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Festival Ovar Expande: um tributo ao universo musical na sua diversidade de conexões

Nas instalações de uma antiga fábrica de papel, nasceu uma Escola que promete eternizar e dar vida às artes na cidade de Ovar. É neste espaço cultural que cresce o festival Ovar Expande, este ano marcado por apresentar a música em diversas facetas artísticas, ligando-a à fotografia e à ilustração, expandindo-se ainda em oficinas, masterclass e workshops.

Texto de Redação

Festival Ovar Expande: Tó Trips no concerto | ©FestivalOvarExpande

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Desde Aveiro, são 40 quilómetros até lá chegar. Ouve-se o barulho típico de uma ria, vê-se edifícios decorados com azulejos e há um cheiro a pão de ló reconhecível. Estamos em Ovar, mais precisamente na Escola de Artes e Ofícios. O edifício recebeu, de 19 a 21 de outubro, um dos maiores eventos de arte e cultura do distrito de Aveiro: o OvarExpande. E o nome não parece ter sido escolhido ao acaso. Aqui, as “artes e ofícios” expandem-se nas mais diversas facetas artísticas.

O músico e produtor João Bonifácio é quem nos apresenta uma dessas faces na Sala Galeria do edifício. A casa não lhe é estranha, uma vez que nasceu e cresceu em Ovar. “Mais do que ansioso, estou entusiasmado. Estou sempre a «magicar» o que é que vou fazer esta noite”, começa por dizer o artista, em entrevista ao Gerador. É o primeiro a abrir as portas daquela que já é a 4ª edição deste festival, mas não está sozinho. Ao seu lado está um instrumento peculiar que “descobriu enquanto explorava o desconhecido em plena pandemia”. Os sons de síntese são claros, estamos a olhar para um sintetizador modular e é sobre o mesmo que o artista, dentro de minutos, irá dar uma oficina de experimentação. Esta foi uma das novidades deste ano e já se encontrava esgotada, assim como as masterclasses e formações técnicas.

Bonifácio a improvisar durante o concerto | ©AnaBarros

Saímos do edifício e caminhamos até o bar do Centro de Arte de Ovar. Assim que entramos, ouve-se no silêncio alguns risos, fruto das histórias que Tó Trips, músico e guitarrista, conta sobre o seu novo livro, Ínfimas Coisas, lançado em março deste ano com o selo da editora Revolve. Durante duas décadas, foi uma das metades da banda portuguesa Dead Combo, que partilhou com o amigo Pedro Gonçalves, falecido em 2021. Num contexto pós-pandémico, decidiu lançar-se a solo “numa reunião das várias geografias” que percorreu com a sua guitarra. Diz que não é escritor, nem fotógrafo e, em entrevista ao Gerador, apresenta-se como  “apenas alguém que decidiu arrumar a casa e continuar a lutar”. “O livro foi uma purga para mim, uma maneira de avançar para a frente e, sobretudo, uma maneira de me arrumar a mim próprio”, confessa.

A pandemia acabou por abrir horizontes a estes dois artistas, mas não só. Foi nesta altura pandémica que nasceu, como catalisador de esperança, resiliência e confiança o festival Ovar Expande.

A vontade de “expandir” a arte na pandemia

A música que chegava pelos auriculares já não era suficiente. A ideia era simples: “movimentar o meio artístico, aquietar as pessoas e voltar à normalidade”. Todavia, acabou por ser muito mais do que isso. Em julho de 2020, quando os portugueses continuavam isolados nas suas casas devido à pandemia covid-19, surgiu o festival. “O Ovar Expande nasce em contexto de pandemia, de uma necessidade e de uma vontade de criarmos um ciclo de concertos, de acordo com as regras sanitárias em vigor”, explica Alexandre Rosas, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Ovar. O anseio por um festival de verão era partilhado por muitos. Assim, com quatro concertos únicos e especiais, arrancou a primeira edição do Ovar Expande, com Luís Severo, Afonso Cabral, Birds Are Indie e Club Makumba no cartaz.

