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Opinião de Marta Guerreiro

Andanças e andantes

Nas Gargantas Soltas de hoje, Marta Guerreiro fala-nos do impacto que o festival Andanças teve e continua a ter na sua vida.

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Foi há 22 anos que participei pela primeira vez no Festival Andanças. 

Depois de 5 dias intensos de muita dança, partilha e descoberta, conscientemente senti que se dava uma mudança em mim. 

A vontade de dançar em coletivo conquistou-me, e o querer saber como se tornava possível esse encontro de corpos para dançar provocou em mim um forte desejo de pertencer a esse processo.

A participação neste festival mudou a minha formação, a minha rede social, a minha vocação profissional e a minha morada. Foi um revés.

Passadas mais de duas décadas desta primeira participação como dançante anónima, já foram vários os papéis que desempenhei no organograma do festival, e posso afirmar que têm todos um grau de intensidade que não é simples colocar em palavras. Está mais do que certo que o Andanças só se conhece participando.

Hoje, o Andanças é o maior projecto, a diferentes níveis, em que estou envolvida profissionalmente, mas também pessoalmente. O meu papel é cada vez “mais invisível”, para quem no festival participa, e mais intenso para mim. Este projeto continua a provocar-me adrenalina, curiosidade e energia. A possibilitar que conheça novas pessoas, projectos e territórios. A enfrentar medos, dúvidas e incompatibilidades. E a consciencializar-me que sou grande e pequena ao mesmo tempo. Que as emoções podem ser grandes obstáculos em processos colectivos e que de um momento para o outro tornarem-se a alavanca para se construir um bem comum. 

Um projecto que é um verdadeiro carrossel de emoções e de responsabilidades, que se cruzam e se transformam de segundo em segundo. 

Inexplicável. 

O processo de “construir” este festival ano após ano traz a toda a equipa que nele se envolve momentos e fases de companheirismo e de agitação. E é um processo contínuo, que não sei se termina em algum momento. Sei que não termina para a equipa que está diariamente a trabalhar na PédeXumbo, associação que organiza o Andanças, porque ao longo de todo o ano este projecto está sempre presente.

Não sei se quem nele participa, durante os dias de programação, terá esse conhecimento. Porque terá? Mudaria alguma coisa?

O Andanças acontece! E acontece de uma forma muito forte, em diferentes campos, que é transmitido e sentido por todos os que por lá passam. Isso é incontornável e deve-se, essencialmente, às pessoas. É um fenómeno que não sei explicar, mas o Andanças, além de ser um festival de dança e outras artes, é um encontro de pessoas incríveis. 

O Andanças faz-se porque existem pessoas que vêm de diferentes partes do globo e o fazem acontecer, sendo elas participantes, voluntárias ou artistas, que estão, durante dias, em comunhão para que o festival aconteça e que o “espírito” se mantenha e se fortaleça, mesmo em condições mais adversas. Esta massa de corpos consegue ser transformadora e esmagadora! É esta força humana que possibilita levar a cabo um projecto destes, mesmo que em determinados momentos o envolvimento de todos tenha uma complexa gestão. Mas a diferença e os graus de envolvimento de quem lá está acabam por cumprir funções e fortalecer processos.

É isto que o distingue de outros projectos. E que, para mim, depois de terminar uma edição, que é sempre exigente e complexa, volta a revelar-se como um bom exemplo de cooperação, interação e mudança. E, acima de tudo, me faz continuar a acreditar nas pessoas, na sua capacidade de envolvimento e de transformação.

Quando iniciei a escrita deste texto pensei que seria o “fecho” de um ciclo, mas ao longo das palavras pensadas e escritas quis que fosse, também, um agradecimento a todas as pessoas que fazem acontecer o Andanças! Por isso, aqui fica a minha imensa gratidão a todas as pessoas que continuam e iniciam este percurso andante.

*Texto escrito com o antigo acordo ortográfico

-Sobre Marta Guerreiro-

Nasceu em Setúbal de pais com naturalidade nos concelhos de Almodôvar e Castro Verde e cresce numa aldeia perto de Palmela. Aos 19 anos muda-se para o Alentejo, território que não imaginava que um dia poderia ser a sua casa, e agora já não sabe como será viver fora desta imensa planície. Licenciou-se em Animação Sociocultural, vertente de Património Imaterial, onde desenvolveu competências sobre investigação e salvaguarda de tradições culturais e neste percurso descobre as danças tradicionais e a PédeXumbo, dando assim continuidade à sua formação na dança. Ao recomeçar a dançar não consegue parar de o fazer e hoje acredita que esta é, para si, uma das formas mais sinceras e completas de comunicar. A dança tradicional liga-a ao trabalho desenvolvido pela PédeXumbo, onde desenvolve o seu projeto de final de curso com o tema “Bailes Cantados” e a partir desse momento o envolvimento nos projetos da associação intensifica-se. Atualmente coordena a PédeXumbo onde desenvolve projetos ligados à dança e música tradicional.

Texto de Marta Guerreiro
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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