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Lolo Arziki: “Se eu morrer agora, não morro infeliz”

Uma pessoa. De género não binário, ou seja, que não se identifica nos termos masculino…

Texto de Filipa Bossuet

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Uma pessoa. De género não binário, ou seja, que não se identifica nos termos masculino e feminino pré-determinados. A seu ver, “o género vai muito para além daquilo que a sociedade determina” e todo o seu trabalho tem sido refletir essa questão da raça, género e classe. 

Lolo Arziki é de todos os espaços por onde passa, pois deixa sempre alguma raiz de mudança para si e/ou para outros. É da Ilha de Santiago, da Ilha do Maio, em Cabo-Verde, de Portugal, Luxemburgo, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e de onde a arte que realiza se repercutir. 

Foi em Portugal que fez os seus estudos. Licenciou-se em Cinema pelo Instituto Politécnico de Tomar e tirou mestrado em Estética e Estudos Artísticos, na  Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. 

As conexões com o Brasil surgiram em Cabo-Verde. Estagiou nas produtoras de cinema negro, Odun Produções (São Paulo) e Rebento Filmes (Salvador da Bahia), trabalhou na curadoria de eventos como o Kilimanjaro – African Film Festival, em São Paulo, Independent Little Lies, em Luxemburgo, a Mostra Itinerante de Cinema Mahomed Bamba, na Bahia, sendo que este ano irá participar neste último projeto novamente, enquanto curadora. Reúne nomeações para o Prémio António Loja Neves, promovido pela FPCC – Federação Portuguesa de Cineclubes, menção Honrosa, no “Silicon Valley African Film Festival”, California (EUA). Recebeu o Prémio Estreia Mundial Televisão, no Avanca Film Festival — International Meeting of Cinema, TV, Video and Multimedia e o prémio Prémio Revelação Nacional, Plateau International Film Festival”, Praia, Cabo Verde. Realizou “Relatos de uma Rapariga Nada Púdica” (2016), “Homestay” (2016) e, agora, “Sakudi” (2020).

“Sakudi”, o seu último filme documentário, foi censurado em setembro de 2020, quando se candidatava a financiamento pela Associação de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde. A associação terá alegado que não entende como é que um filme que “será rodado na Costa de África, cuja a história relata a vida de jovens LGBTQIA+ no contexto cultural cabo-verdiano/africano, retratando o íntimo desses personagens e a relação das suas identidades com a sociedade e cultura do país”, está relacionado com a cultura cabo-verdiana.

“Sakudi" é uma palavra em Kriol de Cabo Verde que significa ‘mexer, movimentar, revolucionar’ e nós estamos aqui para SAKUDI o sistema de opressão machista, racista e homofóbico com uma proposta de narrativa lindíssima, que dá voz às dores e aos amores” – afirma em comunicado do sucedido, nas redes socias.

Neste momento, a artista desenvolve uma campanha de crowdfunding “como um planeamento estratégico para produzir este trabalho”, sem descurar a possibilidade de se candidatar a financiamentos internacionais. 

Entre Cabo-Verde e Luxemburgo, Luxemburgo e Portugal tece-se Lolo Arziki, cineasta e ativista pelos direitos LGBTQIA+ que, com vinte e oito anos, relata ao Gerador a história de uma “Rapariga Nada Púdica” que “Sakudi” mentes e mentalidades por onde passa.

Gerador (G.) - Estudaste Estudos Africanos durante um ano, mas percebeste que a paixão por artes era maior. Como surgiu o gosto pelas artes?  

Lolo Arziki (L.A.) - Na licenciatura de Estudos Africanos tinha uma cadeira de História de África e, nessa unidade curricular, estudávamos muito a arte negra. Por acaso, tínhamos uma boa professora de História de África, que nos deu o livro História da África Negra, do Joseph Ki - Zerbo. Ao ler esse livro, comecei a perceber que havia uma pluralidade em ser-se negro. Comecei a estudar a História da Arte em África, aquilo que a arte contemporânea eurocêntrica chama de primitiva, mas que de primitiva não tem nada porque, até hoje, é replicada. A partir daí, comecei a questionar: se desde essa altura já existiam pessoas interessadas em fazer arte, porque é que me iria esconder tanto numa carreira política que provavelmente não ia acontecer? Só que eu não tinha coragem de dizer à minha mãe que não queria o curso, mas sim estudar artes, então esperei que a minha mãe visse isso em mim. Quando vim para o Luxemburgo, disse-lhe que não queria voltar para Portugal e juntas procurámos cursos até encontrarmos a área das artes de espetáculo, e ela disse que este seria o mais indicado para mim. Era tudo o que eu estava à espera que ela dissesse. Fiquei a pensar se teria saída profissional e, como tenho tios na área artistística e que tiveram algum reconhecimento em Cabo Verde, ela disse-me: “se os teus tios deram certo, tu também podes dar certo; e se te sentires perdida, tens sempre alguém a quem recorrer”. Estudei Artes de Espetáculo com especialização em cinema e teatro, na Université de Lorraine, no norte de França — aí é que comecei a perceber o meu interesse por cinema. O cinema não surgiu de repente, porque não é tão óbvio para pessoas negras que é possível estudarmos cinema. As disciplinas de cinema fizeram-me entender que era isso que queria fazer da minha vida, e decidi fazer a licenciatura em Portugal, porque em França tinha a questão da língua e sabia que ia demorar mais tempo. Quando cheguei a Portugal foi muito mais fácil porque já tinha alguma base.