De quatro concertos nos primeiros dois anos, passaram para oito nas seguintes edições e as datas já não eram as mesmas. O festival muda-se da época de verão, para a de outono, uma vez que era um período que ainda não tinha marca. Como tal, a partir da 3ª edição, que ocorreu em 2022, houve um reforço não só dos concertos, como também das conversas e oficinas. Este ano, a promessa é de ligar a música a outros universos criativos, à palavra, à fotografia e à ilustração, com experiências de formação e workshops, que assim como o festival, já estavam esgotadas.

Quem deu palco a esta iniciativa foi a Escola de Artes e Ofícios, outrora uma fábrica de papel e de reconhecido simbolismo, que rapidamente se tornou casa deste projeto cultural. Alexandre Rosas conta-nos que a missão de expandir a cultura ficou a cargo da Sala “Expande”, “um espaço onde se podia fazer o controlo da segurança das pessoas”. Para tal, criou-se um lugar que, para além de seguro, fosse também próximo ao público. “É um espaço especial porque permite concertos mais intimistas que uma sala de 350 lugares não oferece. Continua a ser o espaço perfeito para este tipo de evento”, explica.

Alexandre Rosas, Vereador da Cultura, na Câmara Municipal de Ovar e José Pimenta, Chefe de Divisão do desporto e cultura, na Câmara municipal de Ovar, assistem à conversa sobre o lançamento do livro do guitarrista Tó Trips | ©OvarExpande
Livro do músico e guitarrista Tó Trips, “Ínfimas Coisas | ©OvarExpande

Prestes a entrar na sala intimista está uma jovem que veio de propósito ver um dos seus ídolos, Tó Trips. Conta-nos que já o conhecia enquanto guitarrista na banda Dead Combo. “Conheci-o com o Pedro e já fui a mais do que um concerto e claro que não poderia perder vê-lo neste registo mais autobiográfico”. As luzes apagam-se e ouvem-se aplausos. Tó Trips acaba de entrar em palco, à sombra da sua velha guitarra, mas não está por sua conta. O artista faz-se acompanhar de António Quintino no contrabaixo e Helena Espavall no violoncelo para apresentar o seu terceiro álbum, “Popular Jaguar”. Não se ouve nada a não ser os intensos acordes da guitarra do músico. Há quem se levante para observar melhor, há quem fique parado de olhos postos no espetáculo, mas não há ninguém que fique indiferente à expressão corporal do artista.

Antes de tocar a sua última música e fechar a primeira noite do festival, Tó Trips faz um pedido ao público: “Hoje em dia tenho fé, aliás, tenho fezadas, tenham fé em vocês, tenham fé uns nos outros”. O concerto terminou e muitos espectadores colocaram-se de pé para aplaudir a performance do guitarrista.

Tó Trips foi convidado em março e abril deste ano para tocar com os Xutos e Pontapés na Tour Circo das Feras | ©OvarExpande

“A fotografia é como uma canção: irrepetível”

É dia 20 de outubro, segundo dia do Ovar Expande e o relógio marca as 10h da manhã. Na Sala Galeria começa mais uma experiência, mas desta vez quem tem palco é a fotografia. Assim que nos sentamos encontramos Rita Carmo, fotojornalista, que tendo experiência como professora, mostrava-se animada por lecionar um workshop sobre aquilo que é a sua paixão: fotografia de música.

Rita Carmo já fotografou cerca de 3 mil concertos | ©OvarExpande

O workshop já estava esgotado, os participantes foram chegando aos poucos e a sala encheu. Rita Carmo faz a primeira pergunta: “Por onde é que começo: fotografia de concerto ou retratos de música?”. Não houve espaço para a indecisão, uma vez que Rita já completava uma lista de cerca de 3 mil concertos fotografados. A fotojornalista afirma que, ao longo dos anos, tem sentido uma responsabilidade cada vez maior ao fotografar esses espetáculos. “Sinto que tenho a obrigação de não errar, mas tento acalmar a cabeça”, confessa. Nomeia os Xutos e Pontapés e os Dead Combo, como duas bandas que teve a oportunidade de acompanhar e reflete que “poderia ter sido outra pessoa”. “Tive uma oportunidade que mais ninguém teve e tento agradecer mostrando que não posso falhar”, revela.

