fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Francisco Ferreira

Mobilidade e bom senso

Nas Gargantas Soltas de hoje, Francisco Ferreira nos traz uma reflexão sobre a questão da mobilidade.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Em questões ambientais, como de resto em tudo na vida, é preciso ter bom senso. Quando nos apercebemos que é necessário mudar alguma coisa  para tornar a nossa vida mais sustentável, o pior que se pode pedir é querer fazer tudo de uma só vez ou investir tudo numa só opção.

Um  assumido amante de carne virar vegetariano é consideravelmente mais complicado do que esse mesmo indivíduo diminuir gradualmente o consumo de carne de 7 dias por semana para, por exemplo, 2 dias. E essa considerável  diminuição  de 62% — mas não total inibição — do consumo de carne ofereceria uma via ao debutante que não enlouquecer ou desistir do propósito. 

O mesmo se passa com o automóvel, meio anunciado como um símbolo de liberdade e independência. Se pusermos em perspectiva, vemos que, na realidade, isso só seria verdade se houvesse apenas meia dúzia deles a circular pela cidade, pois o carro representa também uma prisão, em custo, consumo e paciência.

Numa altura em que as emissões aumentaram 6,2% relativamente ao período pré-pandemia (1), mais uma vez o bom senso tem de prevalecer. Decidir substituir todos os veículos de motor a combustão ou explosão por outros — novos — de motor elétrico não resolveria os nossos problemas pois implicaria consumir recursos naturais virgens, produzir resíduos e, ainda assim, continuar a sofrer com o trânsito! Além disso, vai desiludir as pessoas que julgam ser essa a melhor solução. 

Qual a solução perfeita? Perfeita não é possível, mas existem maneiras de ir diminuindo progressiva, consistente e eficazmente o problema.

O ideal é uma combinação complementar de diferentes formas de mobilidade, porque as vivências de cada um são também muito diversas  e os seus condicionalismos específicos muito díspares. A título de exemplo, sugere-se:

  • Melhorar os transportes públicos coletivos, em conforto, horários e abrangência, facilitando  o uso de passes intermodais e acessíveis, e instalando vias dedicadas exclusivas, em particular nos troços de vias rápidas em ambiente urbano.
  • Expandir a rede de ciclovias dedicadas, já que a experiência indica que, quanto mais oferta houver, mais usadas são e, ainda assim, apesar de os mais resistentes não aderirem, quanto mais utentes houver, menos veículos a motor circulam. 
  • Restringir a circulação automóvel em todos os locais que disponham de oferta ampla  de transporte público, abrindo apenas corredores de circulação para mobilidade suave ou emergência.
  • Alterar radicalmente a concepção das ligações entre localidades, parques industriais e empresariais, zonas comerciais e de lazer, para permitir que cada um possa escolher o meio de transporte que mais lhe convém. Só assim se disponibilizarão alternativas efetivas e viáveis ao transporte individual motorizado. 

Reflitamos: se mais 20% das pessoas optarem pelo transporte coletivo e 10% pelos meios de mobilidade suave, quão significativa seria a diminuição dos veículos motorizados individuais(2)!

Não existe uma só solução para a mobilidade, existem múltiplos caminhos que almejam o mesmo fim, e todos eles são válidos e complementares. É importante diversificar a oferta para que  possamos adaptar estruturada e consistentemente as nossas rotinas, consoante o que nos seja mais conveniente em acessibilidade, custo e rapidez.

Bom senso e criatividade são necessários, mas mais premente ainda é a capacidade de reverter um caminho que reconhecidamente não resulta e de implementar rápida e radicalmente uma alternativa, com base em já documentadas experiências de sucesso.

  1. ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável
  2. ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável

-Sobre Francisco Ferreira-

Francisco Ferreira é Professor Associado no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-NOVA) e investigador do CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade). É licenciado em Engenharia do Ambiente pela FCT-NOVA, mestre por Virginia Tech nos EUA e doutorado pela Universidade Nova de Lisboa. Tem um significativo conjunto de publicações nas áreas da qualidade do ar, alterações climáticas e desenvolvimento sustentável. Foi Presidente da Quercus de 1996 a 2001 e Vice-Presidente entre 2007 e 2011. Foi membro do Conselho Nacional da Água e do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Atualmente é o Presidente da “ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável”, uma organização não-governamental de ambiente com atividade nacional.

Texto de Francisco Ferreira | Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

19 Novembro 2025

Desconversar sobre racismo é privilégio branco

5 Novembro 2025

Por trás da Burqa: o Feminacionalismo em ascensão

29 Outubro 2025

Catarina e a beleza de criar desconforto

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

15 Outubro 2025

Proximidade e política

7 Outubro 2025

Fronteira

24 Setembro 2025

Partir

17 Setembro 2025

Quando a polícia bate à porta

10 Setembro 2025

No Gerador ainda acreditamos no poder do coletivo

3 Setembro 2025

Viver como se fosse música

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

17 novembro 2025

A profissão com nome de liberdade

Durante o século XX, as linhas de água de Portugal contavam com o zelo próximo e permanente dos guarda-rios: figuras de autoridade que percorriam diariamente as margens, mediavam conflitos e garantiam a preservação daquele bem comum. A profissão foi extinta em 1995. Nos últimos anos, na tentativa de fazer face aos desafios cada vez mais urgentes pela preservação dos recursos hídricos, têm ressurgido pelo país novos guarda-rios.

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0