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Pergunta da Sorte com André Nascimento

André Nascimento, músico e sonoplasta, dá uso a uma série de teclados, percussão eletrónica e,…

Texto de Andreia Monteiro

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André Nascimento, músico e sonoplasta, dá uso a uma série de teclados, percussão eletrónica e, por vezes, dá uma mãozinha noutros instrumentos como é o caso da guitarra. Atualmente faz parte de projetos como Alexander Search, Ogre com a Maria João e integra o álbum, quase a estrear, do Júlio Resende. Para além da sua atividade como músico, também tem trabalhos em criação de bandas sonoras para vídeo, teatro, videojogos, novos media e projetos de artes digitais.


Com ponto de encontro marcado na Costa da Caparica, num dia em que o sol convidava uma ida a banhos, o André Nascimento levou-me até ao Parque da Costa da Caparica com a promessa de que haveria lá um auditório engraçado onde poderíamos fazer a entrevista. O André partilha comigo que, de vez em quando, acontecem ali concertos e que viu a Pergunta da Sorte com a Sofia de Portugal, o que o fez pensar que o ambiente seria parecido. Escolhemos uma das fileiras para nos sentarmos de frente para o palco de pedra. Sentamo-nos e explico-lhe as regras da Pergunta da Sorte. O André lança o dado e avançamos 4 casas indo parar à casa do Sê Criativo, a casa que lança um desafio que o convidado tem de resolver de forma criativa. Começamos em beleza com o André a virar a carta que revela a primeira pergunta, numa das casas mais divertidas deste jogo.

Sê Criativo: Um amigo teu está triste porque partiu uma unha. Que playlist lhe recomendarias? (sugere, no mínimo, 5 músicas).  

André Nascimento (AN): Epah fogo! Agora assim de repente… Bem, é melhor não pensar muito nisto. Karma Police dos Radiohead, Never Catch Me do Flying Lotus, The World Keeps Turning dos Napalm Death, porque é preciso distrair da tristeza de ter partido uma unha. E faltam duas, não é?

Andreia Monteiro (AM): Faltam duas.

AN: Shout Me Out dos TV on the Radio, que também é uma música com energia, alegre e ajuda a distrair. No final, para acalmar, um movimento do The Desert Music do Steve Reich.

Após este conselho musical para um problema tão sério é altura de voltar a fazer rolar o dado. Desta vez avançamos 6 casas, indo parar ao número 10, onde nada acontece. Numa segunda tentativa, avançamos 2 casas e vamos parar à Carreira, onde as cartas revelam perguntas sobre a vida profissional do artista.

Carreira: O que gostavas de fazer que ainda não tiveste oportunidade de concretizar?

AN: Gostaria de tocar num festival de rock fora de Portugal. É um objetivo de carreira que tenho neste momento, porque seria uma experiência que me ia permitir conhecer diferentes públicos. Eu já fui a festivais fora do país, mas queria ter a sensação de tocar num, porque a energia que se sente nos festivais de rock, quando correm bem, é sempre muito intensa e gostava de saber se essa intensidade é a mesma em todo o lado. Isto da perspetiva de quem toca, não do público. E teria de ser ao ar livre!

AM: Portanto, os Alexander Search têm de ir viajar.

AN: Têm de ir viajar, sim.

Enquanto volta a lançar o dado, o André partilha que a Pergunta da Sorte lhe faz lembrar o jogo da glória. E não está longe da verdade, porque foi nesse jogo que me inspirei. No entanto, o André destaca como grande elemento deste jogo a sorte e o azar. 3 casas à frente vamos parar a mais um Sê Criativo.

Sê Criativo: Pensa no teu maior defeito. Agora desenha-o e eu adivinho qual é.   

O André começa por me avisar que não desenha muito bem, mas que se vai tentar expressar da melhor forma possível. Depois de afastar as formigas que teimavam em querer ajudar na elaboração do desenho, o André começa a rabiscar a folha de papel. Vê o resultado final do desenho em baixo:

Desenho do maior defeito por André Nascimento

AM: Irritas-te com facilidade?

