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Festeja-se, Álvaro. Uma comemoração de Campos, da Comunidade e de Pessoa(s)

FESTA DOS ANOS DE ÁLVARO DE CAMPOS, 2015. Registava-se, não pela primeira vez – mas…

Texto de Patricia Silva

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FESTA DOS ANOS DE ÁLVARO DE CAMPOS, 2015. Registava-se, não pela primeira vez - mas pelas ideias de Tela Leão seria uma estreia - a comemoração do nascimento, da vida e da morte de Álvaro de Campos. Chegando aos tavirenses através da imaginação de Fernando Pessoa, escritor e poeta português que viveu entre os anos e noventa, Álvaro (na primeira pessoa) faz-se ouvir pelas vozes de Pessoa(s), da Comunidade, das artes e dos lugares.

Assinalando a sétima edição entre os dias 15 de outubro e 30 de novembro, é sobre as cidades e poemas que se imagina. Uns acreditam que lhe da verdade. Outrxs crêm que reflete a cultura e a literatura. É assim que se afirma o entendimento plural que assinala a bagagem de Fernando Pessoa.    

Todos os anos, desde 2015, a associação cultural Partilha Alternativa coordena a celebração, contando com a participação de artistas individuais, associações culturais de Tavira e "outras paragens", estudantes, empresas e organizações sem fins lucrativos.

Iniciando-se à Mesa Posta com Mais Copos e prolongando-se até ao 'velório' na Casa de Álvaro de Campos, a FESTA DOS ANOS DE ÁLVARO DE CAMPOs não só homenageia um autor importante como associa a cidade aos olhos do criador e da personagem, a partir das reflexões e partilhas de profissionais e não profissionais.

Com uma programação que inclui performances, exposições, concertos, conferências, doçaria e roteiros poéticos, reunem-se artistas dos mais diversos destinos. A cidade de Glasgow "é uma paragem obrigatória!" É Tela quem o diz. Pelo que nos explica, foi onde Álvaro de Campos “formou-se engenheiro naval”, a única profissão que exerceu no Reino Unido antes de retornar a Portugal, segundo Fernando. Segundo Pessoa.

A sétima edição decorre de 15 de outubro e 30 de novembro, é sobre as cidades e poemas que imagina.

Dando voz à associação Partilha Alternativa que é a responsável pela FESTA, a atual presidenta da associação é também programadora de profissão. Abraçou Portugal há cerca de 30 anos. A sua primeira vez com o país foi como atriz, em 1973, fazendo parte do elenco da peça O Cemitério de Automóveis, de Fernando Arrabal, num espaço cénico construído num baldio em Cascais.

No Brasil trabalhou muitos anos como assistente de direção e produtora de cinema documentário e de publicidade, "sou luso-brasileiral com sotaque ainda fortemente brasileiro, apesar de já viver aqui há tanto temp (não que isso faça qualquer diferença)", reflete. Tendo sido diretora adjunta de programação na Expo 98, responsável pela coordenação da programação cultural dos países participantes que não de língua portuguesas, dirigiu a programação cultural dos Pavilhões de Portugal para as Expos de Hannover 2000 (comissária Simonetta Luz Afonso) e de Zaragoza 2008 (comissário Rolando Borges Martins). A artista foi ainda coordenadora da programação de Lisboa em Festa para a Egeac em 2003 e 2004.

Foi então que se mudou para Tavira em 2007. "Aqui criei a FESTA DOS ANOS DE ÁLVARO DE CAMPOS porque sempre fui fascinada por Fernando Pessoa e fã especialmente de Álvaro de Campos, mas só fiquei a saber cá que, apesar de ter estudado Pessoa desde muito cedo na escola, a personagem tinha sido criada como tavirense.  Achei que era uma característica que a cidade deveria promover e resolvi começar com esta brincadeira envolvendo tanto quanto posso os cidadãos tavirenses", afirma Tela.

Desde cedo encontrou-se com Álvaro, Fernando e com os heterónimos que lhe estão na memória. "Não fui eu que comecei isto, mas a forma como a associação começou a dinamizar esta comemoração foi um tanto subtil quanto representantiva", explica. De 2015 até aos dias de hoje a FESTA foi ganhando o seu espaço e o seu tempo. "Mais do que a comemoração de um autor, a Festa dos Anos de Álvaro de Campos é uma celebração da criatividade humana", continua.