G. - Esse interesse de ir para Estudos Africanos, porque querias seguir uma carreira política, tem muito que ver com o teu entendimento enquanto pessoa negra e com todas as outras dinâmicas que surgem? 

L.A. - Totalmente. Acho que nunca cheguei a parar para pensar sobre isso, agora que me estás a fazer essa pergunta, porque foi exatamente na altura em que decidi rapar a cabeça, deixar o cabelo crescer natural. Foi na altura em que me descobri negra e que eu entendia o que era ser negra na diáspora. Eu achava que fazendo o curso de Estudos Africanos, me africanizava mais ou conhecia mais da minha identidade. Achava que era o caminho para a emancipação. 

Lolo Arziki com a amiga nos Santos Populares, em Lisboa, depois de ter rapado a cabeça pela primeira vez.

G. - Estudaste cinema documental em Tomar, como foi a experiência?

L.A. - O politécnico é de Tomar, mas o Polo de Tecnologias, onde está Cinema, fica em Abrantes, uma terra muito mais pequena. Foi uma experiência para nunca mais esquecer. Quando cheguei, havia duas pessoas negras que estavam a terminar o curso. Eu era a única pessoa negra colocada na primeira fase, depois chegou uma colega de São Tomé, que na altura não questionava a questão da identidade — o que é legítimo, porque nós não chegamos a essas questões ao mesmo tempo. Foi um processo muito solitário, as pessoas tinham uma curiosidade em relação a mim muito exótica, muito de fetiche, porque não é comum ver pessoas negras a estudar artes, quanto mais cinema, em Portugal. Parte-se de um princípio de que é uma área em que as pessoas negras não têm acesso. Foi muito complicado, tive situações de racismo quase quotidianas durante a minha licenciatura quer por parte de professores, quer por parte de colegas.  Foi uma experiência muito difícil, mas como na altura estava numa fase em que tinha feito algumas ruturas, mesmo no campo familiar, de entender que eu é que precisava de me aceitar e não os outros, já estava vacinada.  Foi difícil, mas não foi algo que me parecesse impossível porque já estava habituada a desafios na minha vida. Tinha 20 anos.

G. - Como se expressava essa curiosidade muito exótica e de fetiche? 

L.A. - Em Abrantes, ouvi coisas que sinceramente não tinha noção que fosse possível. Desde anedotas do macaco que confunde um bebé negro com outro macaco, até ao professor de Sociologia que perguntou à turma, enquanto dava a matéria de crime e de sociedade, porque é que as pessoas negras lutavam boxe e as pessoas brancas jogavam golfe. Ninguém sabia responder, até que ele disse que era porque as pessoas negras estão habituadas a ser brutalizadas. Era professor de Sociologia e Vice-Presidente do Instituto Politécnico de Tomar.

G. - Como reagias a essas situações? 

L.A. - Na altura, não tinha a maturidade que tenho hoje. Aquilo estava tudo muito à flor da pele e, portanto, a tendência que tinha era de o confrontar e questionar o porquê de ele estar a dizer aquilo, de me estar a desrespeitar, porque eu era a única pessoa negra ali. Lembro-me de que, na altura, ele disse-me “tu não és negra, és de cor”. Questionei o que é ser de cor, e ele disse-me “realmente tem razão. Uma vez fizeram uma roda com várias cores, giraram a roda, e todas as cores viraram brancas menos a preta”. Com isto, um colega acrescenta: “então agora vou chamar os meus amigos de cor, de pessoas sem cor”. Foi uma aula traumática, depois disso deixei de fazer aquela disciplina, porque não conseguia frequentar aquelas aulas. Só vim a concluir no recurso. Dei uma entrevista, na altura, para a rádio da escola e denunciei a situação, mas a entrevista não passou. Disseram que a direção não deixou passar. Foi aí que percebi que não era uma situação a levar adiante; precisava de terminar a minha licenciatura e ponto. 