AN: Não.

AM: Tens vontade de fugir das coisas?

AN: Não. Estou sempre stressado por causa das muitas coisas que tenho sempre para fazer (risos). E às vezes é difícil estabelecer prioridades, então o meu grande defeito é o stress. Mas é engraçado teres falado na fuga, porque no fundo acho que muita gente sofre deste problema hoje em dia. As pessoas sentem sempre que estão em fuga para algum sítio. Ou pelo menos com muita pressa de chegar a algum lado, e às vezes nem elas próprias sabem que lugar é esse.

AM: É tudo muito efémero.

AN: É. É tudo demasiado efémero e as pessoas, de facto, às vezes, é como se tivessem fogo no rabo ou relâmpagos a choverem na cabeça. São demasiadas coisas, estímulos e exigências ao mesmo tempo.

AM: Sentes muito isso no mundo da música?

AN: Sim, mas acho que isso vem com a profissão. Acho que é uma profissão muito instável, em que mesmo quando estás instável e tens problemas na tua vida tens sempre de manter a veia criativa. O que, aliás, é muito difícil. Até porque existe um grande mito em como as fases negativas da vida, o estar-se irritado, deprimido ou com stress são grandes impulsionadores da criatividade, mas não acredito muito nisso. A pessoa tem de ter algum equilíbrio para conseguir criar. As pessoas que conseguem criar recorrendo a isso, fazem-no como uma espécie de terapia, como forma de se expressarem e porque têm coisas para dizer. Mas duvido que consigam manter essa veia criativa durante muito tempo, porque a pessoa acaba por queimar passado um bocado. É preciso alguma estabilidade, um centro para se conseguir criar. O que é um paradoxo, porque a profissão de músico, com esta coisa de se andar de um lado para o outro, às vezes dificulta isso. Não é como ser pintor ou escritor em que temos mais aqueles momentos zen e em que nos podemos centrar no trabalho. Mas lá está, é um paradoxo porque também é isso que torna a música interessante (risos). Agora, há também a questão social. Acho que toda a gente vive, nos dias que correm, com um stress constante. Vejo muito isso nas pessoas à minha volta e o problema é quando elas não têm um escape criativo para isso. Mesmo assim diria, para resumir, que o meu defeito é, às vezes, stressar demasiado com as coisas. Mais do que aquilo que elas precisam.

Acabando de falar sobre o seu maior defeito, o André fica a olhar para mim. É então que nos começamos a rir e ele partilha que não está habituado a esta dinâmica, porque o formato normal das entrevistas é o entrevistador estar sempre a fazer perguntas, mas neste caso é ele que as tem de lançar. Lançando, então, o dado avançamos 4 casas e adivinhem onde fomos parar? Parece que o André tem queda para o Sê Criativo.

AM: Adoras esta casa! (risos)

AN: O cérebro persegue-me! (para os mais distraídos, o cérebro é a imagem da casa Sê Criativo)

Sê Criativo: Faz o trecho de uma música com as 5 palavras que te vou dizer.

AN: Ah não, não! Tenho de te dizer uma coisa. Eu canto muito mal!

AM: Mas estamos bem com isso (risos).

AN: Quanto muito vou dizer alguma coisa.

AM: Também pode ser!

É tempo de escolher as cinco palavras que o André vai ter de utilizar na sua composição de última hora. Escolhi as palavras eletrónica, rock, praia, formigas e parque.

AM: Muito fácil, ou não?

AN: Muito fácil… Eu nunca escrevi uma letra na vida.

AM: Pronto, então é a tua estreia!

AN: Obrigado Andreia!

AM: Ora, de nada! (risos)

Ainda sem acreditar na sorte que lhe calhou, o André diz-me que isto vai levar muito tempo, mas eu cá não estou com pressas. Bem preparado como está sempre, tira uns papéis do bolso para fazer um primeiro rascunho desta sua primeira composição. Escrevinha a primeira tentativa, depois a segunda e, estamos quase lá. Por fim, lá se contenta com a terceira leva de aperfeiçoamentos. Passa a letra para o meu papel, que podes ver em baixo:

Letra de música por André Nascimento

Ouve o André a ler a letra daquela que é a sua primeira composição literária – atenção que isto é uma estreia absoluta só para o Gerador! – de seguida:

Antes de voltar a lançar o dado, o André confessa que estava com medo que lhe saísse esta pergunta. Mas a prova foi mais que superada!

