Todos os anos a Comissão Europeia propõe uma temática sobre a qual as várias Instituições Europeias e os Estados-membros se debruçam ao longo do ano civil. O ano passado vivemos o Ano Europeu da Juventude. Em 2021 foi o Ano Europeu do Transporte Ferroviário. Para os anos 2020 e 2019 não consegui encontrar as temáticas. Desta forma, questiono-me: em que anos nos lembramos ou sentimos que a nossa vida foi impactada por estes temas anuais?
No meu caso, completei uma licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais e sempre tentei estar a par dos acontecimentos europeus, uma vez que sonhava com a oportunidade de experienciar Bruxelas — o coração da Europa — e, eventualmente, trabalhar numa destas instituições que tanto me representa. Ainda assim, antes de 2022, nunca tinha tomado consciência sobre a importância destas temáticas europeias ou procurado informação sobre as mesmas.
Para nós, pessoas jovens, foi no Ano Europeu da Juventude que assistimos a uma mudança de rumo. Em 2022 esta temática anual foi extremamente relevante e tornamo-nos não apenas um tema central da discussão no seio europeu, mas tivemos a possibilidade de estar envolvidos em diversas actividades, incluindo campanhas de sensibilização, palestras, workshops, grupos consultivos, entre muitos outros. De forma a garantir que a informação sobre este ano nos alçava houve um grande investimento: os materiais de comunicação das instituições e associações passaram a incluir o logótipo do Ano Europeu da Juventude e a temática passou a estar muito presente nas redes sociais, nos jornais e nas revistas.
O Ano Europeu da Juventude colocou-nos a nós, pessoas jovens, mais próximas das instituições. Fez-nos acreditar que podemos fazer parte da mudança sem que tenhamos que fazer disso a nossa missão pessoal ou profissional. Trouxe até nós mais informação sobre oportunidades europeias — Corpo Europeu de Solidariedade, European Youth Event, Discover EU, Conferência LevelUP, Youth4Regions, entre muitas outras. Antes de 2022, muitas destas oportunidades já existiam e eram conhecidas pelas pessoas que tinham a sorte de já estar dentro da bolha das oportunidades. No entanto, este foi o ano em que a bolha de oportunidades começou a crescer e a envolver muito mais jovens que até à data não estavam informados ou que não tinham recebido o apoio necessário para embarcar nestas aventuras.
Que legado é que este ano nos deixa? Será que o investimento na juventude vai continuar na medida necessária para envolver todas aquelas pessoas jovens que ainda não entraram na bolha? As plataformas criadas vão continuar a transmitir informação com a mesma regularidade? Se a informação deixar de chegar até nós, dificilmente vamos saber o que procurar, por isso, este trabalho tem que continuar a ser feito pelas instituições, de forma a alcançar e mobilizar as pessoas para a acção.
Orgulho-me de ter a possibilidade de promover este projecto europeu cheio de oportunidades através da Associação Youth Cluster, mas desafio-o a ir mais além. Agora, que trouxeram a Europa até aos jovens, é o momento de aumentar o seu alcance a todas as pessoas que dela fazem parte. É o momento de procurar formas de envolver outros públicos-alvo, dando-lhes a devida capacitação e recursos para que também estes possam advogar em prol dos seus direitos e de uma Europa melhor.
Um exemplo ímpar que traz a Europa mais próximo dos cidadãos portugueses é a Geração KNow, um programa de formação sobre questões europeias promovido pela eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques. O programa já conta com duas edições e a eurodeputada refere que “a primeira edição foi uma interessante experiência colaborativa. Connosco esteve um piloto da força aérea (...), a directora de um centro de biotecnologia, um médico psiquiatra, uma arquitecta, uma professora do ensino básico, entre outros e outras”. Será que vamos ter uma terceira Geração KNow em 2023 que abrirá portas para que pessoas de diversos contextos possam aprender mais sobre os assuntos europeus e visitar Bruxelas? Esperemos que sim, mas na verdade, precisamos que estas oportunidades não sejam casos isolados e que haja cada vez mais iniciativas que possam envolver uma pluralidade de pessoas e enriquecer as suas vidas.
Finalmente, entrámos em 2023, o Ano Europeu das Competências. A Comissão Europeia definiu que durante este ano se procura dar um novo impulso à aprendizagem ao longo da vida. Este tópico não deixa de se relacionar com a juventude, por exemplo, pela necessidade de tornar a educação e formação mais acessíveis! Até agora, pelas discussões no Conselho, esta temática aparenta ter uma maior prevalência no domínio institucional, mas vamos esperar para ver de que forma é que as iniciativas chegam até nós, cidadãos, nos envolvem e geram um impacto nas nossas vidas. Pelo menos, certamente já sabemos que as temáticas anuais podem ter muito mais impacto e estar mais próximas de nós, por isso, exijamos isso das instituições e acompanhemos o seu trabalho mais de perto.
-Sobre a Margarida Freitas-
Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, queria mudar o mundo pela diplomacia, mas depressa percebeu que o seu caminho era junto das pessoas a fazer voluntariado nos mais variados contextos, logo adoptou o lema do ano sabático para a sua vida e já andou um bocadinho pelo mundo. Com um desejo de trabalhar em intervenção humanitária, mas com um grande cepticismo sobre as práticas das grandes organizações no Sul Global está a concluir o Mestrado em Estudos de Desenvolvimento no ISCTE.
Em 2020, juntou 9 amigos e fundou a Associação Youth Cluster com o objetivo de dar as mesmas oportunidades que já teve a outras pessoas jovens residentes em Portugal. Através do seu trabalho na Youth Cluster e, em cooperação com outras organizações, tem reivindicado por igualdade de oportunidades e melhores políticas para a juventude.
Nos tempos livres adora googlar sobre coisas improváveis.