É através do conceito de criatividade de todxs aquelxs que se envolvem de alguma forma, nas mais diversas artes, que as atividades passam por visões de profissionais e não profissionais. Todxs artistas.

Contando com um formato híbrido, presencial e através do online, a FESTA abraça novos projetos. Comecemos pela rubrica Qualquer Música em parceria com a Academia de Música de Tavira. Nesta edição apresenta-se uma performance para 3 atores e guitarra solo. Fernando & Federico, que segundo Tela, "amavam Walt, que só amava a Peter e mais ninguém. Um jovem ator espanhol, Samuel Cristobal parte de Ayamonte para interpretar a Oda, a Walt Whitman de Federico Garcia Lorca, e a atriz Susana Nunes irá de Lisboa até Tavira para fazer a parte da Saudações a Walt Whitman de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)", explica a programadora.

Estes dois poetas, apesar de contemporâneos, nunca se cruzaram, "mas tiveram em comum o amor a Walt Whitman e a letra F nos primeiros nomes", continua. Apesar do título, é do heterónimo que se fala.
Seguir-se-á s a atriz e professora de teatro Nancy Gabor, que gravou o poema To A Stranger do Walt Whitman, marcando a abertura da peça que abre a performance.

Vem, Noite antiquíssima e idêntica…
Serenamente como uma brisa na tarde leve…
Ninguém te vê entrar…
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
A lua começa a ser real

"Dois Excertos de Odes (Fins de duas odes, naturalmente)”. Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944

Em simultâneo acontece também a leitura partilhada de um poema enquanto se observa a lua, com Vitor Correia e todos os presentes.

Josué Nunes é também um nome relevante na programação. O diretor da Academia de Música de Tavira, interpretará peças para guitarra de contemporâneos e conterrâneos dos poetas. Os dois poemas se constroem como se fossem um único, mas são falados em português e espanhol respectivamente, com traduções em tempo real projetadas. É numa harmonia que equilibra os diferentes sons que a Banda Musical de Tavira interpreta uma seleção de temas festivos.

A curta-metragem A Concubina Japonesa é, mais uma vez motivo de destaque da programção. Conta com os monólogos que Rudolf Engelander criou, baseados na conferência performance de mesmo título, criada e apresentada em 2019 na FESTA, "onde inventamos que um hipotético pai de Álvaro de Campos terá abandonado em Tavira sua hipotética esposa e filho (o pequeno chamado Álvaro, como o pai), tendo ido trabalhar como adido cultural no Consulado de Portugal em Kobe, no Japão, onde tomou por concubina uma prostituta japonesa, com a qual acabou por se casar quando enviuvou. A história não será estranha... e cita mesmo o Sr. Álvaro pai, que seguia os passos de seu chefe, o Cônsuil (real, Wenceslau de Moraes)", explica Tela.

"Um momento de e para a comunidade", uma das muitas leituras e definições desta FESTA, Como tal, este ano assinala-se ainda com a participação dos funcionários do Centro de Saúde de Tavira que escolherão os poemas para a rubrica UM MÊS DE POESIA UM MÊS DE POESIA publicada pelo Postal do Algarve. "O envolvimento com a comunidade é inexplicável. Torna-se muito interessante porque xs artistas das mais diversas artes envolvem-se nesta comemoração e pensam Álvaro. Dão-lhe vida! E sempre de formas muito diferentes. Isto para dizer que esta é também a nossa forma de dar a conhecer e agradecer aos profissionais que nos atendem nas aflições de saúde e que quase não conhecemos", explica.

A relação com as diferentes escolas, "porque depois das férias faria sentido prolongar a participação dxs mais jovens" é também uma caminhada de longa data. Tela explica que nesta edição, com indicação da professora Ana Cristina Matias, que coordena a participação dos alunos das escolas de Tavira na FESTA, irão assinalar o início da celebração do centenário de José Saramago. O ponto de partida é O Ano da Morte de Ricardo Reis, do qual recorrerão às citações poéticas, a que chamam as Escolhas de Saramago, que servirão de inspiração no trabalho da Escola Secundária de Tavira, que estão muito ligados às artes plásticas.

Mantendo-se de 'porta aberta' para todos os novos projetos, ideias e participações que lhes chegam, a presidenta da Partilha Alternativa acredita que coisas boas virão, pois há algo que não podemos esquecer: "as pessoas têm poesia em si".

Texto de Patrícia Silva
Fotografia da cortesia do festival
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