AN: Agradeço-te imenso por não me obrigares a cantar (risos). Aliás, as pessoas que ouvirem a gravação também vão agradecer. Por acaso, isso é uma coisa que eu podia ter dito para os meus defeitos. Faço música eletrónica, toco um bocadinho de instrumentos também, guitarra e teclados, mas tenho uma grande falha, outro grande defeito enquanto músico: é que canto pessimamente e os músicos deviam conseguir, pelo menos, cantar um pouco. Acho que é essencial.

AM: Mas isso treina-se. É um músculo.

AN: É um músculo, é verdade.

Exercitando agora o dado, este manda-nos avançar 5 casas e vamos parar a uma Pergunta Rápida, onde temos cartas com perguntas de sim ou não que têm de ser respondidas sem pensar muito.

Pergunta Rápida: Primeiro o leite ou os cereais?

AN: Leite.

AM: És dos meus! (risos) Não gosto dos cereais moles.

AN: Exatamente!

AM: E depois vou metendo mais cereais à medida…

AN: Claro! Obviamente.

Voltamos a lançar o dado e agora avançamos 6 casas, indo parar à casa da Carreira.

Carreira: Se não precisasses de dinheiro para viver, o que estarias a fazer profissionalmente?

AN: Música, obviamente. Isto pode ter resposta múltipla?

AM: Pode!

AN: Eu tenho vários interesses na vida. Música, gosto de literatura, gosto de escrever. Tinha uma grande paixão por banda desenhada quando era miúdo e nunca aprendi a desenhar como deve ser, mas gostava de trabalhar em algo relacionado com essa área. Acho que é uma forma de arte que talvez esteja a desaparecer, mas que eu aprecio muito. Sempre fui um geek dos computadores. Gostava de ter tempo para aprender a programar. Tanto por causa das coisas que eu já faço, mas também porque já fui um geek de videojogos quando era miúdo. Podia ser algo relacionado com essas áreas, ou nem ser isso. Ou seja, eu estou a ver-me a trabalhar nisso só por gozo. O problema é que precisaria de muito tempo para aprender a fazer isso como deve de ser e o mesmo em relação ao desenho. Resumindo e concluindo, música, desenho, escrita e computadores.

AM: Mas mesmo não trabalhando nessas áreas acabas por trabalhar com elas, porque fazes bandas sonoras para os videojogos, por exemplo.

AN: Já fiz, sim. E também sou tradutor.

AM: A sério? De que línguas?

AN: Inglês e espanhol. E também já fiz trabalhos em que fiz revisão e edição de texto. Na verdade eu já fiz isso tudo. Portanto, eu não sei se respondi a esta pergunta! (risos) Se não precisasse de dinheiro para viver era música na mesma. A resposta curta é essa, mas tenho vários interesses na vida.

AM: Isso é o que faz uma grande pessoa, eu acho.

AN: Espero que sim! (risos) Acho que nunca faria só música. Seria sempre o principal, mas nunca faria só música. Há outras áreas criativas, como as que eu disse, que me interessam.

AM: E complementam-se!

AN: Complementam-se, sim.

AM: Uma coisa que adoro é quando estão a tocar ao vivo e há alguém a acompanhar declamando poesia.

AN: Sim, mas atenção que já vi coisas dessas a correr muito mal em termos estéticos. Descamba muito facilmente para a parolice. Que é um conceito muito subjetivo, claro que é. Mas já vi coisas dessas a correr muito mal. Mas quando é bem feito, é muito bonito.

AM: É preciso saber fazer.

AN: Acho que é preciso ser uma pessoa que saiba declamar e que seja um ator, no fundo. Dá-se muitas vezes o caso de os poetas não serem bons declamadores. Se calhar, a maior parte deles não o são. É um trabalho criativo que requer tanta introspeção que, se calhar, muitas vezes são pessoas que não estão habituadas a declamar ou falar em público.

