fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de João Teixeira Lopes

Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1992), é Mestre em ciências sociais pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (1995), e doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação (1999) com a Dissertação (A Cidade e a Cultura – Um Estudo sobre Práticas Culturais Urbanas (Porto, Edições Afrontamento, 2000). Foi programador de Porto Capital Europeia da Cultura 2001, enquanto responsável pela área do envolvimento da população e membro da equipa inicial que redigiu o projeto de candidatura apresentado ao Conselho da Europa. Tem 23 livros publicados (sozinho ou em co-autoria) nos domínios da sociologia da cultura, cidade, juventude e educação, bem como museologia e estudos territoriais. Foi distinguido, a 29 de maio de 2014, com o galardão “Chevalier des Palmes Académiques” pelo Governo francês. Coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.

Observatório: Sala de Aula

Nas Gargantas Soltas de hoje, João Teixeira Lopes partilha as suas observações acerca dos jovens universitários.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Da sala de aula na Universidade podemos observar muito do que se vai passando no universo juvenil, principalmente se ligarmos uma visão sincrónica (que permite analisar crescentes diferenças na coorte atual- o ensino superior é, felizmente, cada vez mais diverso, embora permaneça desigual) a uma perspetiva diacrónica, a do fio do tempo ( os alunos que passam por nós, como um filme, sem que daí se extraia uma ilusão de fixidez do observador ou uma sensação de melancolia: o professor, se quiser compreender os seus alunos, tem de se envolver, não pode ser um pedagogo tecnocrata, friamente meticuloso ou inutilmente nostálgico).

Observo, participando, que os meus estudantes estão bastante dependentes da cultura das redes sociais, mas que, ao longo do percurso (em sociologia) adquirem uma visão crítica. Mesmo que permaneçam colados aos smartphones, selecionam mais os conteúdos, diversificam fontes, detetam potenciais manipulações e adquirem consciência sobre o controlo social que o capitalismo de vigilância exerce. Tal é particularmente notório nas questões de género, pois são capazes de perceber que a lógica sistémica induz conformismo e consumismo. Inúmeras alunas abordam a questão da disforia corporal ou da tirania influencer e as suas nefastas consequências na produção de um corpo legítimo e socialmente aceite. 

Apenas uma pequena parte lê livros, mas esse grupo está em crescendo. As raparigas dessa fração minoritária leem ficção, ensaios feministas ou literatura fantástica; alguns rapazes, envolvidos no ativismo, devoram ensaios ligados ao pensamento crítico e à política. Em geral, passam muito tempo em casa, vão pouco ao cinema (que assistem em streaming) e quase nunca ao teatro ou a exposições. Escassamente se dedicam a atividades criativas (pintar, escrever, tocar um instrumento, coreografar, etc.).

Observo, ainda, um crescendo número de estudantes diagnosticados com neurodivergências e/ou perturbações de ansiedade. A maior parte dos casos emergiram com a pandemia, mas o medo, a incerteza e a vulnerabilidade vieram para ficar (afinal, é o próprio contexto social que o favorece). 

 Identifico, também, pelas inúmeras conversas e debates, que existe em muitos um receio do contacto com o outro e da experimentação sexual, adiando relacionamentos ou mantendo-os à distância. Não raras vezes evocam as vantagens do confinamento: maior controle sobre a sua exposição, menor risco de serem magoados ou desiludidos.

Há um imenso espaço de intervenção que permanece vazio. As universidades deixam os campus sem animação, sem oferta cultural (para além dos eventos científicos), sem mediadores institucionais. As associações de estudantes, quando não são contaminadas pela praxe, têm dirigentes pouco interessados no quotidiano juvenil. E a maior parte dos professores resigna-se ao pão nosso de cada dia: dão as suas aulas, escrevem os seus sumários, fazem as suas avaliações, cumprem programas, aceleram. Não observam, isto é, não escutam, não tentam compreender e não se deixam transformar.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

29 Outubro 2025

Catarina e a beleza de criar desconforto

27 Outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

24 Outubro 2025

Tempos livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

17 Outubro 2025

Tempos livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

16 Outubro 2025

Documentário ambiental “Até à última gota” conquista reconhecimento internacional

15 Outubro 2025

Proximidade e política

13 Outubro 2025

Jornalista afegã pede ajuda a Portugal para escapar ao terror talibã

10 Outubro 2025

Tempos livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

9 Outubro 2025

Estará o centro histórico de Sintra condenado a ser um parque temático?

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

29 SETEMBRO 2025

A Idade da incerteza: ser jovem é cada vez mais lidar com instabilidade futura

Ser jovem hoje é substancialmente diferente do que era há algumas décadas. O conceito de juventude não é estanque e está ligado à própria dinâmica social e cultural envolvente. Aspetos como a demografia, a geografia, a educação e o contexto familiar influenciam a vida atual e futura. Esta última tem vindo a ser cada vez mais condicionada pela crise da habitação e precariedade laboral, agravando as desigualdades, o que preocupa os especialistas.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0