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Ângelo Fernandes: “Um em cada seis homens sofre algum tipo de abuso sexual antes dos 18 anos”

Ângelo Fernandes é o fundador da Associação Quebrar o Silêncio, a primeira associação portuguesa que se dedica ao apoio especializado para homens e rapazes sobreviventes de violência sexual. Aos 10 anos, Ângelo foi abusado sexualmente por um amigo de família. Hoje, com 41 anos, é um sobrevivente que se dedica a ajudar outros homens que foram vítimas de violência sexual a ultrapassar os traumas consequentes.

Texto de Mariana Moniz

Ângelo Fernandes. Créditos: Catarina Calças

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Para Ângelo Fernandes, a Associação Quebrar o Silêncio “é mais do que um trabalho. É uma causa em que acredita”. Ao criar esta associação procurou construir um ambiente onde qualquer homem ou criança sobrevivente de violência sexual se sentisse seguro/a para partilhar a sua história sem tabus, preconceitos ou julgamentos.

Numa entrevista online ao Gerador, Ângelo Fernandes falou-nos sobre o impacto que a violência sexual de que foi vítima teve na sua vida e explicou-nos de que forma isso o impulsionou a criar a Quebrar o Silêncio. Falou-nos dos mitos e das crenças que existem à volta deste tipo de violência contra os homens e mencionou os sinais a que devemos estar atentos, nomeadamente no que diz respeito ao abuso de crianças.

Ângelo acredita que a sociedade ainda está desinformada e que são necessárias mais ações de sensibilização e educação, de forma a desconstruir determinados estigmas que giram à volta da violência sexual, do trauma e da masculinidade. Tal como salientou na nossa entrevista, o mais importante é chegarmos a uma estrutura social em que se perceba que os homens também podem sofrer de abuso sexual.

São muitos os fatores que podem levar os homens vítimas de violência sexual a manterem-se em silêncio durante anos. Com esta associação, estes sobreviventes têm a oportunidade para serem vulneráveis e exporem o que sentem e viveram. O nosso entrevistado indicou sentimentos como culpa, vergonha e baixa autoestima por parte dos homens que recorrem à associação. Contudo, Ângelo Fernandes está seguro de que o “trauma não é uma sentença vitalícia” e de que todas as vítimas conseguem, eventualmente, quebrar o seu silêncio.

Cartaz da Associação Quebrar o Silêncio

Gerador (G.) – O tema da violência sexual contra os homens é ainda pouco debatido em Portugal. Porque achas que isto acontece e qual a importância de se chamar a atenção para este assunto?

Ângelo Fernandes (A. F.) – Existem várias questões que podem estar associadas a isso. Primeiro que tudo, a violência sexual, de um modo geral, já é um tema pouco falado. Existem muitos estigmas, tabus e preconceitos à sua volta. Mas quando falamos de violência sexual contra homens e rapazes existem outras questões que acabam por criar obstáculos para a sua compreensão. Por exemplo, muitos acreditam que os homens não podem sequer ser vítimas de violência sexual. Esses mitos errados promovem o silêncio da vítima, promovem a desinformação, são obstáculos para a procura de apoio ou para a partilha da sua própria história. Deste modo, não existe um contexto social que garanta a segurança e as condições necessárias para que os homens partilhem o que lhes aconteceu ou até se identifiquem enquanto vítimas. Estamos a falar de um conjunto de circunstâncias que contribuem para a manutenção do silêncio destes homens.

G. – Este tipo de abuso pode ser traumático. Quais são as principais consequências na vida de um sobrevivente de abuso sexual?