AM: Sim, não é só chegar ali e começar a ler um poema. É difícil e requer um trabalho prévio de casar o poema com os tempos da música e as próprias dinâmicas.

AN: Um paralelo que eu faço com isso tem a ver com trabalhos que já fiz de banda sonora, sonoplastia, para teatro. Já colaborei com um grupo de teatro aqui da zona de Almada e também fiz um espetáculo que era um misto de dança, teatro e novos media com um artista digital que se chama Ivan Franco e não vive em Portugal neste momento. Essa questão dos tempos, de tudo bater certo… para mim o desafio era o contrário – o som acompanhar a intensidade do espetáculo. Ainda por cima trabalhando com som pré-gravado e ter, por vezes, de fazer alterações antes do espetáculo. Percebo esse lado. Do lado dos atores, de quem está a declamar, a pessoa tem de ser musical. Não há outra maneira de descrever isto.

AM: E não pode estar só focada no texto e na sua performance. Tem de estar em sintonia com os músicos e saber ouvir.

AN: Exato. No caso de haver muitos efeitos sonoros e eles fazerem parte do espetáculo, é preciso saber reagir a eles. Voltando atrás na pergunta do que eu faria, há muita coisa que gostaria de fazer e acho que uma vida não chega para tudo. Nunca vou ter tempo para ler os livros que quero ler, nem para visitar os sítios todos que quero visitar. Acrescentava as viagens e videoarte à lista anterior. O resto não vale a pena dizer, porque tem de estar sempre presente na nossa vida – o convívio com as pessoas de quem gostamos.

AM: Verdade. Ter aquele balanço (risos).

É altura de avançar. 1 casa à frente vamos parar a uma Pergunta da Sorte, a casa em que posso fazer a pergunta que escolher na altura.

Pergunta da Sorte: Fala-me dos projetos musicais de que fazes parte neste momento e diz-me o que de melhor tiras de cada um.

AN: Posso começar pelos Alexander Search. É um projeto que me permite estar a tocar com músicos que são incríveis, e para mim é uma grande honra estar a tocar com eles, e trabalhar num projeto que se baseia num autor que admiro imenso – Fernando Pessoa. Não sou especialista em poesia. Leio muito mais prosa, mas na língua portuguesa sempre foi o poeta que mais gostei de ler. Isto não é para dar o serviço de promoção do projeto em que estou envolvido, mas sempre foi assim. Para mim é "o" poeta da língua portuguesa até hoje. Para além do conceito do projeto e do convívio que tenho com as pessoas, o que tiro mais daquilo são as várias linguagens musicais em que o projeto se move e que me dizem muito. Gosto muito de rock e aquilo é uma banda baseada no rock e pop. Tem aquela energia em palco que é difícil ter em outros géneros musicais. Não é melhor, nem pior, é diferente. Identifico-me muito com a linguagem musical do projeto e é um espaço para dar vasão a essa energia da música rock. É o elemento que tiro daí, é onde posso exprimir a minha faceta rock neste momento. Com a Maria João…

AM: Num projeto chamado Ogre, não é?

AN: É o Ogre. É um grupo de fusão de música eletrónica e de jazz que a Maria João iniciou há uns anos e aí é onde lido mais com a maravilha do imprevisto e da improvisação. Isto para além de estar a tocar com uma das melhores cantoras do mundo, o que também é um privilégio. O que tiro daí é a aventura da improvisação e imprevisto. Com um projeto, cujo disco vai sair agora, do Júlio Resende, o Cinderella Cyborg, o que tiro daí, para além de estar a tocar com uma pessoa que estimo muito, é… a música do Júlio é muito emocional e nos seus melhores momentos amplia o nosso estado emocional e leva-nos a uma introspeção. Leva-nos a explorar os nossos sentimentos. Acho que a música do Júlio passa muito por aí. A maneira como ele compõe e toca. Aí acho que seria o elemento que retiraria desse projeto.