G. - Acaba por ser uma coisa que tentas controlar porque é contra ti, mas que, ao mesmo tempo, existe independentemente da tua existência.

L.A. - Qualquer pessoa negra que frequente a academia tem um sentimento de impotência, porque a academia coloca-nos muitas limitações em termos de produção de conhecimento. Nós temos a nossa forma de comunicar, de escrita, que é algo cultural, identitário e que se constrói a partir de várias vivências que nós temos, e que as pessoas brancas que estão na academia não têm. Essas experiências são completamente desvalorizadas no campo académico e isso é muito frustrante para nós enquanto estudantes, limita muito a nossa capacidade de concluir as coisas no tempo que desejamos. É muito frustrante. 

G. - Terminaste a licenciatura em quanto tempo? 

L.A. - O curso era de três anos. Terminei em quatro anos porque o meu projeto de filme era suposto ser realizado em África. A meio decidi não fazer projeto final, estava a sentir-me usada porque a escola queria ter um projeto que fosse realizado no continente africano, porque há muito fetiche em torno do cinema africano. Comecei a sentir algumas relações estranhas e não consegui fazer mais nada naquele ano. Decidi ir estagiar em Cabo-Verde e, como eram seis meses, perdi um ano letivo. O estágio foi muito bom, foi muito necessário voltar a Cabo-Verde e encontrar-me dentro do campo das artes. Finalmente, sentia que tinha um lugar em que pudesse dizer que pertencia, em termos de liberdade de criação e expressão. Enquanto pessoa negra e LGBTQIA+ estás sempre num sentimento de não lugar.

G. - Que fetiches é que existem sobre o cinema negro?

L.A. - A hipersexualização do corpo negro, desde a forma como as reportagens são feitas quando se vai para comunidades negras, passando para as telenovelas, pela indústria pornográfica — que é a que mais alimenta a ideia do corpo negro como animalesco, violento ou  submisso à violência —, quase todas as obras sobre a escravatura contadas pela perspetiva da pessoa branca, que continuam a tratar o corpo negro como se ele procurasse a agressão e não fosse a vítima. A relação do corpo negro com a criminalidade…o que me deixa mais triste é ver autores negros a replicarem essa questão da criminalidade sobre o corpo negro. Comecemos a rever os nossos discursos. O que pretendemos com isso? Não consigo entender. Acho que já estamos noutra fase. 

Existem autores negros que reproduzem os estereótipos sobre o corpo negro, mas é verdade que a maioria das produções contemporâneos conscientes e que tratam a questão da representatividade negra, já têm atenção a isso, então trabalham para a desconstrução destes estereótipos do corpo negro no cinema. Temos exemplos de excelentes filmes, desde documentários a ficção. A Ava DuVernay é uma realizadora de quem gosto muito porque trata as coisas da raiz.  Para explicar porque é que o corpo negro é fetichizado nos Estados Unidos, ela pega na história do cinema.

A exotização da beleza. O que é que é um negro considerado bonito? É um corpo esculpido, muito escuro, com dentes extremamente brancos, e magro, ou é aquilo a que os brasileiros chamam “a mulata exportação”, o corpo negro de pele clara, com o rabo grande e cabelos cacheados. Que dança para seduzir o homem branco. É uma completa exotização não pensar no corpo negro como plural, como se não existisse diversidade entre nós. 

Vemos isso desde o filme “Nascimento de Uma Nação” (1915) do D. W. Griffith, que nós estudamos como sendo o pai do cinema e que somos ensinados a idolatrar. Nesse filme, há uma mulher branca que é violada por um homem negro, e depois a sociedade branca vem atrás do homem negro para matá-lo. Esta é uma das primeiras obras cinematográficas existentes no mundo. Como se pode imaginar, na altura não se contratava pessoas negras e, portanto, a personagem era encenada por um homem branco a fazer blackface. O blackface surge dessas representações. Recordo-me que quando estava na universidade e vimos o primeiro filme em que um ator negro é contratado para fazer papel de negro, todos os meus colegas diziam que ele era mau ator, que deviam ter continuado com o blackface. Diziam que pessoas negras não sabiam representar e perguntavam onde é que eles tinham estudado. A produção branca habituou-se a não ter pessoas negras a representar. 