A. F. – Quando falamos de violência sexual temos de falar, obrigatoriamente, de trauma. E, ao falarmos de trauma, temos de nos lembrar que cada caso é um caso. Cada vítima reage de forma diferente. Mas existem questões que são comuns a todas, claro. Os homens que foram vítimas de violência sexual sofrem, nomeadamente, de baixa autoestima, sentimentos de vergonha intensos, auto culpabilização pelo abuso ou perturbação de stress pós-traumático. É importante que se faça uma lista das consequências que derivam desta violência para que as pessoas entendam que os homens não têm escrito na testa que foram vítimas de abuso sexual. Os homens que são sobreviventes de violência sexual são os nossos amigos, são os nossos colegas, os nossos familiares… são as pessoas que fazem parte do nosso dia a dia e que, externamente, aparentam estar bem, felizes e assertivos. Mas a sua realidade interna é bastante diferente. Muitos destes homens admitem que acabam por ter de viver com uma “máscara”, pois têm de ocultar o que sentem verdadeiramente. As pessoas que lidam com estes homens não se apercebem do real impacto que estas consequências têm na sua vida, pois não têm noção de que tudo isto cria vários sentimentos de insegurança nas vítimas. É importante informarmos, educarmos e sensibilizarmos as pessoas para este tipo de violência. Muitos não sabem o que é a violência sexual, o que é o consentimento ou o que é o trauma. A sociedade está desinformada e o que subsiste são os mitos e as crenças. Sempre que uma vítima fala do que lhe aconteceu surge uma espécie de escrutínio à mesma. Tem de haver um ambiente confortável para os sobreviventes falarem e isso alcança-se através de reportagens, entrevistas, seminários, mas sempre com a informação do que é a violência sexual, quais são as suas consequências, em que contexto acontece, quem são as vítimas e quem são abusadores. Acima de tudo, temos de deixar claro que é um trauma e de que não se trata de sexo.

G. – Há pouco mencionaste que o que subsiste são os mitos e os preconceitos relacionados com o abuso sexual de homens. Que mitos são esses?

A. F. – O grande mito que existe é o de que os homens não são vítimas de violência sexual. Eles só podem ser abusadores. Porém, um em cada seis homens sofre algum tipo de abuso sexual antes dos 18 anos. Um em cada seis. Também existem outros mitos, como por exemplo, se um homem não fugir ou resistir ao abuso é porque quis que acontecesse, se teve uma ereção ou ejaculou é porque gostou, ou então que o abuso aos homens só acontece entre pessoas homossexuais ou nas prisões. Tudo isto são ideias erradas que se criaram na sociedade. Aliás, é sabido que a maioria dos casos acontece dentro do seio familiar e que grande parte dos abusadores são, na verdade, heterossexuais. Muitos também acreditam que quem foi abusado irá tornar-se num abusador. Este é um mito muito grande que temos de desconstruir, porque isto impede que os homens partilhem as suas histórias com medo de serem acusados de abuso. Estas vítimas sentem-se isoladas ao pensarem que aquilo só lhe aconteceu a elas. É por esta razão que os homens não procuram apoio. Eles sentem que não o merecem.

Cartaz da Associação Quebrar o Silêncio

G. – Também foste abusado sexualmente em criança. De que forma isso impactou ou condicionou a tua vida?

A. F. – Eu costumo dizer que a minha história, apesar de ser minha, é igual à de muitos outros homens que sofreram violência sexual em criança. Como muitas das vítimas, fui abusado por uma pessoa próxima da minha família. Era um amigo da família. Essa pessoa conquistou uma relação de confiança e amizade comigo. Eu tinha apenas 10 anos. Ele conseguiu transferir a ideia de culpa para mim, fazendo-me acreditar que a culpa era minha e acabei por ficar em silêncio mais de 20 anos. Quando procurei apoio tinha mais de 30 anos e achava que era o único caso de violência sexual contra um rapaz. Isto afetou a minha vida em diferentes dimensões, seja na social, na intimidade…tornei-me muito desconfiado, não me relacionava com ninguém facilmente e fiquei muito impulsivo. Demorei a perceber que tudo isso eram consequências do trauma e que, na verdade, estava a viver com perturbação de stress pós-traumático. É isto que acontece a muitos homens. Sentimos que estamos sozinhos até ouvirmos outra vítima contar a sua história.

G. – Essa experiência motivou-te a criar a Associação Quebrar o Silêncio. Quais são os principais objetivos desta associação?

