Como se cria um festival de arte urbana no interior de Portugal, quando todo o país equipara paredes pintadas a vandalismo?
A resposta não era clara em 2011, mas foi-se revelando à medida que o tempo avançou. Após uma década, o livro "WOOL | Covilhã Arte Urbana 2011-2021" reúne todo o percurso do festival em mais de 300 páginas.
A obra é uma espécie de súmula da história deste evento pioneiro em Portugal e inclui todas as intervenções artísticas e atividades desenvolvidas pelo coletivo covilhanense que o organiza. É descrita como “um livro sobre identidade, memória, sobre a transformação de territórios, das suas comunidades e imaginários”, mas também “sobre a transformação das pessoas pelas pessoas, dos lugares pelas pessoas e das pessoas pelos lugares e inevitavelmente, pela arte”.
Lançado a propósito de mais uma edição do festival Wool – que se encontra a decorrer na Covilhã desde 11 e se prolonga até dia 19 de junho – o livro conta com textos de curadores, investigadores, designers e artistas que se envolveram no projeto.
Lara Seixo Rodrigues, fundadora do Wool, explica, em entrevista ao Gerador, que este lançamento resulta de um trabalho desenvolvido “durante cerca de um ano e meio” com o intuito de “tentar juntar todas as histórias, todas as fotografias” das muitas intervenções que agora preenchem as paredes da Covilhã (e não só). “Isto foi crescendo, fomos andando também um pouco pelo país inteiro, depois fomos lá fora e o livro também acaba por contar a história da arte urbana em Portugal”, diz a responsável. “Houve artistas que nós hoje temos como super reconhecidos que, na verdade, fizeram connosco as primeiras paredes, que foram desafios que nós lhes fomos lançando”, explica Lara Seixo Rodrigues.
De facto, há uma Covilhã antes e depois da presença da arte urbana. Entre os impactos do Wool no território envolvente, a fundadora destaca os trabalhos académicos a que deu origem, a mudança de percepção que provocou (na região e no país), a marca distintiva que deixou na cidade e a contribuição da mesma para a economia local.
“Nos últimos anos contámos com a parceria de umas 15 entidades privadas na Covilhã, que nos apoiam com bens. Se não houvesse um retorno de pessoas que visitam a cidade e que acabam por ficar, pernoitar e ver outras coisas para além dos murais, eles não apoiavam de certeza. Portanto nós temos aí um indicador de que isso acontece”, diz ao Gerador.
Além disso, este evento anual consegue ainda gerar um impacto mediático que “ronda os 900 mil euros”. Por estes motivos, a fundadora – que também é covilhanense – afirma que o Wool “é uma marca da cidade e temos aqui uma série de fatores que nos permitem afirmar isso”.
Fundado em 2011, o festival desenvolveu 43 acções (iniciativas e projectos em diferentes localizações) no total, em território nacional e internacional, segundo dados cedidos pela organização. Ao longo das suas oito edições, foram realizadas 127 intervenções artísticas (murais e instalações), pela mão de 48 artistas portugueses e 26 estrangeiros.
Nesta edição, o Wool traz ao interior do país os artistas Cinta Vidal, Reskate, Ruído e Francis.co, além de participações em acções paralelas de Mantraste e Nuno Sarmento e um concerto de Fred. Há ainda visitas guiadas e exposições abertas ao público. Mais informações sobre o livro e festival podem ser consultadas na página oficial do Wool.