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Flávio Almada: “Devemos recusar a geografia do medo”

Neste episódio da rubrica Entrevista Central, Flávio Almada, ativista e porta-voz do movimento Vida Justa, acredita que aqueles que habitam os bairros periféricos da área metropolitana de Lisboa são “acantonados em guetos”, como resultado de “mecanismos institucionalizados de domesticação”. Defende ainda a legitimidade de reivindicar melhores condições de vida e de ocupar as ruas: “Devemos recusar essa geografia do medo porque, afinal de contas, é legítimo aquilo que nós estamos a reivindicar. Nós trabalhamos, produzimos riqueza aqui e, no entanto, não há investimento em políticas públicas direcionadas para estas comunidades”.

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O Vida Justa nasce na Cova da Moura, no concelho da Amadora, com o intuito de construir sujeitos políticos que se mobilizam pelo fim do policiamento dos bairros e para exigir respostas a falhas estruturais na saúde, na habitação, nos salários e nos transportes: “acabámos por priorizar a construção do movimento porque houve uma senhora que nos disse: ‘temos de reparar o preço do gás, o preço da comida, o preço da habitação’. Foi por essa razão que nasceu este movimento que já tem um ano”. A necessidade de colmatar os problemas que a pandemia da covid-19 veio agudizar fomentou a discussão entre os bairristas: “Durante o confinamento, boa parte da população destes territórios andava a aguentar as cidades. Então encontrámo-nos na Cova da Moura para discutir sobre algumas formas [de luta], sobretudo sobre a questão do uso de Internet para promover ideias de combate”, recorda. 

A crise na habitação tem marcado particularmente as agendas pública e política, mas Flávio Almada reage a um problema já antigo: “A questão da habitação não é uma coisa nova para [quem mora nas] periferias e para as populações racializadas, africanas, ciganas, imigrantes. Desde há muito tempo que nós temos sido alvo de despejos e de demolições de várias comunidades”. O ativista acrescenta ainda que “a forma como a financeirização da habitação tem sido feita empurra os trabalhadores e os pobres para serem expulsos das cidades. São empurrados para a periferia da periferia, onde os equipamentos sociais são precários”. “As casas são húmidas, as casas são mais frias do que a rua. Não são só os negros que vivem isso, vários trabalhadores à escala nacional estão nessa situação”, alerta.

Para o porta-voz do movimento Vida Justa, o coletivo “acaba por ser uma plataforma que amplifica as vozes não ouvidas da periferia”. Debruça-se ainda sobre a ausência de representatividade de afrodescendentes em cargos de poder: “Portugal é um país super racista e essa questão, por exemplo, de como o racismo permeia a transformação social faz com que o negro ou a pessoa negra seja incorporada só se for para ser um negro doméstico, um negro obediente. Os negros no setor político têm sido usados para decorar”. “E a outra questão que se deve colocar: ‘é representatividade com substância ou representatividade só com cor?’”. Na sua opinião, é preciso uma representatividade que se traduza em políticas públicas direcionadas para essas comunidades.

Apesar do forte apelo à mobilização, o movimento enfrenta obstáculos que se refletem numa adesão que fica aquém das expectativas, de acordo com Flávio Almada. “O fator medo opera em vários eixos, não só na questão do terror da polícia”, afirma. A repressão policial, a criminalização do ativismo e as narrativas veiculadas pelos órgãos de comunicação social criam um clima de suspeição e de insegurança: “Sempre que há uma manifestação que envolve a periferia começam a ser produzidos artigos nos jornais e na televisão. [Pode ler-se] ‘polícia ameaça para o perigo e para a violência’, que é uma forma indireta de dizer ‘olha, não vão a uma manifestação’” 

Veja ou ouça a entrevista na íntegra aqui

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