G. - O ensino do cinema acaba por ser uma consequência daquilo que o cinema produz?

L.A. - Tive uma cadeira no mestrado que se chamava “Imagens Contemporâneas”, onde estudei cinema de propaganda em Portugal e pude perceber como a alienação é alimentada por essas produções. Em Portugal, na época do salazarismo, as pessoas eram obrigadas a assistir a essas produções e o cinema de propaganda mostrava que as pessoas negras, em África, estavam felizes com a colonização, que dançavam e tocavam batuque como agradecimento aos brancos que tinham ido a África civilizá-los. Isso é o cinema de propaganda. As pessoas que estavam em Portugal e tinham acesso a esse tipo de conteúdo, acreditavam naquilo sem questionar. Na Cinemateca portuguesa existem vários filmes sobre o cinema propaganda no salazarismo. A discussão racial não é feita se não passar pela questão da representatividade. As pessoas têm desvalorizado muito essa discussão da representatividade de “minorias” étnicas no cinema, porque não compreenderam ainda que não é possível discutir questões raciais se não se falar sobre as representações. O conhecimento de todas essas gerações foi construído através da televisão, rádio, filmes que só alimentavam o racismo. 

G. - Realizado em 2016, “Relatos de uma Rapariga Nada púdica”, é um vídeo performance sobre a experiência íntima e pessoal de se ser mulher e a sua afirmação sexual dentro do contexto cultural cabo verdiano. Como surgiu? 

L.A. - Tinha escrito um texto que era para ir para um Festival de Artes de Experimentação do Porto e, na altura, pedi que o texto fosse lido por uma mulher negra, mas só existia uma mulher negra e estava na produção. Pediram-me para fazer uma espécie de Audio Doc, e decidi fazer um vídeo.  Na época, estava a estagiar em Cabo-Verde e havia uma campanha da ONU para promover o respeito pela identidade de género e orientação sexual. Começou-se a discutir muito essas questões e percebi que os meus colegas de estágio eram muito homofóbicos. Quando surgiu essa oportunidade de fazer o vídeo, desafiei um colega que era muito meu amigo. Tínhamos a mesma vibe em termos de atividade, mas ele disse-me que se algum dia eu lhe dissesse que era lésbica, ele não ia conseguir continuar a ser meu amigo, porque não conseguia aceitar isso, era mais forte do que ele. Quando decidi fazer o “Relatos de uma Rapariga Nada Púdica”, convidei-o para fazer a câmera. Ele não sabia do que se tratava. Aquilo foi tudo gravado no momento, a única coisa que fiz foi ditar o texto antes, para que ele percebesse como eu queria que ele apanhasse. Ditei o texto e ele ficou congelado. Até pensei que ele pudesse sair, o que ia parecer pouco profissional. Acabou por ficar e gravámos. Foi assim que aconteceu. 

Depois disso, fomos beber um café e falámos sobre o assunto. Acabámos por distanciarmo-nos, mas, mais tarde, voltámos a falar e a relação melhorou. 

G. - Numa das falas da video performance dizes: “Certo dia, enquanto criança, acordei com o beijo de uma criança do mesmo sexo”.  Foi uma forma de expressares a tua sexualidade ou foi algo que realmente aconteceu?  

L.A. - Tudo o que conto no “Relatos de um Rapariga Nada púdica” foram coisas que realmente aconteceram. Porque é que resolvi escrever a partir dessa história? Porque essa história perseguiu-me por muito tempo. Não conseguia lidar com essa memória porque sentia-me suja, pecadora. Sentia que era algo que tinha feito de muito errado. Quando isso aconteceu, castigaram-me. Realizar esta obra foi a forma que arranjei de fazer as pazes com as minhas memórias. 

G. - Quantos anos tinhas quando isso aconteceu? 

L.A. - Devia ter uns sete anos.

G. - Foi uma forma de contares a alguém sobre a tua sexualidade? 

L.A. - Foi uma forma de dizer a toda a gente. Só tinha dito às minhas primas com quem dividia apartamento na época em que estava a estagiar na Ilha de Santiago, porque a minha família mora na Ilha do Maio. Todo o resto soube através do “Relatos…”. Eu tentei dizer, mas como ninguém me levava muito a sério, muita gente da minha família sempre achou que eu fosse maluca, porque tinha comportamentos um pouco diferentes da norma. Foi a forma que arranjei de dizer “estou a falar a sério, isto é a minha vida e eu preciso que vocês lidem com isto e que me ajudem a lidar”.

G. - Quais foram as reações?

L.A. - Houve quem rejeitasse e houve quem aceitasse. 

A minha mãe teve fases, acho que quando ela viu pela primeira vez, achou que aquilo fosse uma obra de arte e que não correspondia à minha realidade. Quando percebeu que era algo que estava a acontecer comigo, foi um processo, mas digamos que estamos numa fase muito melhor do que quando começámos. 

O meu irmão, dentro das suas construções de masculinidade, disse-me que preferia que assim fosse do que se ficasse com homens. Ele disse: “que alívio”. 

