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Opinião de Manuel Luar

Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa

Recordo que neste ano de 2021 será a quinta vez em que se vai celebrar…

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Recordo que neste ano de 2021 será a quinta vez em que se vai celebrar o Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa.

Costuma ser no último Domingo de Maio, conforme a resolução da Assembleia da República n.º 83/2015.

Parece que fora o caso dos votos de pesar, terá sido esta uma das poucas resoluções aprovadas por unanimidade e aclamação na nossa AR.

E muito bem.

Aproveito para tirar o chapéu ao trabalho da Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal. Sem a preparação de todos os dossiers e sua explicação a cada um dos grupos parlamentares não teria sido possível termos alcançado este objetivo da aprovação do DNG com tanta convergência. 

O local desta primeira celebração do DNG, em 2016, foi Aveiro.

Essa particularidade recorda-me que na última vez que estive em Aveiro (mais precisamente na Esgueira) tirei saudades de uma caldeirada de enguias com açafrão, num restaurante muito agradável chamado "Solar das Estátuas".

É mais conhecido na região por ser protagonista da realização de eventos de dimensão considerável (casamentos e por aí) e imagino que com esta malvada situação pandémica tenha sofrido muitíssimo.

Existe muitas vezes a noção que a exagerada dimensão destas casas - que acolhem festividades em grupo - resulta numa qualidade inferior à média quando devem acolher almoços e jantares convencionais.

Por isso tive uma agradável surpresa quando colegas meus da região ali me levaram para comer.

Deixo aqui a receita tradicional da “caldeirada de enguias”, para quem se atreva a mexer nas "bichas" ainda vivas...

A receita foi-me dada no restaurante em causa, e parece ser uma derivação da homónima que aparece no livro Roteiro Gastronómico de Portugal (Editorial Verbo).

Faço notar que "pó de enguia" é o clássico açafrão misturado com um pouco de pimenta branca e que "unto" é o toucinho gordo da barriga do porco.

Caldeirada de Enguias à Moda de Aveiro

Para se amanharem as enguias retiram-se as cabeças, lavam-se em várias águas e raspam-se para se retirarem todos os resíduos viscosos (galheiras).

Cortam-se em bocados.

Descascam-se as batatas e cortam-se às rodelas - tanto mais grossas quanto as enguias o forem. Descascam-se e cortam-se as cebolas também às rodelas.

Num tacho largo põem-se as enguias, as batatas e as cebolas, em camadas alternadas. Cada camada é regada com azeite e temperada com alho, louro, salsa, pós de enguia, sal e pimenta.

Corta-se o unto em fatias finas e dispõe-se por cima. Rega-se com um copo de água. Tapa-se a caldeirada e deixa-se cozer entre 20 a 30 minutos.

Depois das enguias cozidas - reconhece-se pela consistência -, retira-se o unto e esmaga-se com sal grosso. Junta-se o vinagre a esta papa, que se dilui depois com duas conchas do caldo da caldeirada - estas conchas de caldo devem apanhar o máximo da gordura da caldeirada.

Este preparado tem o nome de «moira» e é deitado sobre as enguias e as batatas.

Do resto do caldo da caldeirada faz-se uma sopa, a que se junta apenas pão torrado e um ramo de hortelã.

A minha mãe odiava enguias, sobretudo porque uma das vezes em que o meu pai tinha trazido as ditas ainda vivas, estas fugiram do lava-louças e desataram a passear pelo chão da cozinha…

E como tinha medo delas, foi preciso esperar que chegassem os homens da casa para se dar início à caça da enguia…

 Foi o bom e o bonito. E acabaram-se as enguias lá em casa.

-Sobre Manuel Luar-

Manuel Luar é o pseudónimo de alguém que nasceu em Lisboa, a 31 de agosto de 1955, tendo concluído a Licenciatura em Organização e Gestão de Empresas, no ISCTE, em 1976. Foi Professor Auxiliar Convidado do ISCTE em Métodos Quantitativos de Gestão, entre 1977 e 2006. Colaborou em Mestrados, Pós-Graduações e Programas de Doutoramento no ISCTE e no IST. É diretor de Edições (livros) e de Emissões (selos) dos CTT, desde 1991, administrador executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações em representação do Instituidor CTT e foi Chairman da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia (ONU) desde 2006 e até 2012. A gastronomia e cozinha tradicional portuguesa são um dos seus interesses.  Editou centenas de selos postais sobre a Gastronomia de Portugal e ainda 11 livros bilingues escritos pelos maiores especialistas nesses assuntos. São mais de 2000 páginas e de 57 000 volumes vendidos, onde se divulgou por todo o mundo a arte da Gastronomia Portuguesa. Publica crónicas de crítica gastronómica e comentários relativos a estes temas no Gerador. Fez parte do corpo de júri da AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal – para selecionar os Prémios do Ano e colabora ativamente com a Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal para a organização do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, desde a sua criação. É Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana.

Texto de Manuel Luar
Ilustração de André Carrilho

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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