A. F. – O grande objetivo é prestar apoio psicológico a estes homens para que consigam superar o seu trauma. Para além disso, trabalhamos na formação dos públicos e dos profissionais de forma a sensibilizá-los para esta questão. Criamos eventos que ajudam as pessoas a dominar determinados termos como “violência sexual” e “trauma”. Também realizamos workshops para pais e mães que contribuem para a prevenção do abuso sexual contra crianças e fazemos algum trabalho ao nível das políticas públicas para conseguirmos alterar leis, nomeadamente no que diz respeito à prescrição dos crimes desta natureza.

G. – De que forma reagem os jovens quando se realizam sessões de esclarecimento nas escolas?

A. F. – Agora andamos a focar-nos mais nas universidades, principalmente nas da área da saúde, enfermagem e psicologia. São áreas que consideramos prioritárias, porque trabalham, quer queiram quer não, com sobreviventes de violência sexual. A nossa ideia é dar ferramentas a estes estudantes universitários para que aprendam a lidar com uma história de abuso. Fazemos o mesmo com os profissionais de saúde. Considerámos que seria mais produtivo falarmos com este grupo de estudantes e não tanto com os jovens das escolas. Ao trabalharmos com profissionais, estamos a maximizar o alcance nos locais onde são necessários, enquanto que, nas escolas, a informação não deveria passar dali.

G. – A tua experiência pessoal facilita na ajuda que prestas a quem procura a associação?

A. F. – A minha experiência foi só o ponto de partida para ter começado esta viagem. É preciso ter outro conhecimento especializado, formação e dominar certas matérias associadas à violência. A minha experiência não tem de ser necessariamente a experiência de todos os homens. E não é, de todo. Portanto, é muito importante que a equipa da Quebrar o Silêncio seja especializada e que nos preocupemos com uma formação contínua. Estamos constantemente a aprender, a tentar descobrir quais são as novas formas de intervenção que existem. Temos uma equipa de psicólogas que presta apoio, mas também pessoas na área da psiquiatria e jurídica. O apoio que prestamos foca-se em três eixos: o abuso sexual, o trauma e a masculinidade. Temos de ser sensíveis às questões de género, porque sabemos que os homens são educados de forma diferente das mulheres. Eles são ensinados a não expor as suas emoções, a não chorar e a ser mais individualistas. Temos de ter atenção a todos estes fatores, pois são eles que levam os homens a esconder a sua dor e a não procurar ajuda.

G. – O número de homens que procura ajuda ou que consegue falar da sua história de violência tem aumentado?

A. F. – Sim. Temos registado um aumento dos casos que chegam até nós, até porque a própria associação tem crescido imenso. Já vamos fazer seis anos em janeiro. Sempre que damos uma entrevista, ou publicamos algum testemunho no nosso site, conseguimos chegar a mais vítimas que acabam por conseguir partilhar a sua história connosco. Essas pessoas percebem que não estão sozinhas e que existe realmente uma associação que vai recebê-las sem preconceitos e sem julgamentos.

Cartaz da Associação Quebrar o Silêncio

G. – Qual é o primeiro passo para estes homens finalmente “quebrarem o seu silêncio?”

A. F. – Podem ser várias coisas. Por exemplo, pode haver uma tomada de consciência de que aquela experiência estranha e desconfortável foi realmente um abuso e não uma experiência sexual ou uma brincadeira. Existem também outros fatores que podem desencadear esse pedido de ajuda como a morte de um ente querido, o nascimento de um filho ou quando o filho da vítima atinge a idade que a mesma tinha quando foi abusada. Para além disso, muitos homens acabam por chegar a um estado de rutura e sentem que “é agora ou nunca” para contarem a sua história.

G. – Um dos dados que é conhecido é que, muitas vezes, o abusador é alguém próximo e amigo da criança. A que sinais devemos estar atentos?