O meu pai foi a pessoa que agiu de forma mais natural. Disse-me: “nunca faças ninguém rir para tu ficares a chorar; tens de fazer aquilo que te faz feliz. A mim, não me faz diferença”. Eu não estava à espera porque nós não tínhamos uma relação muito forte, porque, quando ele se separou da minha mãe, foi viver para os Estados Unidos e só o vi quando tinha 21 anos. Para ser sincera, a opinião dele não é muito importante, se ele dissesse que não, era igual para mim. Não estava à espera da aprovação dele porque não achava que ele tinha esse direito, mas aproximámo-nos muito por causa da aceitação dele. 

G. - Falas também sobre sexualidade infantil, algo que é pouco falado, até censurado. Quando dizes que metias a mão na cueca… com que idade isso aconteceu? 

L.A. - Se olharmos para trás, vamos perceber que este não é um tema inventado agora, e que os nossos corpos vieram dessa experiência, então porque não falar sobre isso? Não falar é muito perigoso. A tua sexualidade

começa a manifestar-se, tu podes experimentar com pessoas erradas e sofrer de abuso sexual. Assim como se tenta explicar às crianças como não comer tudo de uma vez, porque depois ficam sem nada para comer, e se arranja uma linguagem infantil para falar sobre isso, é necessário usar essa linguagem para falar sobre sexualidade. Ao não explicar, expomos as nossas crianças ao risco, sobretudo quando há crianças e adolescentes a viverem no mesmo espaço, porque são duas pessoas sem maturidade a terem a mesma questão. A diferença é que o adolescente tem mais poder sobre a força física do que a criança. Se o adolescente e a criança não tiverem essa questão trabalhada, o que é que pode acontecer nesse ambiente? Num momento em que as duas pessoas têm a questão da sexualidade a manifestar-se, há muitos casos de adolescentes que exploram a sua sexualidade a partir de crianças, porque não há uma educação sexual. A educação sexual precisa fazer parte do nosso ambiente familiar, sobretudo porque sabemos que, dentro do contexto familiar, há muito a questão da violação. Não se fala sobre isso, porque não é conveniente. São raras as pessoas que não viram ou sofreram abuso sexual dentro do contexto familiar.

G. - Tocaste neste assunto propositadamente ou foi uma temática que surgiu durante ou após a obra estar feita?  

L.A. - Nessa questão toquei propositadamente porque, como referi, estava a fazer as pazes com as minhas memórias. Foi algo de que eu precisava falar. Não é muito usual dizer-se “brincar à abelha rainha e o zangão”, isso foi uma questão que fui pesquisar para dizer uma coisa sem ter de a dizer exatamente.  A “abelha rainha e o zangão” têm que ver com uma violação. Não dava para falar de tudo de forma tão aberta porque as pessoas não estavam preparadas, eu sabia para que público estava a falar. Sabia quem é que ia ter mais acesso a esse conteúdo, por isso é que uso símbolos. Isso é algo identitário. Tenho esse hábito de usar símbolos porque há coisas que nós não podemos dizer de forma tão aberta e brusca, porque choca demais as pessoas. Quando as pessoas se chocam, a tendência é não enfrentar aquilo porque toca nos seus traumas. Sei que alguma pessoa vai ver aquilo e vai identificar-se através desses símbolos. 

Eu tenho muita facilidade em falar de coisas que me aconteceram, mas quando o assunto toca a terceiros, já é muito mais complexo porque cada pessoa tem o seu tempo para lidar com os seus traumas. Eu necessito de fazer isso porque a arte é a minha forma de cura. Não faço terapia e sei que devia fazer. Quanto muito medito, quando posso.  

G. - A tua mãe emigrou para Luxemburgo para te ajudar a pagar a universidade. Achas que o cuidado que os pais têm em querer que estudemos tem que ver com o preconceito que pessoas negras vivem?  

L.A. - Sim, tem tudo a ver, e também com o medo que os nossos pais têm de sofrermos aquilo que eles já sofreram. A minha mãe sempre quis muito estudar. No Maio, sempre vivemos da agricultura. Logo após a fome, o meu avô emigrou para Luxemburgo e foi com a emigração que ele conseguiu pagar os estudos de todos os filhos. Como a minha mãe era a mais velha, tinha de tomar conta dos irmãos e, por isso, não tinha tanto tempo para estudar — estudava às escondidas. Antes de sair de Cabo-Verde e após a Independência, a minha mãe dava aulas de alfabetização a adultos, e o meu pai era enfermeiro. Tínhamos uma vida estável. A minha mãe não emigrou por questões financeiras, emigrou porque a minha irmã tinha um tumor na perna e, na época, não existiam condições de tratamento em Cabo-Verde. Quando chegou a Luxemburgo viu que não podia concretizar os sonhos que tinha começado em Cabo-Verde, porque o sistema escolhia o lugar em que ela podia ficar. Teria de trabalhar para sobreviver, para pagar as contas do hospital e para sustentar os filhos que deixou em Cabo-Verde. Foi obrigada a largar todos os sonhos que tinha. Nesse sentido, quando ela investe na nossa educação, ela quer que nós sigamos aquilo que ela não teve a oportunidade de seguir. Que tenhamos a capacidade de questionar aquilo que determinam que devemos fazer. Ela sempre nos ensinou muito a questionar e a lutar pelos nossos objetivos. Se não fosse a emigração, talvez nunca conseguiria estudar, porque nunca tive direito a bolsa em Portugal. 

