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“Power List 100”. Uma iniciativa sobre reconhecer, empoderar e celebrar. De negros para negros

“Esta iniciativa é, no fundo, um remake de tantas outras listas que vemos, sobretudo neste período de final de ano, que reconhecem o percurso excecional de diferentes pessoas, mas que eu, como pessoa negra, quando olho, sinto-me muito pouco representada.” As palavras são de Vanessa Sanches, co-fundadora da plataforma Bantumen, que lançou, no último sábado, a segunda edição da “Power List 100”, uma iniciativa que distingue anualmente as 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia.

Texto de Flavia Brito

Atuação da Aurora Negra na Gala “Power List 100”. Fotografia de Bruno Miguel

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“Este projeto teve uma enorme adesão desde a sua primeira edição, em 2021, o que veio confirmar que era algo que fazia falta dentro da comunidade”, partilha a jornalista, que, em 2015, criou — com o também jornalista Eddie Pipocas — a Bantumen, uma plataforma online que pretende preencher a lacuna de falta de representatividade de pessoas negras na comunicação social portuguesa.

“Estamos a criar um espaço onde a cultura urbana afrodescente é celebrada. A “Power List 100” surge exatamente neste sentido, tendo como objetivo criar visibilidade e reconhecimento aos esforços incansáveis de quem, muitas vezes, por uma questão de tez, nem sempre alcança o interesse dos meios de comunicação tradicionais”, refere Vanessa.

Mas este é um projeto que a plataforma não concretiza sozinha. Este ano, a iniciativa — que se associou ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, assinalado este sábado — contou com a parceira de sete meios de comunicação de seis países de língua oficial Portuguesa: o Mundo Negro (Brasil), a Nobalur (Guiné-Bissau), a PlantinaLine (Angola), a Rádio Cidade e o Balai CV (Cabo Verde), a STP Digital (São Tomé e Príncipe) e a Xonguila (Moçambique). 

Depois de uma primeira indicação, entre todas as plataformas, dos nomes mais relevantes do último ano, 74 jornalistas e produtores de conteúdos votaram em mais de 220 personalidades. 

Desta votação nasceu a “Power List 100” que consagra 100 personalidade, das mais variadas áreas de atuação, géneros e idades, mas que, não obstante, têm um ponto em comum: todos criam um impacto positivo e impulsionam um sentido de representatividade e pertença entre a comunidade negra lusófona. 

Entre artistas, académicos, influenciadores digitais, desportistas, empreendedores e muitos outros, os premiados destacam-se nas mais variadas áreas profissionais e associativas, e refletem a multiplicidade, excelência e potência de pessoas negras que partilham o português como língua materna, independentemente da sua localização geográfica.

Torna-se difícil evidenciar nomes de uma lista repleta de excelência. O melhor é mesmo conhecê-la aqui!

Uma "expansão coletiva" de reconhecimento e celebração 


Os nomes das personalidades distinguidas foram revelados no último sábado, 3 de dezembro, no site da "Power List 100", mas também num evento que decorreu no teatro municipal São Luiz, em Lisboa, e onde se reuniram alguns dos homenageados.

“Em Portugal, o que acontece muito é vermos, com demasiada frequência, sempre os mesmos nomes”, avalia Vanessa. “Acho que há uma preguiça em se querer pesquisar mais, em se querer saber mais sobre outras pessoas, e escolhem-se sempre, infelizmente, os mesmos nomes, não por falta de mérito”.

Paula Cardoso, fundadora da comunidade digital Afrolink, aplaudiu, por isso, a iniciativa da Bantumen de colocar a comunidade negra “no centro”, assumir a liderança e realizar estas premiações.  “Não foi por acaso que a determinada altura aconteceu a iniciativa "Oscars So White”, relembrou ao Gerador

Mas, para além do “reconhecimento de trajetórias, de feitos e de conquistas”, a também apresentadora do talkshow online “O Lado Negro da Força” sublinhou ainda a importância da celebração. “Não é só reconhecer, porque reconhecemos nas notícias também. Mas é termos aqui um espaço para bater palmas, para ouvir também o que é que isto representa para cada um.” 

O evento no São Luiz foi isso mesmo, uma vez mais: partilha, empatia, inspiração e comoção. As palavras foram de força e agradecimento, mas revelaram também as lutas de quem não se resignou à invisibilidade imposta, tantas vezes, aos corpos negros.