A. F. – O que acontece muitas vezes é que estes abusadores seduzem. Mas não são as crianças que eles seduzem primeiramente, são os pais. O abusador manipula os cuidadores da criança para ser visto como alguém de confiança e de referência, e não como uma pessoa perigosa. Todo este processo de manipulação tem um motivo, porque, caso a criança decida contar o que aconteceu, vai haver uma desconfiança dela e não do adulto que, supostamente, é de confiança. É uma falsa sensação de segurança. Mas as crianças raramente partilham a sua experiência de abuso sexual, pois estão reféns de um processo de manipulação e controlo sobre elas. Muitas vezes são ameaçadas ou chantageadas, sendo que o abusador as faz acreditar que estão a viver uma relação especial com ele e que, por essa razão, deve ser mantida em segredo. O abuso sexual não começa na prática do ato. Começa na relação emocional que os abusadores criam com a vítima. Eles investem tempo para conhecer a criança de forma a isolá-la e poder, gradualmente, ir sexualizando a relação. Temos de pensar de que forma uma criança de três anos vai partilhar a sua história de abuso. Não vai. Que vocabulário é que ela poderia usar? A grande maioria dos pais acredita que o seu filho vai conseguir partilhar o que aconteceu e que essa partilha vai ser muito óbvia e explícita. As crianças não vão ser capazes de dizer “o tio está a abusar sexualmente de mim”. Elas encontram outras formas de comunicar, mas os pais raramente estão atentos a esses sinais. Quando são partilhas mais explícitas, nem sempre acreditam na criança. Existem casos de vítimas que chegaram a ser punidas por terem contado algo desta natureza, pois criaram uma certa disrupção na harmonia familiar.

G. – Lançaste um livro há pouco tempo sobre esta temática. O que é que os pais podem encontrar neste guia de prevenção?

A. F. – Este livro é, no fundo, um guia com várias estratégias para os pais aplicarem no seu dia a dia. Contudo, antes de chegar às estratégias, faço uma espécie de convite para que estes cuidadores reflitam sobre aquilo que já sabem sobre a violência sexual contra crianças. Será que aquilo que sabem está verdadeiramente correto? Por vezes, temos a noção do que se trata ou uma visão geral sobre o tema, mas não conseguimos aprofundá-lo. A ideia é questionar os pais sobre os seus conhecimentos e depois explicar quais são os verdadeiros mitos da violência sexual, em que contexto pode acontecer, como é que os abusadores chegam às crianças e conseguem o seu silêncio. Se os pais não perceberem o problema primeiro, as estratégias que eu ofereço não vão fazer sentido.

Cartaz promocional do lançamento do livro "De que falamos quando falamos de violência sexual contra crianças'"

G. – Quais são as diferentes formas de violência sexual contra homens e crianças?

A. F. – Devemos começar por perceber o que é a violência sexual. Há quem acredite que só a violação ou a prática de atos penetrativos é que devem ser considerados como violência sexual. Para além disso, pensam que o abuso tem sempre o recurso à força e à agressividade. Mas existem muitos crimes de violação que não são altamente violentos do ponto de vista da agressão física por parte do abusador. Também temos de perceber que existem outras formas sem ser a penetração. Expor a criança a conteúdos pornográficos, coagi-la a ter atos sexualizados com outras crianças, masturbar-se em frente a uma criança… são formas de violência sexual e nem sequer existe toque físico. Através da internet percebemos que existem crimes desta natureza em que o abusador não está sequer no mesmo país que a vítima. Nem toda a violência é física, mas todas as formas de violência são igualmente traumáticas. Não devemos comparar experiências de abuso. O que temos de perceber é que trauma é trauma e que o mesmo afeta as pessoas de diferentes formas.

G. – De que forma justificas esta falta de informação que existe relativamente ao conceito de abuso sexual?

A. F. – Ainda não houve nenhum momento em que nos focássemos verdadeiramente na educação. Por exemplo, lembro-me do caso da Casa Pia. Foram transmitidas muitas notícias sobre os abusos, mas não houve nenhum momento de aprendizagem. Não houve ninguém que se chegasse à frente e investigasse os abusos sexuais que poderiam haver noutras instituições, na igreja, na escola, nos lugares onde as crianças estão presentes. Vinte anos depois continua a acontecer a mesma coisa. Estamos a focar-nos nos casos isolados e não no problema que é a violência sexual.

