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“Gente Remota”. Depressão e guerra colonial na nova BD de Francisco Sousa Lobo

O autor português Francisco Sousa Lobo serve-se da banda desenhada para responder a questões pessoais…

Texto de Redação

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O autor português Francisco Sousa Lobo serve-se da banda desenhada para responder a questões pessoais e entrar em territórios desconhecidos, como em Gente Remota, um livro que fala sobre memória, depressão e guerra colonial.

Gente Remota, que acaba de ser publicado pela editora Chili Com Carne, parte de entrevistas que Francisco Sousa Lobo fez a quatro ex-combatentes portugueses na guerra colonial.

A narrativa centra-se em José Ricardo, jornalista, que faz uma entrevista a um tio-avô, para que este lhe conte como foi combater em África. Na história, há ainda Irene, mulher, africana, empregada em casa do tio-avô e que sofre com o paternalismo e racismo do patrão.

A guerra colonial “é um tema que causa muitos fantasmas e muito silêncios em Portugal, que impede as pessoas de se reconciliarem com o seu próprio passado, por problemas de stress pós-traumático, por problemas de uma experiência muito infeliz que deixa marcas na personalidade”, explicou Francisco Sousa Lobo em entrevista à agência Lusa.

O autor disse que as histórias recolhidas junto dos ex-combatentes foram tão “brutais, perturbadoras e problemáticas” que teve de as transformar numa ficção.

O que se lê em Gente Remota é verídico, mas essa verdade está diluída numa narrativa ficcional, na qual são também convocados temas subjacentes a outras obras de Francisco Sousa Lobo: A reflexão sobre Deus e fé, dilemas éticos, a saúde mental.

Tal como aconteceu com o livro Deserto – Nuvem, sobre a vida dos monges da Cartuxa, em Évora, em Gente Remota Francisco Sousa Lobo também quer contribuir para o registo de uma memória sobre o país.

“Há pessoas a envelhecer, o assunto está a esquecer-se, há alguns a morrer. A necessidade de fazer o livro tem a ver com isso, se não é agora não é nunca. É preservar modos de vida e experiências que estão a desaparecer da memória pessoal e coletiva”, disse.

Francisco Sousa Lobo nasceu em 1973, em Moçambique, onde os pais davam aulas, formou-se em Arquitetura, que exerceu durante vários anos, e é nas artes visuais que se tem destacado, em particular na banda desenhada e ilustração.

Vive e trabalha em Londres desde 2005, expõe com regularidade e publica, em edição independente ou de autor, há cerca de duas décadas.

São dele as obras O andar de cima, O cuidado dos pássaros, Deserto – Nuvem ou Pequenos Problemas, que reúne bandas desenhadas que publicou de forma dispersa em várias publicações.

Há ainda uma publicação de caráter mais autobiográfico, ensaístico, intitulada Palácio, cujo quarto volume está em preparação, e no qual abre espaço para um discurso ainda mais pessoal sobre estética, crítica, arte, religião.

Para Francisco Sousa Lobo, a banda desenhada, e em particular Gente Remota, serve para chegar a territórios que desconhece.

“É um modo de eu ter ferramentas para entrar num mundo que me é interdito. Este livro foi isso, entrar num historial, numa narrativa de que eu nunca ouvi falar. É uma questão que me perturba imenso, o racismo estar aí diluído. É uma herança feia, que uma pessoa herda das pessoas que nos são próximas, na infância, na adolescência e há pouca capacidade e tempo para desconstruir narrativas, medos em relação ao racismo”, afirmou.

Há ainda a questão de, em tantas obras, Francisco Sousa Lobo falar de saúde mental, tendo ele próprio vivido um episódico surto psicótico, que daria depois origem ao livro O desenhador defunto.

“Ignorar as coisas da saúde mental é como não ler jornais, porque se está farto de más notícias. Na idade adulta isso não é saudável. A saúde mental faz parte da vida, deve ser falada, sem bloqueios, mas sem esta displicência de ignorar voluntariamente, só porque é repetitivo”, sublinhou Francisco Sousa Lobo.

O autor português, que fez Gente Remota com uma bolsa de criação literária da Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, tem vários projetos em mãos.

Está a fazer 40 ladrões, a partir de entrevistas e testemunhos de artistas cujo trabalho admira, e está a trabalhar numa história inspirada no historiador de arte Aby Warburg e no livro que publicou em 1923, intitulado O ritual da serpente.

“No meu livro será a história de um historiador de arte, velhinho, a preparar uma aula de jubilação, e é um rito de passagem. É um livro sobre arte, velhice, sanidade. É o meu livro mais são, com personagens sem grandes colapsos”, adiantou Francisco Sousa Lobo.

Texto de Lusa
Fotografia de Edvin Johansson via Unsplash

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