Para a atriz e criadora Isabél Zuaa, o momento foi de “expansão coletiva”. “Nós andamos nas nossas jornadas individuais, muitas vezes solitárias, em mecanismos e estruturas em que nos sentimos muito apertados e preteridos, e é quando nos encontramos que temos a possibilidade de celebrar cada jornada e, principalmente, as nossas mães, que foram muito faladas aqui”, afirmou artista. “Para as nossas jornadas de emigrantes e de pessoas que nasceram, num país que não nos reconhece enquanto cidadãos, é extremamente importante.”

Yolanda Tati, que apresentou a primeira edição da “Power List 100”, subiu desta vez ao palco, enquanto homenageada. “É emocionante ver esta sala cheia de talento e ver o quão promissor se mostra o futuro a partir do momento em que vemos luz em cada olhar, dedicação em cada trajeto, muito amor em cada ofício”, revelou a comunicadora e influenciadora digital. “Sinto-me bastante em casa. Isso é acolhedor, é quente e é muito encorajador.”

Logo na primeira edição, realizada no mesmo teatro, a iniciativa superou as expectativas. “Todos nós, ali dentro, enquanto pessoas negras, sentimo-nos reconhecidos, sentimo-nos vistos. Há muito que há essa necessidade e, sobretudo quando é de nós para nós, acho que tem um efeito muito mais avassalador.”, diz Vanessa. “Não estamos habituados a uma sala, num espaço emblemático, em que quase a totalidade da sala, dos presentes, são pessoas negras e que estão ali para se reconhecerem umas às outras.”

“Eventos como estes são fundamentais na nossa comunidade para fazer ver às gerações seguintes que é possível”, comentou também Abdel Camará, empreendedor, coach e mentor de negócios, e outra das personalidades distinguidas este ano. “Estamos aqui apenas a fazer um trabalho que os nossos pais começaram. Eles não tiveram o palco que nós tivemos, mas estamos a transmitir outra coisa, para outras pessoas e para outras gerações que aí vêm. Isso é fenomenal e fundamental.”

Mas nem só de discursos se fez este evento, que contou com a apresentação de Cláudio Bento França, atual pivô da SIC. A produtora, cantora e multi-instrumentista Nayela, o quarteto de cordas Active Mess e o trio de arte performativa Aurora Negra - composto por Nádia Yracema, Isabél Zuaa e Cleo Diara - formam o cartaz de artistas que subiram ao palco, para tornar o evento ainda mais especial.

E não é por acaso que são todas mulheres. “Sentimos uma necessidade de destacar as mulheres negras, porque a mulher negra está sempre no fim da escala. E acredito profundamente que, quando uma mulher negra se movimenta, o mundo movimenta-se à volta dela”, nota Vanessa. “A mulher negra, para mim, é sinónimo de liderança.” Para além disso, reforça, “são mulheres fantásticas, que têm feito coisas tão bonitas, portanto, não tinha como ser diferente.”

Destaque para o ecossistema empreendedor e de inovação afrodescendente


Este ano, foram ainda atribuídos três prémios destinados ao ecossistema empreendedor e de inovação — o “Djassi Award”, atribuído a Ricardo Lima, em conjunto com a Djassi Africa; o “Empreendedor Promissor BANTUMEN” e o “Prémio de Mérito - Empreendedor BANTUMEN”, entregues a Nuno Varela e Antonio Rocha, respetivamente, p’la Startup Portugal. 

“Não gosto de dizer que temos cada vez mais [empreendedores], porque, no fundo, nós é que ouvimos falar cada vez mais de empreendedorismo dentro da comunidade negra, mas ele sempre teve presença. Só não o víamos”, diz Vanessa. “Houve aqui uma necessidade de criar algo que também possa destacar este lado empreendedor, porque, acredito, pessoalmente, que é através do empreendedorismo que a comunidade negra pode vir a ganhar algum destaque e até algum poder social dentro do universo português.”

Na gala, Rudolphe Cabral, chief venture innovation da Djassi Africa — que lançou, este ano, um questionário para mapear os black founders em Portugal — reforçou também a importância de premiar “os bons exemplos”. Mas mais do que isso, disse ao Gerador: "é preciso agora começar a dar visibilidade aos afro-empreendedores” no país.

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