Os Birds Are Indie nasceram em Coimbra, em 2010, entre Ricardo Jerónimo e Joana Corker, que se apaixonaram em 1998, e aos quais se juntou Henrique Toscano, um amigo de longa data. Banda independente, tem-se afirmado junto do público e da crítica, bem como tocado por todo o país e por Espanha, onde apresentam a sua forma singular de estar em palco.
Depois de, em 2020, terem assinalado 10 anos de uma peculiar carreira, que inclui vários EPs e 5 discos, 2023 trouxe consigo o lançamento do 6º longa-duração "Ones & Zeros", gravado no estúdio da Blue House e editado pela conimbricense Lux Records. Traçando uma nova fase no seu percurso, este é um álbum conceptual habitado por personagens presas entre mundos, divididas nas suas vontades, simultaneamente eufóricas e desfeitas.
Na gravação, o trio focou-se mais na intensidade do que nas harmonias e se envolveu mais na massa sonora do que na delicadeza dos arranjos. O resultado são 10 canções que, não perdendo uma certa essência pop, misturam guitarras distorcidas, caixas de ritmos dançantes, sintetizadores analógicos, bateria e baixo pujantes, aos quais se somam vozes mais ríspidas e roucas que o habitual, a servir a urgência das letras. Estas, muito carregadas de estímulos absorvidos no cenário pandémico, apresentam uma visão artística que toca em inquietações distópicas, na relação com a inteligência artificial e na ambivalência entre o mundo real e virtual.
A banda estará em digressão por Portugal com concertos nos dias 7 de setembro em Figueira da Foz (Gliding Barnacles), 16 de setembro, em Covilhã (Teatro Municipal), 13 de outubro em Portalegre (CAE) e 14 de outubro em Setúbal (Casa da Cultura).
Esta é a lista de 10 músicas de autores portugueses que os artistas partilharam connosco notas que justificam as suas escolhas:
A Jigsaw - “The Greatest Trick”
“Esta banda, composta pelos dois criadores da Blue House (um estúdio de gravação e casa de criação e equipa de produção, em Coimbra) já não edita nada desde 2014, mas os seus membros mantêm-se activos. O João Rui, editando discos a solo ou colaborativos, como John Mercy, com a Tracy Vandal, ou inspirando-se no “On the Road”, do Kerouac, enquanto também trabalha no som de discos de Raquel Ralha & Pedro Renato, Victor Torpedo e nos nossos. O João “Jorri” Silva, a providenciar condições para não apenas nós, mas bandas como Eigreen, From Atomic, Filipe Furtado, Wipeout Beat, entre muitas outras, iniciarem ou continuarem a traçar o seu caminho.”
Cave Story - “Unexpected Advantage”
“Este quarteto, que começou como trio, é uma das bandas portuguesas que transporta consigo algumas coisas com que me identifico, como a inspiração lo-fi, alguma ironia/acidez nas letras e o som muito texturado. Esta música em particular deixa à vista um claro duelo/diálogo de duas guitarras, como acontece em algumas das bandas que mais gosto (e, quem sabe, eles também), como The Velvet Underground, Ultimate Painting, Luna, Television e Parquet Courts.”
Clã - “Tudo no Amor”
“Os Clã são um exemplo de longevidade, bom gosto e simpatia. A sua gentileza é tal, que nos convidaram aos três para tocar uma canção nossa com eles, aquando de um concerto seu, no Salão Brazil, em Coimbra. Claro que ficámos a assistir, deliciados, ao restante espetáculo, no qual está “Tudo no Amor”. Pela sua simplicidade desarmante, foi um dos pontos altos.”
D3o - “Tam Tam Tam”
“Os d3o ensinaram-nos, em gravação e em palco, a magia que um trio pode conter e libertar. Urgência, suor, sorrisos e, claro, volume no máximo. Esta faixa é do EP de estreia e, depois de, algures em 2003, ouvida na Rádio Universidade de Coimbra, a Joana foi logo comprar o disco.”
Gabriel Ferrandini - “Rua Nova da Piedade”
“Ver um concerto do Ferrandini é hipnotizante. Corpo e instrumento parecem ser um só, ora frenéticos, ora enleantes. Não é bateria, é corpo em percussão. Eu e a Joana já o vimos várias vezes ao vivo e é sempre inspirador.”
José Valente - “Os Pássaros Estão Estragados”
“Além de músico extraordinário, é já um amigo, que venho acompanhando há 10 anos. Não se fechando a experimentações, também não se importa com caminhos fáceis, apenas persegue os que lhe asseguram total liberdade, esperando que esta busca contagie quem o ouve. Ao vivo, surpreende-me desde a primeira vez que o vi em palco, no interior do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra.”
O Manipulador - “If You Ruled The World”
“Este é o projecto a solo do Manuel Molarinho, que também integra bandas como Baleia Baleia Baleia, Burgueses Famintos ou o trio do Daniel Catarino. Além de óptimo músico e performer, é um insaciável exemplo de “do it yourself”, mas sempre em comunidade(s), como a Saliva Diva. Vi-o recentemente ao vivo no “Café Curto”, um ciclo de showcases que ajudo a organizar, em Coimbra. Munido apenas com a voz, o baixo e uma série de pedais de efeitos, constrói canções que tanto têm de rock, como de sonoplastia.”
Tédio Boys - “Shake Shake”
“Coimbra, meados dos anos 90, éramos nós os três adolescentes semi-inconscientes. Os Tédio Boys e o seu gangue dominavam o imaginário (e a prática) rock'n'roll conimbricense. Mas, não contentes com isso, sempre quiseram deixar bem marcada a sua passagem por outras terras, incluindo em tours nos EUA. Foram um exemplo de rebeldia e inconformismo, mas também de encarar o público de frente e de ter na música um modo de vida.”
The Dirty Coal Train - “Walking On My Grave”
“Eu e a Joana já gostávamos desta banda de Viseu e já os tínhamos visto ao vivo algumas vezes, mas foi num concerto em São Pedro de Moel que ficámos extra-fãs. Infelizmente, já terminaram actividade, mas estão para sempre entranhadas em nós a bateria-locomotiva do Carlos Ramos (também conhecido por Suave ou pelos Nicotine's Orchestra, que nos deram recentemente a honra de tocar connosco no Barreiro), as guitarras voadoras do Ricardo e a voz gutural da Beatriz.”
Wolf Manhattan - “Dead Funny”
“Sempre acompanhei os outros grupos do João Vieira (X-Wife e White Haus) e este novo projecto conquistou-me logo. Segue um caminho mais longe da electrónica e das pistas de dança, mas tem alguns pontos de contacto, como são o instinto aparentemente natural para fazer boas canções e uma boa mistura entre um certo minimalismo nos meios e a quantidade certa de complexidade nos arranjos.”
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