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Opinião de Francisco Cipriano

Crowdfunding cultural com e sem fundos europeus

Nas Gargantas Soltas de hoje, Francisco Cipriano fala-nos sobre financiamento coletivo para projetos culturais.

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Falar de crowdfunding em Portugal já não é uma novidade. O crowdfunding cultural é cada vez mais procurado por criadores e artistas independentes que necessitam de uma força externa para financiar seus projetos. Com pouca burocracia, as plataformas de financiamento colaborativo ou crowdfunding vão-se tornado uma forma de contornar a “crise” no setor e as dificuldades de financiamento dos artistas, incentivando a continuidade da criação, da programação e mais importante pluralidade arrojo cultural que a arte traz à sociedade contemporânea.

A questão é, pode ou deve o crowdfunding cultural captar recursos em combinação com outro tipo de financiamento, por exemplo, o Europeu? A resposta é sim. A regulamentação permite e incentiva a combinação de financiamento, o importante é saber como. 

O crowdfunding apresenta aos indivíduos e organizações a oportunidade de lançar campanhas de angariação de fundos online e recolher apoio financeiro para projetos individuais ou coletivos, oriundo de um grande número de pessoas que reconhecem interesse nesse projeto ou ideia.  Os apoiantes começam por ser amigos, familiares e colegas, mas com o tempo chegam desconhecidos que acreditam na propostaou simplesmente procuram as recompensas oferecidas. Assim, profissionais criativos e organizações culturais podem usar o crowdfunding para angariar dinheiro online para qualquer ideia ou projeto e simultaneamente construir comunidades e melhorar a visibilidade. Parece estranho à primeira vista, mas não é.

O que é facto é que de cerca de 600 plataformas de crowdfunding na Europa, cerca de 150 delas concentram-se ou estão abertas a acolher projetos culturais e criativos. O crowdfunding para projetos culturais tornou-se muito popular e muitos profissionais criativos e organizações culturais estão a usar o modelo para as suas actividades de angariação de fundos, marketing e comunicação. Mas como funciona o crowdfunding e como se começa? Um conjunto de elementos são centrais para que os profissionais criativos e as organizações culturais possam utilizar o crowdfunding como instrumento de financiamento.

Primeiro, as plataformas crowdfunding, que na verdade são as bases de trabalho. Com centenas de plataformas de crowdfunding na Europa, é importante que profissionais criativos e organizações culturais encontrem a plataforma certa para o seu projeto. Portugal já conta com este tipo de serviços, onde se destaca a PPL. Mas existem muitas mais, como a Querido Investi, Raize, GoParity, BoaBoa. Internacionalmente, assume notoriedade a plataforma Kickstarter. 

Recentemente com o apoio da Comissão Europeia, foi lançado o estudo 

"Crowdfunding: reshaping the crowd’s engagement in culture” que mapeia e analisa como o crowdfunding está a ser utilizado em benefício das atividades culturais e criativas. Para facilitar, o mesmo projeto lançou um mapeamento online que apresenta uma lista atualizada de plataformas que inclui informações sobre as características de cada uma, como foco, tipo de modelo, linguagem e localização.

Para nos lançarmos nesta aventura do financiamento colaborativo ou crowdfunding é muito importante compreender o processo e os passos a dar. No processo de crowdfunding três etapas são essenciais. 

Etapa 1, a plataforma recebe a candidatura do projeto do promotor, que pretende angariar fundos e divulgar online. Nesta etapa, a plataforma define os critérios com promotor para a sua aceitação e validação, podendo mesmo, em algumas plataformas propor melhorias que funcionem melhor no modelo de angariação. 

Já nos modelos, os mais frequentes são os baseados “doação”: doação de pequenas quantias para satisfazer o objetivo de financiamento maior de um projeto específico, sem receber qualquer retorno financeiro ou material em troca, ou baseado em “doação com recompensas”: doação de pequenas quantias para satisfazer o objetivo de financiamento maior de um projeto específico com a expectativa de receber uma recompensa ou produto tangível (mas não financeiro) em troca. Existem outros modelos mais complexos que implicam ainda em troca uma participação no negócio, mais vocacionados para empresas. Encontrar o modelo de financiamento certo para o projeto é um passo importante para uma campanha de sucesso. 

Para além disto, é importante compreender como vai terminar a campanha e que efeitos isso tem nos doadores. A maioria das plataformas de crowdfunding praticam um "tudo ou nada", mas muitas também permitem "leve tudo" (mais apropriado para o financiamento baseado em donativos). O modelo de angariação de fundos tem de ser decidido antes do lançamento e não pode ser alterado após o início da campanha. O "tudo ou nada" significa que se o objetivo de financiamento da campanha não for atingido, todas as contribuições são devolvidas ou não cobradas aos apoiantes. 

