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Opinião de Francisco Cipriano

Nova Bauhaus Europeia: Um esforço coletivo para imaginar e construir um futuro sustentável

Uma intenção promissora e um debate necessário a que não chega ser trendy. A Presidente…

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Uma intenção promissora e um debate necessário a que não chega ser trendy.

A Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, anunciou a criação da Nova Bauhaus Europeia (New European Bauhaus), um movimento que pretende ser uma ponte entre o mundo da ciência e tecnologia e o mundo da arte e da cultura. A nova Bauhaus Europeia é uma iniciativa criativa, que pretende derrubar fronteiras entre a ciência e a tecnologia, a arte, a cultura e a inclusão social, a fim de permitir a conceção de soluções para problemas quotidianos. Um esforço coletivo para imaginar e construir um futuro sustentável, inclusivo e belo.

A nova Bauhaus Europeia será uma força motriz para dar vida ao Pacto Ecológico Europeu (Green New Deal for Europe), baseado na sustentabilidade, inclusão e estética reunido arquitetos, artistas, cientistas, engenheiros, especialistas digitais, estudantes e muito mais. É, sem dúvida, positiva esta ponte entre a cultura e o principal roteiro para tornar a economia da UE sustentável, o Pacto Ecológico Europeu, na medida em que este é o caminho para o definitivo reconhecimento do papel da cultura na implementação dos objetivos de desenvolvimento durável e equilibrado entre o homem e o meio ambiente, como aliás defende todo o ecossistema cultural.

A iniciativa não é a única. Também a Agenda 2030 das Nações Unidas e o seu conjunto ambicioso de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) valoriza esta relação e desenha um quadro vital para a dimensão cultural do desenvolvimento sustentável. A diversidade cultural da Europa molda quadros e vivências que condicionam as tão necessárias trajetórias transformadoras para o alcance de objetivos e planos “verdes”, promove mudanças nos sistemas sociais, económicos, políticos e ambientais e, ao mesmo tempo, são uma ferramenta altamente eficaz para disseminar conhecimento sobre os temas urgentes servindo de vetor para o sucesso da implementação de todos os instrumentos como os ODS ou o Pacto Ecológico Europeu. A cultura molda a forma como percecionamos as realidades em mudança. As artes e a cultura dão sentido às nossas perceções, aproximam a humanidade através das emoções, imaginação e pensamentos.

A nova iniciativa Bauhaus Europeia, ao lançar uma colaboração abrangente entre os criativos europeus, é, sem dúvida, um sinal prometedor do mainstreaming da cultura em vários domínios políticos. Com o objetivo de construir um amanhã mais verde, mais bonito e humano. Inspirado pelo Movimento Bauhaus no início do século XX, este projeto emergente ecoa alguns dos conceitos originais ao incorporar a estética na funcionalidade do quotidiano. Os processos de interdisciplinares e cocriação estiveram no cerne do projeto Bauhaus. A referência à Bauhaus, no entanto, não só leva a associações interessantes com movimento artístico progressista dos anos 20, como também valoriza a prevalência da forma sobre o conteúdo nas suas estratégias estéticas.

Apesar de não ter surgido espontaneamente como o movimento cultural Bauhaus original, pois este é estabelecido por autoridades públicas europeias, não deixa de ser também o início de um processo inovador de conceção conjunta. As organizações que pretendam participar neste processo podem tornar-se parceiros do nova Bauhaus europeia, respondendo ao convite formulado no sítio web da iniciativa. Aqui, artistas, projetistas, engenheiros, cientistas, empresários, arquitetos, estudantes e todas as pessoas interessadas podem partilhar exemplos de realizações inspiradoras para a nova iniciativa e apresentar as suas ideias sobre a forma como deve ser moldado, como deve evoluir ou expressando novas preocupações e desafios.

A fase de implementação da iniciativa centrar-se-á no desenvolvimento de cinco novos projetos europeus em todos os Estados-Membros da UE que visam a sustentabilidade através da interseção entre a arte e a cultura e a respetiva adaptação às condições locais, dando atenção aos materiais naturais de construção, eficiência energética, demografia, mobilidade orientada para o futuro ou inovação digital eficiente em termos de recursos e que sejam exemplos existentes que representem a integração dos valores fundamentais da iniciativa e que possam inspirar os debates sobre os locais onde vivemos e a transformação dos mesmos.

Sem dúvida uma ideia positiva, mas que não deixa de ser criticada como bastante vaga e frouxa na sua forma atual, levantando já controvérsias no diálogo europeu. Desde logo, porque a nova iniciativa Bauhaus Europeia ainda não tem um orçamento definido. A cultura e os ecossistemas criativos, devastados pela atual pandemia, manifestam preocupação com o facto de a Nova Bauhaus Europeia ser apoiada pelo programa Europa Criativa, o único programa da UE especificamente dedicado à cultura, prejudicando assim o seu já escasso orçamento. 

O setor considera essencial, exatamente o contrário, que esta nova iniciativa da UE possa ser financiada fora da Europa Criativa, através do envelope financeiro do Pacto Ecológico Europeu, para sinalizar e valorizar o contributo da cultura para a transição verde da EU.  A Nova Bauhaus Europeia não chega ser trendy. Mais do que uma marca bastante complexa, terá de ser um projeto abrangente, robusto em todos os seus aspetos e constituir uma oportunidade para incluir uma perspetiva cultural transversal na estratégia de sustentabilidade, colocando-a no centro da “política” e das políticas europeias. Sem dúvida que o setor está ansioso para saber mais sobre a forma como todo o projeto será enquadrado, bem como o grau de envolvimento dos atores culturais nele.  Este é um setor que se sente preparado para reagir ativamente ao convite à cocriação e à colaboração, não fosse a arte esse instrumento de permanente reação e transformação presente instalado.

-Sobre Francisco Cipriano-

Nasceu a 20 de maio de 1969, possui grau de mestre em Geografia e Planeamento Regional e Local. A sua vida profissional está ligada à gestão dos fundos comunitários em Portugal e de projetos de cooperação internacional, na Administração Pública Portuguesa, na Comissão Europeia e atualmente na Fundação Calouste Gulbenkian. É ainda o impulsionador do projeto Laboratório de Candidaturas, Fundos Europeus para a Arte, Cultura e Criatividade, um espaço de confluência de ideias e pessoas em torno  das principais iniciativas de financiamento europeu para o setor cultural. Para além disso é homem para muitas atividades: publicidade, escrita, fotografia, viagens. Apaixonado pelo surf vê̂ nas ondas uma forma de libertação e um momento único de harmonia entre o homem e a natureza. É co-autor do primeiro guia nacional de surf, Portugal Surf Guide e host no documentário Movement, a journey into Creative Lives. O Francisco Cipriano é responsável pelo curso Fundos Europeus para as Artes e Cultura – Da ideia ao projeto que pretende proporcionar motivação, conhecimento e capacidade de detetar oportunidades de financiamento para projetos artísticos e culturais facilitando o acesso à informação e o conhecimento sobre os potenciais instrumentos de financiamento.

Texto de Francisco Cipriano
Fotografia da cortesia de Francisco Cipriano

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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