É de selos que colecionam imagens que é feita a obra de Nuno Trigueiros, mais conhecido por Onun Trigueiros, e foi essa intemporalidade e identidade que quisemos trazer para a obra gráfica da edição desta Revista.
Nascido e criado na Linha de Sintra, Nuno apresenta-se como o artista dos selos que coleciona imagens, sendo através das suas pinturas e colagens que nos remete para a atmosfera vivida e sentida na sua cabeça. Onun Trigueiros expressa-se de diversas formas artísticas, desde a montagem fotográfica, desenho até à serigrafia e pintura. Mais recentemente, os seus trabalhos têm saído do espaço suburbano e, aos poucos, tem-se vindo a afirmar no mundo das artes, tendo já participado em diversos projetos.
Onun considera-se um artista que emerge de contextos periféricos e da inspiração recebida por toda a sua comunidade da Linha de Sintra, com a qual desenvolve o seu trabalho. Neste momento, ocupa grande parte do seu tempo a desenvolver novos projetos para exposições.
Dando-lhe liberdade para criar a obra sobre o tema que desejasse, presenteou-nos com Vivências, uma representação visual do quotidiano dos jovens de Mem Martins, na Linha de Sintra, através de “pinturas intemporais e nostálgicas”.
Vivências
Vivências, esta obra faz parte de uma sequência de imagens sinalizadas especificamente. São representações inspiradas em fotografias e em acontecimentos da zona de Mem Martins na Linha de Sintra. Cada zona tem a sua história e identidade local e, ao contrário do que se pensa, a periferia da cidade não é exceção. Pretendo destacar uma realidade dos jovens que nela vivem. Estes não se veem identificados e valorizados com o sistema atual devido a todos estes anos em que os segregaram de oportunidades de se expressarem de variadas formas. Através da representação visual do quotidiano dos jovens, pretendo dar cor e voz a quem está esquecido e invisibilizado.
Descobre a obra aqui:
Quisemos saber mais sobre as ilustrações que criou para esta obra e partilhamos contigo, de seguida, a breve entrevista que lhe fizemos.
Gerador (G.) – Foste o autor da obra gráfica desta Revista Gerador. Quando te lançámos o desafio de ocupares estas páginas da Revista, o que te levou a escolher ilustrar estas Vivências?
Nuno Trigueiros (N. T.) – O que me levou a escolher estes temas para as ilustrações esteve relacionado também com alguns dos temas que esta revista aborda. Escolhi abordar os jovens que, muitas vezes, são inviabilizados na nossa sociedade.
G. – Que histórias e identidades procuraste trazer nestas ilustrações que tomam lugar em Mem Martins?
N. T. – Procurei trazer simples experiências e vivências básicas de rua, cheias de histórias, gargalhadas, entre outras coisas.
G. – Na tua obra, vemos que destacas os jovens. Que invisibilidades notas existirem no quotidiano dos mesmos?
N. T. – Os jovens da periferia são sempre vistos como «ocupadores», «vândalos» aos olhos de muitos cidadãos. Existe muita falta de compreensão por parte da sociedade em geral, e tento pintá-los de forma a perpetuá-los em pinturas e suavizar a sua presença.
G. – Apresentas-te como o artista dos selos que coleciona imagens. O que encontras nesta linguagem dos selos que te levou a escolhê-los para enquadrar as tuas ilustrações, de uma forma transversal no teu trabalho?
N. T. – Os selos começaram apenas como uma nova forma estética de me exprimir, até que, quando dei conta, faziam grande parte do meu trabalho. Os selos são um registo e uma forma de identidade com muitos anos e, de alguma forma, sinto que escolhi os selos pela sua característica intemporal, que é o meu desejo – fazer pinturas intemporais e nostálgicas.
A obra gráfica foi originalmente publicada na Revista Gerador 39, que podes comprar aqui:
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Revista Gerador 39
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