livro de prosa poética, intitulado “Pequenos Delitos do Coração”.

Texto de Helena Mendes Pereira
Fotografia de Lauren Maganete

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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