fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Isabel Costa

O que Pode Uma Estátua

O que pode, afinal, uma estátua? Pode-nos parecer difícil identificar o quanto as estátuas que…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

O que pode, afinal, uma estátua? Pode-nos parecer difícil identificar o quanto as estátuas que são símbolos do nosso passado colonial influenciam o nosso dia a dia. Mas a verdade é que estes símbolos operam, mesmo que muitas vezes de forma invisível.

O trabalho do antropólogo Alfred Gell pode ajudar-nos a entender como se materializa esta influência invisível de que falo. O seu conceito de “objecto distribuído” reflete sobre os modelos não tradicionais de arquivo. Um “objecto distribuído" é um objecto não palpável que se estende na memória coletiva de uma comunidade e que, por essa via, resiste ao tempo.
Uma estátua está imbuída de muitos significados ligados à figura que é celebrada e consequentemente ao contexto histórico desta mesma figura. Ao olharmos para ela o que estamos a ver nunca é apenas aquilo que estamos a ver a olho nu. Estamos perante uma série de “objectos distribuídos”, que existem como uma espécie de sombra da própria estátua. O problema é que nos esquecemos que é a carga simbólica que ronda estas estátuas que se impregna na nossa vida e não nos larga, mesmo que ao passar não olhemos para elas. Uma estátua pode, portanto, ajudar a fixar um passado.

O recente movimento contra as heranças colonialistas no espaço público em várias cidades europeias é uma consequência do momento histórico que vivemos. Pela primeira vez, em centenas de anos, é produzido um discurso acessível a todos sobre esse tal “objecto distribuído” que estas heranças propagam. Este movimento reclama a existência de múltiplas versões do nosso passado.

É necessário ver este momento como um momento fundamental, em que se adicionam múltiplas perspectivas, envolvendo verdadeiramente uma outra versão à nossa história.
Momentos como este mostram-nos a urgência em repensarmos quem estamos a homenagear quando erguemos uma estátua. Porque uma estátua pode e deve estabelecer um diálogo com o presente. E, uma vez tida esta discussão, encontrar símbolos que operem num sentido mais amplo e que nos despertem para essa tal outra versão, da qual precisamos desesperadamente para caminhar enquanto sociedade.

Como dizia Walter Benjamin, outras versões da história aparecem como relâmpagos que só se deixam fixar irreversivelmente no momento em que são reconhecidas. A mim parece-me que este é um desses momentos, em que o presente é interrompido por um relâmpago e temos a oportunidade de reconhecer e fixar outras versões.

Estamos a iniciar um processo longo de descolonização do pensamento sobre a nossa história, onde estamos todos incluídos, embora cada um de nós faça o seu caminho.
Agora, mais do que nunca, é preciso olhar em retrospectiva e perceber quem somos. Neste processo teremos a oportunidade de olhar para o nosso passado e transformar a nossa memória colectiva.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre a Isabel Costa-

Trabalha em teatro, cinema, na área de produção de exposições e curadoria. É diplomada em teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema, tendo completado a sua formação na Universidade de Warwick (Inglaterra) e na UNIRIO (Brasil). É membro do grupo de teatro Os Possessos desde 2014. Na área de produção de exposições passou pelo Paço Imperial no Rio de Janeiro (Brasil), pela Galeria Luis Serpa Projectos (Lisboa) e pela galeria Primner. Em 2016 terminou o mestrado Eramus Mundus Crossways in Cultural Narratives, tendo passado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade Nova de Lisboa, pela Universidade de Perpignan (França) e pela Universidade de Guelph (Canadá). Dedicou-se ao tema do arquivo na performance arte. Em 2017, iniciou a criação de projectos a solo. Apresenta a criação “Estufa-Fria-A Caminho de uma Nova Esfera de Relações” na Bienal de Jovens Criadores, e a primeira edição do Projeto Manifesta, um projecto produzido por Os Possessos. Em 2019, apresenta as criações “Maratona de Manifestos” e “Salão Para o Século XXI.”

Texto de Isabel Costa
Fotografia de Telmo Pereira

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

25 Junho 2025

Gaza Perante a História

18 Junho 2025

Segurança Humana, um pouco de esperança

11 Junho 2025

Genocídio televisionado

4 Junho 2025

Já não basta cantar o Grândola

28 Maio 2025

Às Indiferentes

21 Maio 2025

A saúde mental sob o peso da ordem neoliberal

14 Maio 2025

O grande fantasma do género

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

23 Abril 2025

É por isto que dançamos

16 Abril 2025

Quem define o que é terrorismo?

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0