fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Ana Pinto Coelho

Sobreviver à máscara

Sim, confesso que quando pensei no título tinha três ou quatro subentendidos e até sorri…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Sim, confesso que quando pensei no título tinha três ou quatro subentendidos e até sorri com as possibilidades que permitiriam escrever este texto. Mas mantive-me serena e travei tudo o que me veio à cabeça em relação às máscaras… sociais. O “cair da máscara” que, durante estes 19 meses, escondeu a verdadeira personalidade de muita gente, por exemplo.

Mas depois também percebi que, e afinal, as máscaras que usamos são, também elas, sociais, porque nos permitem mostrar aos outros o nosso entender sobre a pandemia, o posicionamento social (lá está), a forma como enfrentamos o perigo e quanto respeitamos o próximo. Sim, partilho da máxima que a minha liberdade termina onde começa a de outrem, e basta isso para me fazer usar uma máscara que irrita a garganta, seca a boca e dificulta a respiração.

Por outro lado, a máscara também me desobriga a sorrir para terceiros quando não estou para aí virada, ou porque alguém assim o espera depois de uma tirada que pensa ter piada. Também tapa qualquer outra manifestação facial que me altera, para o bem e mal, os traços normais. De repente, percebo que deixei de ser anti-social em muitas situações.

Afinal, a máscara é sobretudo social. Portanto, a questão passa a ser: conseguiremos sobreviver sem ela?

Para além das liberdades que nos retira, a máscara impossibilita namoricos à primeira vista (mesmo quando são os olhos que isto e aquilo), torna algumas conversas ainda mais surdas, permite que toda a gente ao lado fique a saber o nosso número de contribuinte e faz-nos suar ainda mais no verão.

Mas, como adiantei, nem tudo é mau. Houve menor transmissão de fluidos, o que diminuiu bastante a gripe sazonal, a urgência em ir ao dentista foi mitigada e as pessoas que sofrem de halitose nunca se sentiram tão livres. Sei que, para muitos, estas não são razões válidas mas acreditem que para outros tantos o são.

Muitos de nós estão em período estival, numa fase em que metade dos portugueses têm a vacinação completa, patrícios que foram, durante alguns meses, incentivados a marcar férias porque o pior já tinha passado, “vai ficar tudo bem”, o que é preciso é dar um boost à economia, e tantos etc. que nos queriam fazer regressar à força ao verão de 2019.

Porém, o verão de 2021 está igual ao de 2020, ou seja, sob a constante e real ameaça do vírus. E mesmo que a luz ao fundo do túnel esteja um pouco maior, a verdade é que, não só a nossa vida social mudou, como nós também. O nosso cérebro não está igual, as defesas estão armadas e olhamos para tudo e todos de soslaio e com receio.

Esta é a verdadeira máscara que já usamos e vamos usar durante muitos anos, talvez durante uma ou duas gerações, e que transforma a nossa existência social a todos os níveis.

Sim, também parei para pensar sobre isto. E escolhi alguns exemplos: quant@s d@s amig@s que estiveram presentes na minha última grande festa de aniversário pré-covid irão aparecer na próxima sem restrições de qualquer espécie? Quais dess@s amig@s perderam o emprego, mudaram de vida, casaram, separaram-se, tiveram filh@s, perderam familiares ou morreram?

Como estará o seu semblante, o sorriso, a cor da pele, o brilho do olhar? Quais serão as conversas, as conclusões, os receios, os futuros? Serão as mesmas pessoas que conheci durante décadas? Estarão disponíveis para retomar a vida?

Será que já estamos a ficar tão profissionais no uso da máscara social, em todos os seus sentidos, que vamos conseguir manter este quase anonimato mesmo sem o tecido a esconder a boca?

Afinal, como vamos sobreviver com e sem máscara?

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Ana Pinto Coelho-

É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora.  Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.

Texto de Ana Pinto Coelho

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

2 Julho 2025

Não há liberdade pelo consumo e pelas redes sociais

25 Junho 2025

Gaza Perante a História

18 Junho 2025

Segurança Humana, um pouco de esperança

11 Junho 2025

Genocídio televisionado

4 Junho 2025

Já não basta cantar o Grândola

28 Maio 2025

Às Indiferentes

21 Maio 2025

A saúde mental sob o peso da ordem neoliberal

14 Maio 2025

O grande fantasma do género

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

23 Abril 2025

É por isto que dançamos

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0