fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Marta Guerreiro

Se não existissem orientações o que é que seríamos? Livres 

Nas Gargantas Soltas de hoje, Marta Guerreiro imagina um mundo sem orientações sexuais, onde relacionar e amar seria apenas sobre sermos pessoas.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Costumo ser a primeira a concordar que este tipo de “se” não faz bem a ninguém – é irreal, e, portanto, não tem um grande propósito. Não deixo de acreditar que a questão da orientação sexual está tão enraizada que é necessário manter a conversa aberta a todas as possibilidades e desconstruções.  

Numa perspetiva de comunidade talvez nem sempre sirva de resolução usar este “se” como argumento, mas tem sido incrivelmente útil nas discussões que tenho com pessoas heterossexuais. Aprendi com a Carol, uma das minhas parceiras, que a melhor resposta que podemos dar a alguém que nos pergunta: como é que descobriste que és lésbica? É perguntando: “como é descobriste que és heterossexual?”. A quantidade de expressões faciais que se observam nesse momento mostram o quão difícil é fazer este exercício de desconstrução da sexualidade e do amor. Afinal de contas, quando é que as pessoas descobriram que eram heterossexuais?  

A orientação sexual é nos imposta nos discursos, nas músicas, nos filmes, nas perguntas das famílias, nos livros, na publicidade e no formato que se vem a repetir geração após geração. Para muitas pessoas é impensável questionar a orientação, parece que é um dado adquirido – e atenção que estas presunções ou imposições sociais são perigosas, uma vez que mexem diretamente com a nossa felicidade e forma como nos relacionamos.  

O exercício de questionar: e se não existissem orientações sexuais? Leva muitas vezes ao entendimento de que, possivelmente, a forma como as pessoas se relacionavam eram baseadas em carácter, personalidade, empatia, amor, desejo e menos em genitálias (e até isso está errado, uma vez que a genitália não define o nosso género).  

No último artigo que escrevi falava sobre a importância de pertencer a uma comunidade e a forma como tudo o que é bom ou mau afeta um todo. Não deixo de ser grata por estar envolvida numa comunidade que se agarra e derruba muros em conjunto. Ainda assim, não seria eu poetisa e ativista, se não imaginasse um mundo em que as pessoas seriam livres – e apenas livres – para serem pessoas – e apenas pessoas.  

Quando falamos de orientação sexual acabamos por nos focar imenso na nossa experiência pessoal. Tendo em conta a geografia, não somos as pessoas mais afetadas pela homofobia nossa de cada dia. Este meu exercício – feito especialmente com pessoas heterossexuais – leva muitas vezes a questões mais profundas, como classe, religião e tantas outras politiquices. Os direitos (conquistados) não estão implementados pelo mundo em todas as pessoas não-hétero.  

Aprendi com a Carol, uma das minhas parceiras, que a melhor resposta que podemos dar a alguém que nos pergunta: “como é que descobriste que és lésbica?” É perguntando: “como é descobriste que és heterossexual?”. Sorte a minha por ter perto de mim quem desconstrói a orientação e a sexualidade duma forma tão assertiva e efetiva – mas sabemos que as dores da comunidade não são resolvidas com suposições.  

O ativismo pode ser cansativo – pode e é. Explicar, a vida toda, como é que se “descobriu” uma coisa que nos é natural, não só é invasivo como nem sempre faz sentido. Como é que se descobre que somos nós? Ninguém sabe. A nossa orientação – “nossa” refiro-me a todas as pessoas – não é uma coisa que está estagnada. Pode até nem existir reposta – pode até nem existir orientação. Se calhar a melhor forma de nos orientarmos é essa, ignorando o padrão social e assumirmos que amamos e nos relacionamos – ponto.  

Quando o ativismo for cansativo e te perguntarem como é que descobriste que não eras heterossexual e não te apetecer explicar toda a história de como o L Word te fez sentir coisas na barriga (e a Sul), pergunta: como é descobriste que és heterossexual? 

-Sobre Marta Guerreiro-

Marta Guerreiro é formada em Jornalismo com mestrado em Realização. Conta com três livros publicados e vários trabalhos escritos na área do activismo (com foco em saúde mental, feminismo, não-monogamias e questões lgbtq+), assim como com a criação de uma lista de psicólogues lgbtq friendly disponível online. 
Acredita que a revolução também se faz através da escrita e que a poesia e a empatia são protagonistas na mudança e na igualdade. 
Atualmente está emigrada em Londres onde, além de continuar a escrever, trabalha também com propriedade intelectual e proteção de marcas.

Texto de Marta Guerreiro
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

23 Abril 2025

É por isto que dançamos

16 Abril 2025

Quem define o que é terrorismo?

9 Abril 2025

Defesa, Europa e Autonomia

2 Abril 2025

As coisas que temos de voltar a fazer

19 Março 2025

A preguiça de sermos “todos iguais”

12 Março 2025

Fantasmas, violências e ruínas coloniais

19 Fevereiro 2025

No meu carro encostada à parede

12 Fevereiro 2025

Sara Bichão

5 Fevereiro 2025

O inimigo que vem de dentro

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

3 MARÇO 2025

Onde a mina rasga a montanha

Há sete anos, ao mesmo tempo que se tornava Património Agrícola Mundial, pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), o Barroso viu-se no epicentro da corrida europeia pelo lítio, considerado um metal precioso no movimento de descarbonização das sociedades contemporâneas. “Onde a mina rasga a montanha” é uma investigação em 3 partes dedicada à problemática da exploração de lítio em Covas do Barroso.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0