G. - Entretanto, foste trabalhar. Sentias algum peso de teres de ser muito boa no que fazias porque sabias que a tua mãe estava a trabalhar para te dar melhores condições de vida? 

L.A. - Até hoje ainda sinto esse peso. Não tanto pela minha mãe, porque ela dá-me muita liberdade. Ela é a pessoa, na minha vida, que diz “chega, não te podes sobrecarregar dessa forma”, mas eu sinto isso por essa pressão que o sistema aplica sobre nós, de termos de ser sempre os melhores. Eu tenho pânico de ficar uma semana em casa sem fazer nada, porque começo a sentir-me inútil e a sentir que estou a deixar as coisas para trás. É uma coisa que sei que tenho de trabalhar porque não dá para viver nessa pressão. Tanto que, mesmo depois de conseguir uma bolsa de estudos em Luxemburgo, sempre trabalhei em todos os verões. Às vezes, pergunto-me porque é que fiz isso. Sentia que, quando estava de férias, na minha cabeça estava a gastar o dinheiro da minha mãe à toa. Isso sempre causou conflito entre mim e a minha mãe, porque ela nunca gostou que eu o fizesse. Sempre fiz contra a vontade dela. 

G. - Em entrevista ao canal Qi, em 2018, disseste que, quando moravas em Cabo Verde, equiparavas Portugal a um “American Dream”. Qual é a tua perspetiva atual? 

L.A. - Olhando para trás, parecia que estava no mundo das barbies a brincar, e que não conseguia sair desse mundo. Esse sonho era alimentado pela questão que nós tanto falamos hoje: a falta de representatividade. Mas não foi uma ideia que me surgiu de repente; antes da minha mãe emigrar, Portugal não era um assunto para nós. Não pensávamos sobre a Europa e nem tínhamos isso como referência. As nossas referências eram Cabo-Verde, as nossas vidas, a nossa vizinhança. Quando a minha mãe emigrou, eu fui morar com os meus avós para o Maio, precisava de ter uma referência da minha mãe porque não a via. No início não tínhamos eletricidade e, portanto, brincávamos na rua, à luz da lua, e quando ligaram a eletricidade, a minha mãe mandou uma televisão. Nessa TV passavam telenovelas portuguesas e eu associava Lisboa à minha mãe, e achava que aquilo seria a minha vida quando chegasse a Portugal. Quando és criança não colocas em causa a possibilidade de te estarem a ocultar uma realidade, a tendência é acreditar que todos os adultos dizem a verdade. Toda aquela fantasia foi construída a partir dessas representações. 

G. - Às vezes, tens vontade de voltar a esse “mundo das barbies”? 

L.A. - Várias vezes. Não tenho vontade de voltar à minha infância porque cresci na ausência dos meus pais, mas tenho saudades da alienação [risos]. Não tinha de me preocupar tanto. 

G. - Que outros elementos da tua existência se expressam na tua arte? 

L.A. - Há uma questão que eu gostaria muito de trabalhar futuramente e que ainda não trabalhei sobre, a emigração. Perceber como os corpos se passam a entender e como se expressam depois da travessia da Europa para África. 

G. - E que elementos não se expressam na tua arte?

L.A. - Questões que ainda reservo para o campo pessoal e que nem pretendo trazer para a minha arte, porque é algo muito pessoal. Tenho de preservar alguma intimidade. 

G. - São coisas que sentes que ainda tens de maturar? 

L.A. - Eu não posso falar sobre tudo. Existem outras pessoas com as mesmas experiências que irão falar sobre isso. Prefiro ler ou ver trabalhos de outras pessoas sobre esses assuntos. Não tão íntimo quanto outras questões que me vêm à cabeça, mas o colorismo, uma questão muito forte. Provavelmente pode estar dentro de um trabalho meu, mas tenho a certeza de que não me vou debruçar 100% sobre isso.  