G. – Existe alguma distinção entre ser abusado por um homem ou por mulher?

A. F. – Podem haver diferentes características no abuso de um homem por uma mulher. O que muda é a perspetiva. Por exemplo, quando um professor abusa de uma aluna são mencionados termos como o “pedófilo”, o “abusador”, o “molestador” e as notícias são, quase sempre, “professor abusou de aluna”. Quando uma professora está no mesmo papel já não é caracterizada dessa forma. O que se lê é, por exemplo, “professora manteve relações sexuais com aluno”. Ou seja, há uma diferença no tratamento destes casos. Devido às questões de género e masculinidade, o abuso por uma mulher não é visto como abuso, é visto como sorte. É aquilo a que chamam “uma violação das boas”. Quando um jovem é violado por uma mulher, mas não vê isso como sorte, acaba por ser discriminado pelos colegas. Isto também contribui para que estes jovens não procurem ajuda.

G. – Como é que a Associação Quebrar o Silêncio atua quando são os pais a pedirem ajuda e não a própria vítima?

A. F. – Gostava só de salientar que temos tido, cada vez mais, jovens com idades entre os 16 e os 19 anos que vêm procurar o nosso apoio. A grande maioria dos homens que recorre à nossa associação tem, por norma, cerca de 35 anos de idade, mas também trabalhamos com pessoas que já têm 75 ou 76 anos. Os pais que nos procuram ao descobrirem que o filho foi abusado sexualmente, não só procuram ajuda psicológica para a criança, mas também para eles. E nós prestamos esse apoio à família. Por outro lado, os pais também costumam recorrer à associação para obter informações do ponto de vista da prevenção, mas, na grande maioria das vezes, o abuso já aconteceu quando eles vêm ter connosco. Posto isto, aquilo que acabamos por fazer é um certo trabalho educativo que ajude os pais a lidar com a situação.

G. – De que forma podemos ajudar um sobrevivente de violência sexual e o que é que se deve ou não dizer a essa pessoa?

A. F. – Nós refletimos bastante sobre essas questões na associação. Primeiro que tudo, se a vítima partilhar essa experiência connosco, devemos sempre agradecer por ter confiado em nós, porque pode ser a primeira vez que essa pessoa está a contar a sua história a alguém. Podem ter passado 20, 30 ou 40 anos e é fundamental que essa partilha seja bem-recebida porque, quando não é, tende a aumentar os anos de silêncio da vítima. Outra coisa que considero fundamental é perguntarmos a esse sobrevivente de que forma é que o podemos ajudar para que seja ele a decidir. Nunca se deve exigir ou impor à pessoa que ela procure apoio. Ou seja, devemos evitar afirmações do género: “tens de procurar apoio” ou “deves procurar ajuda”. A violência sexual já pressupõe a retirada de poder e de controlo, portanto, é muito importante que seja a vítima a decidir quando, onde e com quem quer partilhar a sua história. Para além disso, existem outras afirmações que muitas pessoas proferem e que tendem a desvalorizar ou a culpabilizar a vítima, tais como: “isso não foi assim tão grave” ou “porque é que não me contaste antes”? Não devemos culpar a vítima pelo que fez, ou pelo o que não fez, nem devemos voltar a vitimizar ou traumatizar essa pessoa. Ao perguntarmos pelos pormenores do abuso estamos a fazer com que a vítima reviva a sua experiência. Não temos de perguntar como foi o abuso, nem quem o praticou. Eventualmente, a vítima irá partilhar esses pormenores caso sinta necessidade de o fazer.

G. – Podemos falar em recuperação ou as vítimas apenas acabam por aceitar o abuso que sofreram?

A. F. – A aceitação existe no sentido em que a vítima se acomoda à realidade do que aconteceu. Recuperação é ultrapassar o impacto que a violência teve nas suas vidas. Um dos grandes mitos que existe é o de que o trauma fica connosco para sempre. Como se fosse uma sentença eterna. Mas, com ajuda especializada, é possível recuperar e ultrapassar o trauma. Isto é uma mensagem fundamental. Muitos homens pensam que não vale a pena pedir ajuda numa determinada idade, seja com 40 ou 50 anos, mas nunca é tarde para procurar apoio.

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