Há vários anos, a VALSA tem sido laboratório para artistas e criadores que experimentam novos formatos. Criada em 2018, a associação promove diversidade e acolhimento, num espaço de convívio com eventos culturais.
Esse espaço era, desde janeiro de 2021, a sede do CORAL, um coletivo de curadoria que nasceu, durante a pandemia, da união de três micro negócios: as pastas artesanais do Café Mortara, a programação e também as pizzas do Valsa, e ainda a cerveja da Artesanalis.
O CORAL, obra de jovens imigrantes brasileiros, nasceu para dividir custos, mas depressa se transformou em algo maior. A principal missão passou então a ser o apoiar e promover artistas e criadores independentes, com uma programação cultural e gastronómica, de forma segura, inclusiva e colaborativa. No centro da programação, as causas do feminismo, anti-racismo e activismo LGBTQIA+.
Entre concertos, performances, cursos e oficinas, eventos gastronómicos, filmes, feiras, dj sets, exposições e outros, a VALSA programou mais de 200 eventos culturais, todos os anos, numa das duas salas do coletivo, até aqui situado no rés-do-chão da Rua Angelina Vidal, mais especificamente no cruzamento entre a Graça, Penha de França e Anjos.
“O trabalho está feito, e muito bem feito”, escreveram os fundadores da VALSA - Marina, Nika e Thiago - no email dirigido à comunidade e onde anunciam o encerramento do mesmo. Pelo menos, para já.
O fator económico foi decisivo. Em entrevista ao Gerador, Nika explica que depois de um “ótimo ano” de 2023, a situação mudou: “mais para o fim do ano passado e o início desse ano, a coisa mudou completamente para a gente. Mudou completamente no sentido de o turismo que vinha para a gente mudou muito. Então, as pessoas que apareciam já não se interessavam mais pelos nossos produtos, tanto nos produtos culturais quanto na comida.”
O acesso à habitação e aumento da precarização do trabalho tem afetado também aquele que era o público habitual do espaço.
“Mudou também a questão de quem vinha para o nosso espaço. E a nossa comunidade – que sempre foi a parte mais importante, mais forte, do nosso negócio e para a gente – sumiu, e a gente começou a entender que sumiu, porque muitas pessoas tiveram que mudar para fora do centro de Lisboa. Então foram viver mais longe ou tiveram de encontrar outros trabalhos para conseguir pagar as rendas altas”, explica Nika, cofundadora da VALSA. “Estão com dois trabalhos e não têm tempo nenhum para ir para lá, ou para consumir cultura, ou chegavam muito tarde porque estavam trabalhando até tarde.”
E agora? “O CORAL termina, cumpriu sua função, que foi essa da gente se unir para sobreviver e colocar os nossos projetos para frente.”
Para a VALSA, que já tinha conhecido uma outra localização, será, pelo menos, uma pausa. “A VALSA é um projeto, para nós, muito grande, muito importante. Então, acho que não daria para seguir assim, sem muita estrutura, sem casa. Então acho que para já é um tchau, não sei se vai ter uma volta, pode ser que tenha.
Mas antes... e até dia 14 de dezembro, o público pode ainda desfrutar das pizzas e programação cultural da VALSA. A programação está disponível aqui.