G. - Não tens de ser tu só porque há outras pessoas a fazerem?

L.A. - Não só, mas também porque não tenho disponibilidade emocional. Não consigo mais. É muita coisa.

G. - Falas muito das tuas vivências e elas acabam por ser uma forma de cura. Como é que acontece o teu processo criativo em termos técnicos? 

L.A. - “Relatos de uma Rapariga Nada Púdica” é um vídeo que não tem uma preocupação técnica muito grande. Os recursos eram limitados e eu não tive total controlo sobre a direção da câmera, o que me deixa muito frustrada até hoje, porque quando tenho controlo, as coisas correm minimamente como eu sei que funcionam. Gravei o áudio com o telemóvel. Foi uma produção muito experimental e sempre gostei de fazer trabalhos muito experimentais. Até ao “Relatos…”, explorava muito a arte abstrata, não tinha personagens e trabalhava mais com exposição de objetos simbólicos — tanto que os outros trabalhos, que tenho antes, foram expostos em poucos espaços, porque são muito  conceptuais. “Relatos...” foi feito de uma forma muito experimental, tinha que ver com as minhas inspirações no cinema. Tinha um interesse muito grande pelo cinema direto, que se relacionava com a experimentação da  desconstrução da estética e da técnica com regras. É um cinema que é feito depois da crise da ll Guerra Mundial, em que muitas pessoas queriam falar, mas não tinham recursos económicos para produzir. É feito no ciclo underground e havia muita coisa por dizer naquela época. Produzia-se com pouca qualidade técnica, mas a nível da narrativa era tudo muito bom. Era assim que eu produzia porque sabia que, em termos de materiais, os meus recursos eram muito limitados.  

G. - Realizaste a produção de “Homestay”, “um documentário sobre turismo rural em Cabo Verde” que retrata mulheres chefes de família da Ilha do Maio que recebem nas suas casas hóspedes interessados num tipo diferente de turismo. Os turistas ouvem histórias sobre a vida das mulheres e os segredos da ilha, em vez de pagar alojamento. Como aconteceu essa produção?  

L.A. - Muita gente me pede para disponibilizar o “Homestay” online. Eu não estou a disponibilizar o HomeStay porque há uma questão para resolver, em que as mulheres não estão a ser beneficiadas com o programa como deviam ser. A organização Fundação My biodiversidade é que gere o programa “Homestay”. Só volto a falar do “Homestay” quando o dinheiro for 100% para a renda dessas mulheres.

G. - E o filme “Sakudi”, conta-nos

L.A. - "Sakudi" é uma longa documental sobre jovens LGBTQIA+ em Cabo Verde, cujo objetivo é fazer um retrato íntimo, desde as suas personalidades à forma como encaram a sua identidade de género e orientação sexual, até a sua relação com a sociedade e cultura. É um retrato de cada história. 

Temos um casal de lésbicas, uma personagem bissexual, uma personagem trans, uma personagem gay, outro em transição e uma personagem que se identifica como Queer. Ela não rotula a sua sexualidade porque acha que ainda está em construção. Exploramos estas personagens através de uma linguagem experimental incluindo entrevistas, performances e um pouco do quotidiano de cada uma. Cada personagem traz um elemento com a qual vamos explorar a sua relação com. 

O filme tem uma proposta muito interessante a nível de imagem e faz-nos sair um pouco sobre aquilo que se espera das vivências LGBTQIA+. Não esperem um filme apenas sobre dores e sobre rejeição. É sobre isso e muito mais que constrói uma pessoa.  Vai ser produzido pela produtora Kori Kaxoru films, que tem trabalhado a questão da identidade de Cabo-Verde. 

G. - Como conheceste estas pessoas? São pessoas residentes em Cabo-Verde?

L.A. - Sim. Eu criei o projeto “Sakudi” na diáspora. Quando vim viver para Luxemburgo, conheci um movimento muito interessante da comunidade Queer negra e tive contacto com a comunidade noutros países como França. Comecei a escrever o “Sakudi” através do conhecimento dessas comunidades negras da diáspora. O objetivo é que seja um projeto amplo, uma série de documentários que começa em África e que depois venha para a diáspora. 

Conheci-os de diferentes formas. A personagem Gay, conheci porque na altura estava a passar uma temporada com a minha ex-companheira em Cabo-Verde, ele é vizinho dela e amigo de infância. O Fábio Silva é uma personagem muito performática, uma personagem que vês e pensas que ele tem de estar nas telas de cinema, porque é uma performance em pessoa. É uma figura muito interessante porque não se veste nem masculino nem feminino, tem uma figura muito andrógina e isso é o que me interessa mais. É coordenador de um grupo de carnaval e, portanto, é uma personagem de muita folia.

