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Opinião de João Teixeira Lopes

Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Mestre em Ciências Sociais pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação. Foi programador de Porto Capital Europeia da Cultura 2001, tem 23 livros publicados (sozinho ou em co-autoria) nos domínios da sociologia da cultura, cidade, juventude e educação, bem como museologia e estudos territoriais. Coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.

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Nas Gargantas Soltas de hoje, João Teixeira Lopes fala-nos sobre a flotilha que se dirige a Gaza, enaltecendo o gesto de partir e o ideal da viagem contra a morte e o genocídio.

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Há uma flotilha a caminho de Gaza e o Ministério israelita dos Negócios Estrangeiros ameaça os ativistas com prisão ou pior (há quem clame pelo seu assassinato) por os considerar “terroristas” e “emissários do Hamas”. Sabemos como a morte é uma opção de Estado. Achille Mbembe fala mesmo da necropolítica para designar as formas de exercício do poder contemporâneo em que os Estados, regimes ou grupos definem quem pode viver e quem deve morrer. Israel é um brutal cultor da tortura, da mutilação e do genocídio; nenhuma consideração ética serve de aviso, viva a morte! é o seu lema. 

Gostava de acentuar o simbolismo da flotilha. Mais importante do que chegar a Gaza para distribuir alimentos e medicamentos é a viagem. A disponibilidade e a generosidade de sair do sofá e de partir, ligar um ponto a outro, estabelecer um trajeto, desenhar um arco no mar. Há neste processo um sentimento religioso subjacente, no sentido mais profundo do termo, distante do respeito conformista pelas divindades ou da observância esotérica e estrita de ritos e dogmas, mas próximo de um sentimento de união, de religar, voltar a juntar as pessoas que lutam para salvar um povo e parar um genocídio – e nisso se cumpre uma transcendência, a vontade indómita de superar a fatalidade da força bruta. 

A flotilha é quixotesca porque o inimigo é gigante, mas não são moinhos de vento que se combatem, é um regime concreto, identificado, com dispositivos, máquinas de terror e de extermínio. 

Como no poema Ítaca, de Constantino Cavafy, os navegantes não temem os Lestrigões, nem os Ciclopes, nem o selvagem Poseidon, chegar pode ser lento, mas uma emoção os tocará, “um pensar elevado”, acima da mesquinhez e das rotinas tépidas. 

Terão deixado o seu contributo e a sua marca. Acontece o que acontecer, cheguem ou não a Gaza, o certo é que não ficaram no sofá, nem se resignaram a tecer ladainhas de autocomiseração. Pelo seu gesto, pela determinação de partir, o mundo já ficou um pouco melhor.  Mesmo que não os deixem chegar a Gaza, a terra será tocada, lembrada e um dia resgatada. 

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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