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“Meu Bairro, Minha Língua” nasceu para “descentralizar” o idioma e unir culturas

Meu Bairro, Minha Língua nasceu como música mas tornou-se um movimento em prol da quebra de…

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Meu Bairro, Minha Língua nasceu como música mas tornou-se um movimento em prol da quebra de barreiras geográficas, que ainda são intrínsecas aos povos falantes de Língua Portuguesa. Vinicius Terra, rapper brasileiro e promotor de várias iniciativas no âmbito da lusofonia, foi o autor do projeto que reuniu contributos de ambos os lados do atlântico.

Descentralizar a Língua Portuguesa, olhar o idioma como um meio para a união das comunidades e fazê-lo a partir da memória afetiva e visão pessoal de cada um, foram as intenções confessas do rapper brasileiro. Vinicius Terra partiu de uma música lançada em 2019, incluída no seu álbum Eles não sabem a minha língua, que serviu de base para poder “descolonizar esse pensamento lusófono e eurocêntrico” que diz perpetuar-se em torno da Língua Portuguesa.

A consagrada Elza Soares, a artista transgénero Linn da Quebrada, a fadista Sara Correia, o português Dino D'Santiago, o percussionista Gabriel Marinho, a vocalista Patrícia Relvas e o guitarrista Roberto Afonso - que compõem o duo Lavoisier - e ainda o músico e produtor Tayob Juskow integram o projeto idealizado por Vinicius, transpondo para a música as próprias raízes e correntes artísticas.

A visão deste single parte, por isso, dos bairros de cada um e da forma como influenciaram o percurso posterior dos artistas. “Nos nossos bairros de origem, lá atrás, a Língua Portuguesa e a nossa estética artística se fundem e se transformam em alguma coisa para o mundo. Então é como se do bairro viesse toda essa vontade. É uma ideia também de memória afetiva [que fica patente neste projeto]. Então a música acabou se tornando uma coisa maior”, explica o artista ao Gerador.

“Eu também procurei pessoas que tivessem a origem parecida com a minha, por isso é que ela é Meu Bairro, Minha Lingua, [pois] é o momento em que a gente volta para a nossa memória afetiva, do nosso bairro, [e parte depois] para o que vem a ser”, explica Vinicius Terra que fez deste “hino” acervo para o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

Este espaço está fechado desde 2015 para reconstrução, que se tornou necessária devido ao incêndio que devastou as instalações. Após a pandemia adiar a reabertura - prevista agora para 17 de julho de 2021 - está marcada uma primeira celebração simbólica para dia 5 de maio, Dia Internacional da Língua Portuguesa, na qual o Meu Bairro, Minha Língua terá especial destaque.

Esta ocasião será, para Dino D’Santiago, o momento em que, “ao som da nossa canção, do nosso hino de puro manifesto pela aculturação, de busca pelo que temos em comum e não por aquilo que nos separa”, vai ser possível mostrar ao mundo “o quão simbólica é esta união transatlântica”.

O músico algarvio diz que a colaboração desenvolvida durante este processo criativo foi o que mais lhe agradou, e destaca “o entusiasmo incessante do Vinicius perante todas as adversidades”. “Ele foi o grande orquestrador de toda esta viagem sonora”, refere ao mesmo tempo que lamenta a impossibilidade de encontro presencial que foi imposta pela pandemia.  “Infelizmente, cada artista teve de gravar no seu território. Mas esta é a grande vantagem dos novos tempos, podemos colaborar mesmo que à distância de ideias trocadas por videochamadas e mais detalhadamente em e-mails. Valeu a pena cada segundo!”, diz Dino D’Santiago.

O projeto – que tem o patrocínio da EDP – deu origem a um videoclip e a uma webserie de oito episódios, sendo cada um deles focado nas origens e percurso de cada artista. “Toda a webserie  tem esse objetivo, que é o objetivo dessa canção coletiva à distancia, onde a gente está sendo conectado apenas pelas nossas memórias afetivas”, diz Vinicius Terra que tem agora a pretensão de transformar tudo num documentário que permita ilustrar como decorreu o processo.

O foco, diz o rapper, continuará a ser a promoção da Língua Portuguesa enquanto elemento comum a várias culturas, que importa democratizar e “descentralizar”.

“Nós estamos no século XXI, então não cabe mais esse pensamento da Língua vinda somente de Portugal para as ex-colónias”, afirma. O que importa, diz Vinicius, é “conseguir dialogar entre esses países, onde a Língua Portuguesa é uma ferramenta de comunicação”.

Sara Correia, que também integra o Meu Bairro, Minha Língua, subscreve esta ideia, e diz não compreender porque motivo as divisões persistem. “Quando falamos de música, a música é de todos”, diz a fadista. “Eu acho que principalmente estas coisas destas barreiras e estes -  como o Dino [D’Santiago] diz - estes códigos têm que que acabar. Tem que se usufruir disto para aprendemos uns com os outros”.

Na opinião de Dino D’Santiago, a cultura em Portugal ainda “luta para ser o mais inclusiva possível”. “Carregamos feridas profundas provocadas por um passado cruel para uma das faces da moeda” afirma o músico. “Sei que ainda há muito por fazer, mas hoje artistas como Nelson Freitas, Mayra Andrade, Plutonio, Slow J, Wet Bed Gang, Nenny, Calema, Soraia Ramos, Djodje, Força Suprema ou Valete fazem de Lisboa o epicentro de uma sonoridade PALOP que somam os maiores números numa era digital e o top de vendas”, sublinha.

A diversidade e a aproximação de perspetivas e culturas continuarão, por isso, a ser o grande clamor do Meu Bairro, Minha Língua que, acima de tudo, tem o objetivo de contribuir para o processo de “reparação histórica” que Vinicius Terra diz que estamos a viver com maior intensidade. “Acho que cada vez mais temos de perceber que, enquanto seres humanos somos plurais”, afirma.

Texto por Sofia Craveiro
Fotografias retiradas da webserie Meu Bairro, Minha Língua

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