A Patrícia Soares, a personagem trans, é muda. Conheci-a numa fase em que estava com o projeto praticamente concluído, foi a última personagem que introduzi. Estava numa festa, vi essa pessoa chegar e apaixonei-me por ela, pela forma como estava vestida e dançava. Fui ter com ela, não sabia que era surda e muda. Ela achava que eu era um rapaz, então não quis falar comigo, disse-me que estava com um rapaz [risos]. Chamei a minha ex-companheira, fiz o gesto e tentei explicar-lhe, mas eu achava que ela estava a fazer gestos porque estava muito barulho, só que ela verbalizou um som e aí percebi. Aí apaixonei-me totalmente por ela, iniciei a perseguição, pedi-lhe o Facebook. Fui várias vezes atrás dela, até conquistar uma amizade, para depois conseguir que ela participasse no “Sakudi”. 

A personagem bissexual, a Vanisa Tomlinson, descobri-a em grupos do Facebook LGBTQIA+ de Cabo-Verde. Deram-me o contacto dela num anúncio em que dizia que estava à procura de pessoas bissexuais, que estivessem interessadas em fazer parte de um filme. Fui descobrindo quem ela era e, quando soube que ela era adventista de sétimo dia, interessou-me essa questão. Vamos explorar a questão da sexualidade no contexto religioso. Como ela lida com a sexualidade sendo uma pessoa crente de uma religião que não aceita homossexuais.

O casal de lésbicas, Idânia Neves e Êlis, já conhecia, porque enviaram-me mensagem a dizer que se sentiram muito inspiradas com o “Relatos de uma Rapariga Nada púdica” e queriam conhecer-me. 

São histórias muito fortes, não posso dar spoiler, mas quem se identificou e ficou impressionado com o “Relatos...”, acreditem que mais impressionados irão ficar com este filme porque é muito para além do “Relatos…”.

A personagem em transição, Ima,conheci na vizinhança do lugar onde vivia. Ela é uma pessoa em transição porque tinha medo da rejeição da mãe, no entanto, ficou órfã. Em Cabo-Verde há uma cultura de luto muito forte, e há algumas coisas a respeitar quando estás de luto, então essa personagem é explorada a partir dessa relação de conflito entre a transição e o luto. 

G. - Recebeste algum tipo de ameaça por dares continuidade ao filme? 

L.A. - Não. Eles não têm essa audácia porque sabem que, se fizerem alguma ameaça, eu vou expor isso. Eu posso morrer, mas toda a gente vai saber. Todas as gravações vão ser feitas em Cabo-Verde. 

G. - Que melhorias achas que deviam existir nos concursos a financiamento? 

L.A. - Quotas. Tem de se criar políticas públicas para os editais, quer para pessoas negras, quer para pessoas Queer. Esses editais têm tendência a serem normativos e não dá mais. Este ano a academia dos Óscares vai dar prioridade a filmes dirigidos por pessoas negras e Queer; agora os editais que tomem esse exemplo. Por algum lado tem de se começar. Aqui em Luxemburgo existem algumas políticas públicas para pessoas LGBTQIA+, mas estamos a falar de um país em que o primeiro ministro é assumidamente gay e casado. As pessoas LGBTQIA+ têm acesso a mais coisas, como por exemplo o casamento que pagas menos do que uma pessoa heterossexual, porque já se sabe que as nossas condições não são equivalentes. 

G. - Quais são os maiores constrangimentos de se viver da arte? 

L.A. - Não há muita produção cinematográfica Queer e, por isso, não há muito trabalho nesse sentido. As pessoas relacionam-nos sempre a produções Queer, então acham sempre que tu não és capaz de fazer outra coisa. 

Dentro do mercado cinematográfico há muito assédio sexual, porque o cinema é dominado por homens, principalmente por homens cisgénero. Quando és assumidamente uma pessoa lésbica, passas a ser uma pessoa que não se vai relacionar com essas pessoas, para atingir a fama, logo és uma pessoa que não lhes interessa muito. 

Ser artista Queer e Negra é ter de produzir e lidar com todas as questões que afetam a tua saúde mental. Não é fácil. 

G. - Já tiveste de recusar? 

L.A. - Sim.

G. - Consegues encontrar um propósito geral na tua arte? 

L.A. - O meu propósito é transformar. O mínimo que conseguir já faz toda a diferença. [Silêncio] Se eu morrer agora, não morro infeliz, porque com a repercussão de “Relatos de uma Rapariga Nada púdica”, mesmo com as produções censuradas ou com a repercussão de “Sakudi”, já deu para as pessoas perceberem que realmente podem fazer alguma coisa para mudar a sua situação.

Texto por Filipa Bossuet
Fotografia da cortesia de Lolo Arziki

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