Etapa 2, e após a validação, segue-se em regra o procedimento de contratualização de serviços prestados pela plataforma. Esta divulga à comunidade o projeto dentro dos prazos definidos e cria uma conta bancária associada ao projeto para que possa receber os fundos associados. É muito importante compreender os custos relacionados com uma campanha de crowdfunding antes de começar. Algumas plataformas cobram um custo inicial apenas para hospedar a campanha. Este custo varia entre 0 e 300 euros e será cobrado a todos os projetos, seja o financiamento angariado com ou sem sucesso. Outro modo, que pode ou não ser cumulativo com o anterior, é a retenção de uma percentagem do montante total angariado no formato de uma taxa de sucesso. A percentagem varia de plataforma para plataforma sendo em regra entre 3% e 12% do total angariado. A taxa de sucesso varia também dependendo do modelo de angariação de fundos escolhido. Por exemplo, uma taxa mais alta é geralmente cobrada no modelo "leve tudo". Existem também plataformas que não cobram nenhuma taxa de sucesso, no entanto estas são mais raras.

Etapa 3 e final, se a campanha atingir o objetivo, os fundos serão transferidos pela entidade gestora ao promotor, deduzida da comissão previamente definida. Se a campanha não atingir os objetivos, e dependendo do modelo de negócio da plataforma, os fundos são devolvidos aos financiadores, não havendo lugar a qualquer custo imputado ao beneficiário. 

Voltado à questão inicial. Pode ou deve o crowdfunding cultural captar recursos em combinação com outro tipo de financiamento, por exemplo o europeu?  Como é do conhecimento geral, a maior parte dos programas de financiamento europeu operam num quadro de cofinanciamento, isto é, assume-se que o financiamento europeu é sempre acompanhado por um investimento público ou privado. As taxas de cofinanciamento variam entre 50 % e 85 % (95 % em casos excecionais) do custo total do projeto, dependendo da riqueza relativa da região. 

Portanto, a combinação entre o financiamento coletivo de crowdfunding cultural e o financiamento europeu que se procura pode ser amplamente indicada desde que apresentados de forma clara, dado que assegura a execução do projeto após a obtenção do financiamento. Significa, assim, para o doador, o conhecimento de que apenas está a ajudar o proponente na percentagem que completa a taxa de financiamento e que este já realizou o esforço necessário para obter o restante financiamento. 

Outro modelo usual na complementaridade entre o financiamento europeu e o crowdfunding são os projetos testes ou projetos piloto. Um projeto piloto é um esforço temporário empreendido para testar a viabilidade de uma ideia ou solução. Temporário significa que o projeto tem uma data de encerramento definida. 

Subentende-se, com isso, que é possível incluir recursos adicionais, utilizar pessoas-chave e ajustar o orçamento e os planos apropriadamente, o que pode vir a acontecer numa nova etapa, esta já com financiamento comunitário. Muitas propostas apresentadas avisos de concurso a programas europeus, são altamente valorizadas se construídas em cima de um projeto piloto já testado. 

Outras vantagens são ainda evidentes. Uma campanha de financiamento realizada através das plataformas de crowdfunding conta ainda com uma prestação de contas bastante desburocratizada e que pode ser realizada pelo próprio em contato direto com seus doadores e a qualquer momento do projeto. Além disso, o sucesso de um projeto de crowdfunding cultural vai certamente chamar a atenção de empresas que já se dedicam a patrocinar projetos artísticos, facilitando assim o acesso do produtor independente a futuras parcerias.
Um bom começo pode ser, efetivamente, subscrever as newsletters das plataformas nacionais e receber todas as novidades desta crescente comunidade e conhecer as pessoas e as campanhas que estão a fazer a diferença, uma fonte rica em inspiração e conhecimento, pois o crowdfunding está a mudar o mundo.

-Sobre Francisco Cipriano-

Nasceu a 20 de maio de 1969, possui grau de mestre em Geografia e Planeamento Regional e Local. A sua vida profissional está ligada à gestão dos fundos comunitários em Portugal e de projetos de cooperação internacional, na Administração Pública Portuguesa, na Comissão Europeia e atualmente na Fundação Calouste Gulbenkian. É ainda o impulsionador do projeto Laboratório de Candidaturas, Fundos Europeus para a Arte, Cultura e Criatividade, um espaço de confluência de ideias e pessoas em torno  das principais iniciativas de financiamento europeu para o setor cultural. Para além disso é homem para muitas atividades: publicidade, escrita, fotografia, viagens. Apaixonado pelo surf vê̂ nas ondas uma forma de libertação e um momento único de harmonia entre o homem e a natureza. É co-autor do primeiro guia nacional de surf, Portugal Surf Guide e host no documentário Movement, a journey into Creative Lives. O Francisco Cipriano é responsável pelo curso Fundos Europeus para as Artes e Cultura – Da ideia ao projeto que pretende proporcionar motivação, conhecimento e capacidade de detetar oportunidades de financiamento para projetos artísticos e culturais facilitando o acesso à informação e o conhecimento sobre os potenciais instrumentos de financiamento.

Texto de Francisco Cipriano
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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