Após pouco mais de um ano da morte de Vasco Pulido Valente é hoje lançado o livro que conta as “42 longas conversas” que o jornalista João Céu e Silva teve com o polémico ensaísta.
A obra, editada pela Contraponto, dá a conhecer a visão de Pulido Valente sobre a História de Portugal assim como as próprias vivências do historiador, que faleceu a 21 de fevereiro de 2020.
As sessões de conversa terminaram cerca de um mês antes da sua morte mas, apesar da proximidade das datas, João Céu e Silva assegura ao Gerador que nenhuma pergunta ficou por colocar. “Quando a doença o impediu de continuarmos a conversar, já a minha investigação chegara ao seu objetivo a todos os níveis”, diz o jornalista. “Cada conversa com Vasco Pulido Valente gerava novas questões devido ao seu conhecimento profundo sobre os dois últimos séculos da nossa História. Creio que nada ficou por perguntar, até porque falámos durante cem horas e eu anotava todas as dúvidas para esclarecer logo que possível”, acrescenta.
Durante os vários encontros que se prolongaram por “mais de ano e meio”, Vasco Pulido Valente fez a análise dos acontecimentos mais marcantes da História e da política portuguesa dos últimos duzentos anos: das invasões francesas à implantação da República, da ascensão de Salazar até ao período pós-25 de Abril e aos dias de hoje. “O curioso é que ele não queria ser integrado enquanto pessoa na narrativa do livro, mas acabou por ceder quando lhe pedi que se socorresse das suas memórias vividas sobre a vida do país, bem como da sua intervenção social e política durante décadas”, diz João Céu e Silva.


O autor e jornalista confessa que o que mais o surpreendeu durante este período foi mesmo o facto de Pulido Valente ter aceite passar tanto tempo envolvido nas conversas “tendo em conta a personalidade irascível que lhe era atribuída”.
Personalidade essa que, aliás, se devia à “honestidade” e “seriedade” que mantinha enquanto comentador, na opinião de Céu e Silva. “Ele não ia além dos limites, apenas expressava o seu pensamento fundamentado pelo conhecimento da História e de muitas leituras, sendo que por essa razão as suas afirmações pareciam ser atrevidas num país em que raramente se diz o que se pensa”, diz.
Apesar disso, o autor assume que houve “muitas mais surpresas” que surgiram, “principalmente a nível das respostas” às questões que pretendia abordar: “o Portugal que temos hoje decorre diretamente das invasões francesas e da fuga do Rei D. João e da corte para o Brasil em 1807? Pulido Valente revê-se nesse fio da História e foi percorrendo todo o século XIX e as três primeiras décadas do século XX a mostrar exemplos de como o país se reestruturou e ainda hoje se mantêm muitas das reformas entretanto realizadas desde 1820 e anos seguintes”.
Este livro, que é hoje lançado, é o sexto volume da série “Uma Longa Viagem...”. João Céu e Silva admite não ficar por aqui mas reconhece que se torna “difícil” encontrar personalidades que possam “repetir o impacto que as conversas com, por exemplo, José Saramago ou António Lobo Antunes criaram em milhares de leitores”. Apesar disso, confessa já existir um “candidato” para futuras tertúlias.