fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Tiago Sigorelho

O mito da riqueza dos países

Nas Gargantas Soltas de hoje, o Tiago Sigorelho fala-nos sobre a falácia do conceito PIB per Capita: “Numa sociedade em que a desigualdade cresce, recorrer a médias entre todos os habitantes roça o ridículo.”

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Nas últimas semanas, temos ouvido com frequência, tanto pela vertente noticiosa dos órgãos de comunicação, como, principalmente, pela vertente opinadora dos mesmos, que a Roménia será, em breve, mais rica que Portugal, tendo em conta o PIB per capita.

Surgem, alvoraçados, um conjunto de comentadores, políticos e economistas que nos recordam dos avisos que foram fazendo ao longo de anos. Avisos, esses, que, se ouvidos, nos teriam protegido deste embaraço de haver mais um país do leste da Europa que nos ultrapassa.

A mensagem é simples: lá fora está toda a gente a evoluir, a criar riqueza, a ter melhores condições de vida, mas aqui, nas nossas esparsas fronteiras, continuamos parados ou mesmo a regredir.

Muitos sugerem, mesmo, que olhemos para esses países como exemplo, para conseguirmos sair desta eterna estagnação lusa e caminharmos no sentido do progresso destas nações. Em 2024 a Roménia ficará à nossa frente e, antes, foi precedida pela Hungria e Polónia, o ano passado.

Vamos, então, olhar para o que significa este progresso. Primeiro analisando o que significa o PIB per capita. Depois pensando sobre se existem outras dimensões para além do PIB que podem ser interessantes de considerar quando de progresso se fala.

Os poucos que terão a paciência de ler as minhas crónicas regularmente, sabem a amizade que nutro pelo conceito do Produto Interno Bruto (PIB), principalmente na sua lógica PIB per capita, ou seja, todo o dinheiro “ganho” num país, dividido pelo seu número de habitantes.

Como detalhei num texto anterior, o indicador PIB per Capita é uma total falácia que apenas deveria decorar quadros trimestrais de consultoras financeiras com acrónimos internacionais. Numa sociedade em que a desigualdade cresce, isto é, a diferença entre os mais ricos e os mais pobres aumenta, recorrer a médias entre todos os habitantes roça o ridículo. Ora espreitem este exemplo em baixo.

Imaginem um país com 10 pessoas. A pessoa mais rica ganha, num determinado ano, 50 moedas, a pessoa seguinte ganha 30 moedas e as restantes 8 pessoas ganham, juntas, 20 moedas. O PIB desse país é de 100 moedas e o PIB per Capita é de 10 moedas, quatro vezes mais do que ganha cada uma das 8 pessoas.

Se, no ano seguinte, as duas primeiras pessoas aumentarem os seus ganhos em 10%, passando a 55 moedas e a 33 moedas, respectivamente, e as restantes 8 pessoas diminuírem os seus ganhos em 20%, passando para um total de 16 moedas, então, surpresa das surpresas, o país ficou mais rico. O PIB passa a 104 moedas e o PIB per Capita passou a 10,4 moedas. Viva o progresso.

Se olharmos com atenção para como é composta a riqueza dos países que nos ultrapassam, chegamos a conclusões interessantes: a janeiro deste ano, o salário mínimo nacional (SMN) na Roménia é de 515 eur, na Hungria de 542 eur e na Polónia de 655 eur. O que compara com 823 eur em Portugal, já que apesar do nosso SMN ser de 705 eur, ele é pago em 14 meses, ao contrário do que acontece nos nossos competidores. Curioso, não é.

Mas será que a “riqueza” de um país pode também ser aferida por outros indicadores, que não apenas o dinheiro? Ora, há dados óbvios e factuais que demonstram isso mesmo, como a esperança de vida, a taxa de mortalidade infantil ou index de segurança (Global Peace Index), em que Portugal se comporta sempre melhor que os países referidos.

Mas, e acima de tudo, há um contexto político, legislativo, que está orientado para proteger as pessoas, as minorias, a tolerância e o respeito pelos outros. A nossa democracia precisa sempre de ir evoluindo, mas está forte e consolidada, a ponto de não imaginar que seja fácil trocá-la pela procura de um indicador que mede médias disparatadas.

-Sobre Tiago Sigorelho-

Formado em comunicação empresarial, esteve ligado durante 15 anos ao setor das telecomunicações, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca do Grupo PT, com responsabilidades das marcas nacionais e internacionais e da investigação e estudos de mercado. Em 2014 criou o Gerador e tem sido o presidente da direção desde a sua fundação. Tem continuamente criado novas iniciativas relevantes para aproximar as pessoas à cultura, arte, jornalismo e educação, como a Revista Gerador, o Trampolim Gerador, o Barómetro da Cultura, o Festival Descobre o Teu Interior, a Ignição Gerador ou o Festival Cidades Resilientes. Nos últimos 10 anos tem sido convidado regularmente para ensinar num conjunto de escolas e universidades do país e já publicou mais de 50 textos na sua coluna quinzenal no site Gerador, abordando os principais temas relacionados com o progresso da sociedade.

A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

24 Dezembro 2025

Medo de assentar

10 Dezembro 2025

Dia 18 de janeiro não votamos no Presidente da República

3 Dezembro 2025

Estado daquilo que é violento

26 Novembro 2025

Uma filha aos 56: carta ao futuro

19 Novembro 2025

Desconversar sobre racismo é privilégio branco

5 Novembro 2025

Por trás da Burqa: o Feminacionalismo em ascensão

29 Outubro 2025

Catarina e a beleza de criar desconforto

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

15 Outubro 2025

Proximidade e política

7 Outubro 2025

Fronteira

Academia: Programa de pensamento crítico do Gerador

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Oficina Imaginação para entender o Futuro

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Autor Leitor: um livro escrito com quem lê 

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Clube de Leitura Anti-Desinformação 

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Curso Política e Cidadania para a Democracia

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Oficina Literacia Mediática

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

17 novembro 2025

A profissão com nome de liberdade

Durante o século XX, as linhas de água de Portugal contavam com o zelo próximo e permanente dos guarda-rios: figuras de autoridade que percorriam diariamente as margens, mediavam conflitos e garantiam a preservação daquele bem comum. A profissão foi extinta em 1995. Nos últimos anos, na tentativa de fazer face aos desafios cada vez mais urgentes pela preservação dos recursos hídricos, têm ressurgido pelo país novos guarda-rios.

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0