Quando Patrícia Almeida faleceu, em Novembro de 2017, foi pedido a David-Alexandre Guéniot, que escolhesse uma fotografia. Essa imagem, solicitada pela agência funerária, iria ser a derradeira representação da pessoa que deixara de existir. “Há ali uma confusão... como é que se pode resumir a vida, a identidade de uma pessoa através de uma única fotografia?”, questionou-se Guéniot.
Os dados estavam lançados. Com esta dúvida surgia também a certeza de que era necessário continuar o que Patrícia Almeida tinha deixado por concluir. Esta última imagem transformar-se-ia na primeira fotografia incluída na obra intitulada O Livro da Patrícia.


Meses antes da sua morte, a fotógrafa reunia documentos que pretendia sintetizar na sua “história pessoal da fotografia”, conforme explica David-Alexandre Guéniot. “Ela ia visitar a fotografia enquanto arte, enquanto técnica, enquanto forma de representar o mundo também. E ia pensar isso não tanto a partir de um prisma que é técnico, histórico ou universal – já que ela não era historiadora - mas ia fazer isto enquanto artista”.
Com a morte a interromper o projeto, Guéniot tomou as rédeas e finalizou a obra. Na impossibilidade de o fazer exatamente conforme fora inicialmente concebido pela artista, levou a cabo uma “busca da imagem impossível” que confrontou com a “produção da fotografia como identidade, como recordação, como fantasma”. “É quase um contrato que eu faço com o leitor: nós vamos juntos tentar recriar o livro que ela podia ter feito”, explica ao Gerador.
O livro define-se, assim, como um “ensaio visual”, onde estão reunidas imagens sequenciais, registos familiares, recortes e elementos frásicos. Há objetos escolhidos por Patrícia Almeida que são justapostos a outros de David-Alexandre Guéniot que, desta forma, tenta “uma aproximação (uma progressiva focagem) à natureza da presença que se manifesta nessas imagens”. “Acho que é mais sobre a vida do que sobre a morte”, diz.
O livro de 304 páginas evoca ainda as reflexões de Roland Barthes em A Câmara Clara, obra derradeira do famoso autor, na qual a fotografia é pensada no prisma dual da vida e da morte. A presença versus ausência de Patrícia Almeida torna-se constante ao longo do confronto entre elementos.


O Livro da Patrícia foi originalmente publicado em Setembro de 2022 pela editora Ghost Editions, nome de um dos destacados projetos do casal. A obra esgotou em três meses, pelo que terá agora uma segunda edição.
A apresentação está marcada para o próximo dia 28 de Janeiro na livraria STET, em Lisboa. Na sessão estarão presentes a escritora Djaimilia Pereira de Almeida e o fotógrafo e investigador Humberto Brito. Está ainda previsto um lançamento posterior na cidade do Porto, em data a anunciar.