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“Só eu escapei” no Teatro Aberto: as profecias podem tornar-se realidade enquanto se bebe chá

Em diversas ocasiões, o teatro fixa-se na espuma do dias. Fala de um quotidiano semelhante…

Texto de Ricardo Gonçalves

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Em diversas ocasiões, o teatro fixa-se na espuma do dias. Fala de um quotidiano semelhante ou próximo ao do espectador, criando uma sensação de lugar comum. Outra vezes, destoa desse plano dito realista e viaja para outras dimensões, que ainda assim não deixam de ter a capacidade de tocar as pessoas, conferindo-lhe novas visões e olhares distintos.

É na deriva destes dois planos que navega Só eu escapei, peça escrita pela britânica Caryl Churchill, que estreia este sábado, dia 7 de novembro, no Teatro Aberto, em Lisboa. João Lourenço e Vera San Payo de Lemos assinam a encenação e dramaturgia deste texto escrito em 2016, que parece ganhar novo significado pela conjuntura pandémica que se vive.

Em Só eu escapei encontramos quatros mulheres - três amigas de infância e uma nova vizinha - no jardim de uma casa para conversar e beber chá. Conversam sobre o quotidiano, a família, os empregos que tiveram, as mudanças que foram ocorrendo no lugar onde vivem e, também, sobre os seus desejos e medos mais profundos. A placidez destes dias, de aparente quietude, vai revelando como cada uma tem o seu passado.

Uma não suporta gatos, nem sequer ouvir a palavra gato. Uma matou o marido e esteve oito anos presa. Uma sofre de ansiedade e tem medo de sair à rua. Já o quarto elemento - a nova vizinha - pouco se sabe da sua vida. Pode dizer-se que funciona como elemento desestabilizador, levando o espetador do plano mais ligado ao quotidiano daquelas figuras para um plano mais onírico, um tanto ou quanto profético.

Em jeito de quadros separados da narrativa que se passa no jardim - já por si bastante antinaturalista -, este quarto elemento relata as tragédias que estão a suceder no mundo, como a fome, as catástrofes naturais, as guerras e a morte. Visões apocalípticas do futuro do planeta e da humanidade, através das quais a autora propõe uma reflexão sobre o estado do mundo à escala global.

Escrita "antes de Trump, Bolsonaro e Brexit", a peça foi pensada para chegar ao palco do Teatro Aberto mesmo antes da chegada da pandemia a Portugal, tendo que ser interrompida aquando do estado de emergência e do confinamento. Aos jornalistas, João Lourenço realça que a escolha do texto recaiu sobre a sua atualidade tratada "muitas vezes de uma forma poética e às vezes dura", rementendo para acontecimentos "que já se passaram, que estão se a passar e que ainda se podem passar", ainda que tenham ganho um novo significado perante a conjuntura que se vive.

"A pandemia fez-nos pensar e conseguimos adquirir um determinado pensamento político coletivo", explica o encenador, mostrando-se grato por trabalhar com Catarina Avelar, Lídia Franco - pela primeira vez dirigida por João Lourenço -, Márcia Breia e Maria Emília Correia, "quatro grandes atrizes portuguesas cujas capacidades e currículos profissionais" representam "grande parte da história do teatro português do século XX".

Só eu escapei, título que a dramaturga britânica foi buscar à expressão "Só eu é que escapei para te trazer a nova", presente no Livro de Job e em Moby Dick, vai estar em cena até 28 de fevereiro de 2021 na sala Azul do Teatro Aberto.

A situação de confinamento parcial a que estão sujeitos 121 concelhos fez com que as sessões previstas para as 21h30 fossem antecipadas para as 19h. Com figurinos de Ana Paula Rocha e vídeo de João Lourenço/Temper Creative Agency, o espetáculo decorre assim de quarta-feira a sábado, às 19h00, e, ao domingo, às 16h00.

Texto de Ricardo Ramos Gonçalves
Fotografias de Filipe Figueiredo

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