AM: Que bonito o que acabaste de dizer. Eu consigo identificar-me com isso, porque sou fã do Júlio e consigo perceber que mexe muito connosco. Não há como ouvir o Júlio ao piano e não…

AN: Não sentir alguma coisa!

AM: Sim! Ou não ser transportado para outro sítio.

AN: Mesmo quando ele está a tocar coisas com que não nos identificamos esteticamente há sempre ali alguma coisa que mexe.

AM: Até mesmo pela fisicalidade dele enquanto toca.

AN: Sim, sim. Nesse aspeto o Salvador Sobral faz o mesmo quando está a cantar…

AM: Sem dúvida!

AN: E a Maria João também leva as pessoas em viagens incríveis. Nesse aspeto tenho a sorte de tocar em projetos encabeçados por grandes artistas. É uma sorte que eu tenho. Também estou envolvido em outros projetos. Tenho várias coisas no baú que lá ficarão enquanto eu achar que a coisa não está terminada. Tenho algumas músicas minhas, mas não sou compositor, como o Júlio é, ou como o João Farinha (teclista dos Ogre). Ou seja, é um processo que para mim leva mais tempo. O que tiro desse projeto, que espero um dia vir cá para fora, é a minha expressão pessoal musical. Também estou envolvido numa quarta banda, que tem uma componente visual e se chama Tripé. É uma banda baseada em Cascais que tem um som um pouco retro, porque se inspiram em sons que têm a ver com o rock progressivo, com a música ambiental e com uns toques de eletrónica que eu acrescento. Colaboro com essa banda de vez em quando. Daí o que eu retiro é uma viagem audiovisual, porque os concertos deles têm acompanhamento de vídeo e então daí consigo ter a experiência da sinestesia, que é uma coisa que sempre me fascinou.

AM: Disseste que não eras compositor, mas no teu site diz que és um sound designer. O que é isto de ser um sound designer?

AN: Para mim a tradução disso é sonoplasta. Como ponho o meu site em inglês... porque já trabalhei, mesmo em trabalhos comerciais, para clientes estrangeiros, tenho o site nessa língua. Mas não é nada de misterioso. Na verdade, sou músico e sonoplasta. Esse é o termo que uso em português - até porque há uma mania agora de as pessoas usarem termos em inglês para definir a sua profissão quando existem palavras em português. Não é esse o caso. É pura e simplesmente porque o meu site está em inglês. Um sound designer é um sonoplasta.

Cada vez mais perto da reta final do jogo, o André confessa que já está mais à vontade com isto da entrevista e acrescenta que, se eu quiser, já posso ser mais mazinha nas perguntas daqui para a frente. Após lançar o dado, avançamos 6 casas e vamos parar a mais uma casa da Carreira.

Carreira: Qual foi a maior peripécia que te aconteceu num dia de trabalho?

AN: Vou escolher uma, porque já houve várias. Diria que a maior peripécia que me aconteceu foi num dia em que tive de tocar, em menos de 24h, dois espetáculos com a Maria João em dois países diferentes.

AM: Uau! (risos)

AN: Fomos chamados de última hora para tocar num festival de jazz na Hungria e no dia antes estávamos a tocar no norte de Portugal. Foi uma daquelas sobreposições malucas. O pessoal desse festival de jazz tinha perdido um dos artistas e já tinha havido a possibilidade de a Maria João ir lá tocar, então eles aproveitaram e fizeram esse convite. Fizeram um pouco de ‘choradeira’ a dizer que precisavam mesmo de alguém para preencher aquele slot, porque o artista que ia tocar nessa noite teve um problema com aviões e não conseguiu chegar, e também gostavam que a Maria João lá fosse. À última da hora arranjaram-nos bilhete. Tocámos no norte de Portugal. Acabámos o espetáculo, arrumámos tudo, fomos de carro diretamente para o aeroporto de Lisboa, apanhámos um avião de madrugada, onde aterrámos em Budapeste. Depois, foi uma viagem de 3h de carro e, ao final do dia, largaram-nos diretamente no palco para montarmos as coisas. Descansámos meia hora e depois começámos a tocar. Depois, acabou o concerto e eu, basicamente, morri (risos). Acho que foi uma das piores peripécias e ao mesmo tempo uma das melhores, porque estas coisas dão calo. Acho que a Maria João já passou por várias coisas destas e ela tem mais energia que nós todos juntos (risos).

