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Cultura lisboeta está a perder terreno face à pressão imobiliária

Coletivos culturais estão a ser notificados para abandonar os espaços que ocupam. Alguns deles ponderam abandonar a capital, por não conseguirem fazer face aos preços de arrendamento.

Texto de Redação

Fotografia de Diego Garcia Via Unsplash

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Não é uma novidade, mas o problema está a agravar-se. Lisboa está a perder cada vez mais espaços culturais e associativos que não resistem à pressão imobiliária. Neste momento estão em risco quatro coletivos, que foram notificados para abandonarem os locais que ocupam. Face aos preços exorbitantes da capital, as associações vêem-se sem alternativas e acabam por deixar os imóveis.

Como “arrendar é impossível e comprar é tudo aos milhões”, o futuro do Arroz Estúdios, da Casa Independente, da Sirigaita e da Sociedade Musical Ordem e Progresso (SMOP) pode mesmo passar por outras cidades.

O aumento dos preços de arrendamento está a empurrar pessoas e coletivos para fora da capital, agudizando a gentrificação. A pressão imobiliária ligada ao aumento do turismo fez com que, há cerca de cinco anos, o Grupo Excursionista e Recreativo Os Amigos do Minho, na Rua do Benformoso, e o Sport Club do Intendente, no Largo do Intendente, por exemplo, se vissem obrigados a deixar os espaços que ocupavam. Já este ano, o mítico Crew Hassan, na zona dos Anjos, seguiu o mesmo caminho.

Patrícia Craveiro Lopes, sócia d’A Casa Independente, relembra, em declarações à Lusa, que o coletivo abriu há 11 anos no Largo do Intendente, numa altura em que aquela era uma “zona proibida, perigosa e com todo um peso social que, infelizmente, agora está a voltar”.

Recentemente, Patrícia e a sócia, Inês Valdez, souberam que o edifício que ocupam seria colocado à venda e que, por isso, não veriam renovado o contrato de arrendamento em vigor. “Vamos ter de sair daqui a cerca de dois anos. Deram-nos tempo para digerir, o que está complicado. Estamos à procura de um espaço e está muito, muito complicado”, lamentou.

Desde que abriu, a Casa Independente tem sido palco de concertos, exposições, apresentações de livros, cinema, mesas redondas, conferências, residências artísticas e performances. Face às contrariedades que agora enfrenta, as responsáveis ponderam levar a associação para fora da capital, de forma a dar continuidade ao trabalho. “Estamos no ‘salve-se quem puder’. Precisávamos de uma regulamentação, de algum tipo de estatuto que nos permitisse ter algumas vantagens, e estarmos mais seguros, porque de facto está muito complicado”, defendeu Patrícia Craveiro Lopes.

O coletivo está “em conversações” com a autarquia lisboeta, mas as responsáveis mostram-se descrentes face à eficácia das mesmas.

Também a “falar ativamente” com algumas autarquias - a de Lisboa e outras vizinhas - estão os responsáveis da Arroz Estúdios, um espaço ‘escondido’ atrás de um muro na Avenida Infante Dom Henrique.

O local que esta organização ocupa foi vendido e o senhorio já lhes comunicou que terão um máximo de seis meses para o abandonar. “Ainda não temos nenhum espaço para onde levar o projeto. Teríamos preferência de ficar em Lisboa, obviamente, mas se calhar também descentralizar o projeto e levá-lo até outras áreas”, referiu a gestora dos estúdios e residências artísticas, Cátia Ciriaco.

A Arroz Estúdios é uma associação sem fins lucrativos que está naquele espaço desde 2019 e tem “uma programação praticamente diária”, que inclui sessões de cinema ao ar livre, concertos, live jams, eventos de música eletrónica, mercados e exposições. Além disso, estão ali instalados estúdios de artistas. “É um espaço que promove a criação e a cocriação entre artistas”, salientou.

Os responsáveis do grupo têm contactado câmaras municipais “para ver se há possibilidade de uma cedência de espaço”, mas ainda sem sucesso. Arrendar seria uma opção, se os preços da capital não fossem tão proibitivos.

Também a Sirigaita, uma associação que acolhe grupos e projetos na Rua dos Anjos, a dois passos da Casa Independente, está “a ponderar tudo”. Aquela associação, onde todos são voluntários, já recebeu uma carta do proprietário do prédio para deixar, até fevereiro, o piso térreo que ocupa desde o final de 2018 e onde anteriormente funcionava o espaço associativo MOB.

“Muitos espaços estão em risco agora, por causa da dinâmica da mudança urbana, da mudança do bairro que toda a gente conhece”, alertou Marco Allegra, membro da Sirigaita. “Com o turismo e toda a economia que vem daí, os preços das casas subiram imensamente. O turismo traz muito dinheiro, mas ninguém cuidou muito das consequências que tudo isso iria trazer para a população e para as coisas de que a população gosta. E acho que isso é um problema muito grande em Lisboa hoje”, defendeu.

O plano desta associação passa por “resistir a este despejo”, sem especificar exatamente de que forma. “Não só por nós. Muitos espaços coletivos têm vindo a fechar, e muitos continuam com as paredes emparedadas, muitos anos depois de estarem vazios. Queremos resistir a esse fenómeno, que é esvaziar a cidade daquilo que é sinónimo de vida. Acredito que é isso que estamos a fazer aqui, a produzir vida urbana. Juntamos pessoas, ideias, é um ponto de cruzamento”, afirmou Maria João Costa, que integra esta associação.

Embora ocupe um espaço pequeno, além de acolher projetos ligados ao ambiente, à habitação e à inclusão de mulheres que usam drogas e trabalham na rua, a Sirigaita tem “um leque muito amplo de atividades”. “Achamos que devem existir espaços como este e vamos resistir também por isso”, acrescenta.

Numa outra zona da cidade, perto da Rua das Janelas Verdes, o plano da Sociedade Musical Ordem e Progresso (SMOP) é também resistir.

“Este espaço foi comprado há coisa de um ano e tal por um grupo. Querem despejar toda a gente para fazer um hostel”, contou o presidente da SMOP, fundada em 1898 e que está no primeiro andar de um prédio na Rua do Conde desde 1892/93, ainda antes da formalização da coletividade.

Naquela zona da cidade “havia uma série de coletividades, mas hoje em dia só há duas ou três, fecharam quase todas devido a esta política de arrendamento”, lamentou Carlos Melo.

De acordo com o responsável, os novos senhorios “já contactaram a Junta de Freguesia da Estrela e a Câmara Municipal de Lisboa para ver se havia um espaço” disponível. “Querem dar-nos 200 mil euros pelo salão [construído pela coletividade, na parte traseira do edifício], para o deixarmos. Mas não me interessa o dinheiro. O meu objetivo é não fechar a coletividade, mantê-la com as atividades que tem e incrementar as que não estamos a fazer porque não temos condições para isso”, afirmou.

Sair daquela zona de Lisboa está fora de questão: “Temos de ficar na freguesia, porque os sócios são desta comunidade. Alguns foram morar para longe, mas continuam a ser sócios, mas a maior parte deles reside aqui em redor da coletividade”, acrescenta.

*com Lusa

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