fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Tiago Sigorelho

Rainha das audiências

Nas Gargantas Soltas de hoje, o Tiago Sigorelho fala-nos sobre a programação de canal de tv: “Vendo-se impedido de ter entretenimento, qualquer canal noticioso absorve um destes fortuitos momentos em toda a sua glória.”

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Há determinados momentos em que conseguimos distinguir perfeitamente os órgãos de comunicação audiovisuais dos escritos, quer seja em papel, quer em bytes. Ao contrário dos media escritos, em que parte muito significativa das suas páginas são ocupadas com informação, os media audiovisuais têm desafios adicionais. Na verdade, um grande desafio adicional: o entretenimento.

Os canais de televisão generalistas dedicam a maioria do seu tempo ao entretenimento, engavetando a informação num compacto à hora de almoço e noutro, praticamente igual, mas em modo aditivo, à hora de jantar. Este é o modelo que prevalece porque o histórico das audiências assim o foi decretando com o andar dos anos. O entretenimento garante mais público que a informação, daí reservar praticamente todo o dia, mas, curiosamente, a informação em doses comprimidas, pode ser, também, um activo triunfante para as audiências.

O paradigma dos canais de televisão noticiosos é diferente, naturalmente. Apesar de poder existir uma bolsa ou duas de entretenimento ao longo do dia, toda a programação é feita de informação. Todos os ramos editoriais são possíveis de ser explorados, já que se deseja preencher uma grelha com 24 horas, e, mesmo assim, são insuficientes para contornar uma não pretendida, mas obrigatória, repetição de notícias durante o dia.

Esta é, provavelmente, a adversidade mais interessante de um canal noticioso. A repetição de notícias não só afasta o espectador de uma presença continuada, já que tem consciência da inevitabilidade dessa reincidência, como desmotiva qualquer jornalista que, no seu bloco de três ou quatro horas, tem de ecoar as mesmas frases várias vezes, como se da primeira ocasião se tratasse.

A situação perfeita, portanto, surge quando é possível juntar à informação rotativa uns pozinhos mágicos de entretenimento. Das raras vezes que isso acontece, as audiências dos canais noticiosos revolucionam-se, amadurecem, e até provocam a mesa dos adultos. O desporto, o futebol principalmente, tem sido o predominante alimentador desta dimensão entretida. Os despojos seguintes a uma vitória na Primeira Liga, por exemplo, são esquadrinhados até ao átomo para manter a audiência ligada.

Muito ocasionalmente, outros temas que vertem ligeiramente para o entretenimento irrompem pela informação adentro. É o caso da situação monárquica britânica. Não quero com isto dizer que a morte de uma rainha e a coroação de um rei de uma nação que nos é tão próxima e que exerce tanta influência no mundo não é notícia. Claro que é. Mas a cobertura exaustiva de todos os rituais que estão associados a essa passagem de testemunho excedem a simples informação.

Vendo-se impedido de ter entretenimento, qualquer canal noticioso absorve um destes fortuitos momentos em toda a sua glória. As audiências crescem, disputam alguns horários com os generalistas e evitam a promessa de repetição com longas transmissões em directo comentadas por um rodopio de convidados.

Mas nem tudo são rosas. Pelo menos a prazo. Permitir que as audiências e o entretenimento ditem a programação noticiosa encoraja todos os que não querem bem ao jornalismo. Com o tempo vai-se consubstanciando a ideia da desvalorização da informação, já que a fronteira com o entretenimento torna-se indistinta e o foco na objectividade dilui-se. No contexto em que estamos agora, uma decisão editorial não pode servir apenas o imediato, tem de alcançar as consequências futuras.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Tiago Sigorelho-

Formado em comunicação empresarial, esteve ligado durante 15 anos ao setor das telecomunicações, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca do Grupo PT, com responsabilidades das marcas nacionais e internacionais e da investigação e estudos de mercado. Em 2014 criou o Gerador e tem sido o presidente da direção desde a sua fundação. Tem continuamente criado novas iniciativas relevantes para aproximar as pessoas à cultura, arte, jornalismo e educação, como a Revista Gerador, o Trampolim Gerador, o Barómetro da Cultura, o Festival Descobre o Teu Interior, a Ignição Gerador ou o Festival Cidades Resilientes. Nos últimos 10 anos tem sido convidado regularmente para ensinar num conjunto de escolas e universidades do país e já publicou mais de 50 textos na sua coluna quinzenal no site Gerador, abordando os principais temas relacionados com o progresso da sociedade.

A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

5 Novembro 2025

Por trás da Burqa: o Feminacionalismo em ascensão

29 Outubro 2025

Catarina e a beleza de criar desconforto

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

15 Outubro 2025

Proximidade e política

7 Outubro 2025

Fronteira

24 Setembro 2025

Partir

17 Setembro 2025

Quando a polícia bate à porta

10 Setembro 2025

No Gerador ainda acreditamos no poder do coletivo

3 Setembro 2025

Viver como se fosse música

27 Agosto 2025

A lição do Dino no Couraíso

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

29 SETEMBRO 2025

A Idade da incerteza: ser jovem é cada vez mais lidar com instabilidade futura

Ser jovem hoje é substancialmente diferente do que era há algumas décadas. O conceito de juventude não é estanque e está ligado à própria dinâmica social e cultural envolvente. Aspetos como a demografia, a geografia, a educação e o contexto familiar influenciam a vida atual e futura. Esta última tem vindo a ser cada vez mais condicionada pela crise da habitação e precariedade laboral, agravando as desigualdades, o que preocupa os especialistas.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0