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Opinião de Jorge Pinto

Jorge Pinto é formado em Engenharia do Ambiente (FEUP, 2010) e doutor em Filosofia Social e Política (Universidade do Minho, 2020). A nível académico, é o autor do livro A Liberdade dos Futuros - Ecorrepublicanismo para o século XXI (Tinta da China, 2021) e co-autor do livro Rendimento Básico Incondicional: Uma Defesa da Liberdade (Edições 70, 2019; vencedor do Prémio Ensaio de Filosofia 2019 da Sociedade Portuguesa de Filosofia). É co-autor das bandas desenhadas Amadeo (Saída de Emergência, 2018; Plano Nacional de Leitura), Liberdade Incondicional 2049 (Green European Journal, 2019) e Tempo (no prelo). Escreveu ainda o livro Tamem digo (Officina Noctua, 2022). Em 2014, foi um dos co-fundadores do partido LIVRE.

O prazer de pisar os mais fracos

Nas Gargantas Soltas de hoje, Jorge Pinto fala-nos de como este é o tempo do orgulho dos mais fortes em pisar os mais fracos e de como podemos inverter esse rumo.

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Numa série documental sobre a história do antissemitismo transmitida no canal Arte, um dos entrevistados afirma que enquanto no continente europeu se matavam milhares de mulheres acusadas de bruxaria, na Península Ibérica quase não se encontravam “bruxas”. Seguia o raciocínio dizendo que tal se devia à perseguição que era então feita aos judeus, tanto em Portugal como em Espanha. No fundo, havendo já um alvo minoritário sobre o qual a maioria podia exprimir o seu domínio, a necessidade de encontrar um outro alvo tornava-se desnecessária. 

Ao longo da história e da geografia, os adversários vistos como mais fracos e, como tal, alvos práticos para os mais fortes, foram mudando. O pós-grandes guerras e os horrores do Holocausto – escrevo este texto no dia em que se assinalam os 80 anos da libertação dos campos de concentração de Auschwitz-Birnkenau – e, mais tarde, as lutas de libertação anti-coloniais representaram uma mudança aos olhos de uma boa parte das sociedades: a agressão do mais forte ao mais fraco é moralmente errada e não pode ser tolerada. Este foi aliás um dos objetivos das Nações Unidas, assegurar que os direitos dos mais frágeis eram respeitados, independentemente de quem fosse o agressor. 

Em paralelo com este esforço, também a nível interpessoal ganhou força a ideia de que não é aceitável impor a vontade própria por via da força, pisoteando os mais fracos. É certo que continuaram a existir abusos, certamente a nível individual mas também ao nível dos Estados: se no caso timorense se conseguiu uma vitória perante um adversário e agressor de muito maior dimensão, no caso do Saara Ocidental o domínio marroquino é cada vez mais apertado, apesar da posição das Nações Unidas em favor de um referendo que decida o futuro que os sarauis querem para o seu território. Ainda assim, esse abuso é visto como injusto e não se faz dele bandeira. Ou não fazia.

O avanço da extrema direita a nível global, associado a uma perda da ideia de fraternidade e do sentido de comunidade é também uma vingança dos agressores. Apoiados numa ideia mistificada de uma qualquer realidade passada – quando a nossa nação era gloriosa, quando os homens eram suficientemente másculos, etc – fazem da força argumento e do esmagar dos mais fracos algo positivo e necessário. Onde antes havia vergonha, há agora orgulho. 

A passagem de um mundo uni ou bipolar tal como conhecido no século XX para um mundo multipolar para o qual estamos rapidamente a caminhar poderá ser feita por dois caminhos: ou alinhados com os que defendem um mundo de agressores ou alinhados com os que defendem um futuro de justiça, de sustentabilidade ecológica, de igualdade e onde a defesa dos Direitos Humanos e da dignidade de cada um são prioridade. 

No primeiro destes lotes é fácil pensar em quem seriam os aliados, não faltando infelizmente exemplos, de Donald Trump a Xi Jinping, passando por Putin ou Netanyahu. Mas, no segundo, com quem poderíamos contar? Portugal e a União Europeia têm pela frente anos críticos na construção de uma “internacional respeitista”: que respeite o planeta, que respeite os Direitos Humanos, que respeite a decência e a dignidade de cada um de nós. Mas, perante adversários tão fortes, uma alternativa válida só se conseguirá com uma aliança entre os mais frágeis. A boa notícia é que temos essa possibilidade. 

No momento em que escrevo, dias depois da tomada de posse de Donald Trump enquanto presidente dos Estados Unidos da América, está em desenvolvimento uma das primeiras histórias de confronto entre este – que se identifica com o grupo dos fortes - e um oponente que certamente coloca no grupo dos fracos e que poderá servir de batuta para os próximos anos. Reagindo ao tratamento degradante dado aos seus concidadãos expulsos dos Estados Unidos da América, o presidente colombiano Gustavo Petro decidiu não autorizar a aterragem dos aviões que os transportavam. Em resposta e num típico acesso de fúria característico dos agressores habituados a pisar os mais fracos, Trump anunciou uma série de medidas tarifárias contra a Colômbia. Mas Petro foi lesto a responder em pé de igualdade, anunciando medidas retaliatórias e acrescentando numa longa declaração na rede social X que:

“A Colômbia agora deixa de olhar para o Norte, olha para o Mundo, o nosso sangue [colombiano] vem do sangue do califado de Córdoba, da civilização de então, dos latinos romanos do Mediterrâneo, da civilização de então, dos que fundaram a República, da democracia em Atenas; o nosso sangue tem os resistentes negros convertidos em escravos por vocês”.

E este é um exemplo a seguir e a apoiar. Perante agressores que pela força querem dominar o mundo, resta-nos juntar forças e impedir que nos pisem. Ainda vamos a tempo de o conseguir. 

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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