AM: Isso foi obra!

AN: Sim, mas não recomendo repetir isto muitas vezes.

AM: E para quem tem muito stress…

AN: Mas aqui o stress até ajuda, porque foi um concerto completamente movido a adrenalina. Depois do concerto é que se começou a sentir a loucura que tínhamos acabado de fazer (risos).

Com um baixo índice de loucura à mistura, voltamos a dar voz ao dado que nos manda avançar 1 casa, indo parar ao número 43, onde nada acontece. Repetimos o lançamento e, 6 casas à frente, vamos parar ao Pessoal, onde as cartas fazem perguntas sobre a vida pessoal do artista.

Pessoal: Qual é o teu talento escondido?

AN: Apesar de ter uma memória muito fraca para questões práticas da vida, tenho uma memória bastante boa para curiosidades históricas, conhecimentos e factos relacionados com cultura geral. Se isso tem alguma utilidade é a de me fazer ganhar muitos jogos de Trivial Pursuit.

AM: Quando eu fizer uma versão do jogo que tenha a ver com cultura geral, já sei quem chamar (risos).

Antes de darmos por concluída esta jornada pelo tabuleiro da Sorte temos ainda a oportunidade de ver respondida mais uma Pergunta da Sorte, ao avançarmos 4 casas.

Pergunta da Sorte: Para uma pessoa que não percebe nada de eletrónica como eu, como lhe apresentarias os teus teclados e outros instrumentos que uses?

AN: Quando se fala de alguém que faz música eletrónica a questão é que existe uma grande variedade de ferramentas diferentes para se fazer eletrónica, inclusive até agitar os braços no ar com sensores. Pode ser uma coisa tão louca como isso, ou tão convencional como usar um teclado e um sintetizador. Ou a combinação de microfones com efeitos ligados a instrumentos normais. Por isso é que às vezes é difícil responder a essa pergunta. Como é que eu apresentaria? Simplesmente uso teclados, no fundo sintetizadores, para tocar algumas linhas de baixo e alguns acordes. Tenho um segundo teclado que serve para tocar sons mais de percussão ou sons que ocupam o espaço da bateria. Tenho ainda um terceiro teclado que serve para lançar micro sequências de sons, os chamados loops. Tudo isto está ligado ao computador e todo o som sai de lá. Portanto, o computador é o cérebro e os teclados são os braços. Há algumas partes das músicas que são feitas de forma mais convencional a tocar em teclados ou a bater no teclado percussivo e há outras partes das música que eu faço pondo os loops a tocar e utilizando os botões e controlos do teclado para fazer manipulações do som que não são possíveis fisicamente. Se me perguntam qual é a minha função na banda? Sou uma espécie de percussionista e teclista eletrónico. É mais ou menos isso. Eu não sou DJ, nunca fui. Comecei por tocar guitarra e baixo em bandas de rock e metal, depois aprendi um pouco de jazz e depois vim parar aqui (risos). Mas vim parar aqui com estas ferramentas, com as quais acabo por fazer jazz e rock, o que para mim está ótimo!

A próxima paragem é a Casa Gerador, a casa final do jogo, onde o entrevistado irá responder a uma pergunta da convidada anterior e deixar uma pergunta para o próximo. Ainda se lembram da pergunta da Sofia de Portugal? “Gostaria de saber a definição pessoal do que é a arte. O que é a arte para ti?”. Podes rever a pergunta da Sofia aqui.

Vê o vídeo em baixo para saberes qual a resposta do André e a pergunta que deixou para o próximo convidado da Pergunta da Sorte! Vemo-nos em breve! ;-)

Entrevista por Andreia Monteiro

Se queres ler mais crónicas da Pergunta da Sorte clica aqui.

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