Recentemente, foram discutidas na Assembleia da República as suiniculturas do concelho de Leiria e os crimes ambientais inerentes à sua existência. Para aqueles que não estão a par, passo a explicar a situação. O concelho de Leiria acolhe cerca de 400 suiniculturas que, frequentemente, promovem descargas de efluentes suinícolas para a Bacia do Rio Lis. Como devem adivinhar, este encontra-se extremamente poluído, a população queixa-se regularmente do cheiro proveniente desta poluição e este rio, que em tempos era utilizado pelos populares para se banharem, constitui agora um verdadeiro perigo para a saúde pública.
Assisti a este debate com atenção e este serviu para me relembrar, mais uma vez, dos desafios ambientais que o nosso país enfrenta. Poucos dias antes desta discussão, a 7 de maio, a Associação Zero partilhou que se a humanidade consumisse como Portugal, os recursos do Planeta esgotar-se-iam nesse dia. Sim, a 7 de maio, quando nem sequer a meio do ano vamos. Para acrescentar a isto, a 11 de maio Emmanuel Macron, em tempos o baluarte do combate às alterações climáticas na Europa, pediu que houvesse ‘’uma pausa’’ no avanço de normas ambientais da União Europeia. Dizia que já tínhamos feito demasiado e que tínhamos de esperar que os outros países acompanhassem os nossos avanços. Deprimente, é verdade, mas foi a este o ponto que chegamos. O ponto em que temos de parar de fazer os avanços que nos competem porque os outros países não fazem, infelizmente, a parte deles.
Recebi a declaração do presidente francês com especial choque. O nosso planeta está a morrer, estamos cada vez mais perto do ponto de não retorno e continuamos a guiar a nossa política ambiental pelos mínimos exigidos e nem isso conseguimos cumprir! O acordo de Paris estabeleceu que deveriam ser feitos esforços para manter o aumento da temperatura global da Terra em 1.5.ºC. Este compromisso, por si só, é chocante. Devíamos ser mais ambiciosos e querer diminuir ainda mais o aumento da temperatura global da Terra, mas ficamos pelos 1.5.ºC. Agora, prevê-se que cumprir esta meta será impossível.
Com isto, chego a Portugal. Somos um país pequeno e que pouco impacto tem no que são as contribuições a nível global para o aquecimento do planeta. No entanto, não nos podemos demitir de fazer o que é certo no pouco território que nos compete e os desafios não são poucos. No Algarve, está em risco de ser destruída a Zona Húmida das Alagoas Brancas para dar lugar a um centro comercial. Em Tróia, abre-se caminho para mais alojamentos turísticos de luxo que põem em causa o ecossistema dunar entre Tróia e Melides. Em Ovar, teme-se o abate massivo de pinheiro-bravo e consequente destruição do Perímetro Florestal das Dunas de Ovar. Em Leiria verifica-se o que descrevi anteriormente. Todas estas circunstâncias merecem a nossa preocupação.
Portugal tem desafios ambientais sérios que não podem ser esquecidos. Quando surge a oportunidade de os resolvermos, não nos podemos ficar pelos mínimos dos mínimos ou tentar arranjar um compromisso entre as entidades poluidoras e a proteção ambiental. Na verdade, o mínimo que podemos exigir é a proteção total dos habitats e ecossistemas em questão. Para concretizarmos a proteção do ambiente em Portugal, é preciso ultrapassar a lógica do lucro máximo e desregulado em detrimento da preservação dos habitats e ecossistemas, algo que tem reinado desde sempre no nosso país. Um passo difícil de dar, é certo. Os interesses económicos são muitos e têm muito poder e influência, mas este é um passo necessário se queremos concretizar uma política ambiental séria em Portugal.
-Sobre Rodrigo Andrade-
Rodrigo Andrade tem 23 anos e é natural do Bombarral, uma pequena vila no sul do distrito de Leiria. As ambições académicas levaram-no para Lisboa, onde se licenciou em Ciência Política no Iscte. Seguiu-se o mestrado na mesma área, uns dirão devido ao gosto pelo tema, outros por falta de originalidade, mas desta vez com especialização em Comunicação Política e Opinião Pública. Divide o seu tempo entre a terra de sua naturalidade e a capital portuguesa e dá o seu melhor para se envolver e dinamizar a vila onde reside. Para além da política, é interessado por ambientalismo, associativismo e pelo passado histórico português, mais concretamente pelo período do Estado Novo e como o seu legado se reflete nos dias que correm.