Entre conversas, várias perguntas, confissões e até histórias caricatas de vários concertos e artistas, três horas passaram a correr na Sala Galeria. Tiago Rebelo foi um dos participantes do workshop que contou ao Gerador que “se não havia um bichinho para fotografar, agora já há”. “Se houvesse dúvidas de que eu queria começar, agora já não existem. Mesmo que não o queira fazer como profissão, posso fazer como hobbie”.

O workshop “Imagens Sonoras” ministrado pela fotojornalista Rita Carmo era gratuito e esgotou rapidamente | ©OvarExpande

Continuando a missão de trazer um ecossistema criativo ao público, ligando a música à palavra, à fotografia e à ilustração, o dia continua ligado à imagem, mas desta vez com outros convidados. São eles Evaya, Ana Lua Caiano e Sean Riley. Os três artistas preparam-se para uma conversa ao vivo transmitida em Live Streaming. A iniciativa tem como objetivo “aproximar os artistas ao público e debater sobre os desafios que a cultura enfrenta”.

Beatriz Bronze, que usa o alter-ego Evaya, dá o pontapé de saída para falar sobre fotografia na música, revelando que a imagem é importante no seu trabalho, uma vez que se torna “um portal que constrói a Evaya”. A cantora Ana Lua Caiano confessa que na sua experiência “as fotografias dão um lado que a música não transmite”, no seu caso, ajuda a transmitir as cores fortes nas suas imagens, características da personagem que cria em palco.

Já Afonso Rodrigues, de nome artístico Sean Riley, revela que a mesma é como uma canção: “irrepetível”, acrescentando que chegou a “comprar discos pela capa”.

A verdade é que a fotografia foi a culpada pelo último álbum do cantor, apelidado “Andaluzia”, que gravou juntamente com o músico e produtor, Paulo Furtado, The Legendary Tygerman. “Foi a imagem de uma antiga cabana de pescadores, em frente ao mar, que nos levou a viajar até ao Sul de Espanha e gravar um disco de raiz”, disse. No entanto, a situação não era incomum. Cinco anos antes de nascer “Andaluzia”, com uma vontade quase inata de viajar, os dois artistas lançaram o seu primeiro álbum, “Califórnia”, um disco fruto de uma viagem aos EUA. “O Califórnia é gravado nos hotéis onde nós dormíamos enquanto visitávamos o estado da Califórnia. Foi uma viagem incrível com uma história que é um disco”, revela.

A conversa ao vivo em Live Streaming foi transmitida nas redes sociais de Ovar cultura, em parceria com a rádio da região, AVFM.

As boas músicas fazem-nos viajar e é na Sala Expande que os fãs de Sean Riley se preparam para fazê-lo. De Oliveira de Azeméis, passando por Santa Maria da Feira até à capital portuguesa, os fãs de Afonso Rodrigues parecem multiplicar-se. “Viemos de propósito de Lisboa para ver Sean Riley, queríamos ver um espetáculo dele há algum tempo e soubemos que ele vinha cantar a Ovar”, diz-nos, entre risos, um casal lisboeta.

De aplausos começa o espetáculo. Sean Riley aparece sozinho, sem o músico e amigo The Legendary Tygerman, e é neste cenário que lhe dedica uma música. “Dedico esta música ao meu amigo, das viagens, das músicas… Good Kids”. Sempre de guitarra na mão, o concerto é vivido com muita emoção. Entre canções, há agradecimentos, algumas palavras e conversa com o público que termina em gargalhadas. No final, ouve-se “só mais uma”, de forma repetida. E é com uma última música que termina o primeiro concerto da segunda noite.

Sean Riley é o primeiro a atuar no segundo dia do festival | ©OvarExpande

Uma programação eclética: o cruzamento de vários estilos musicais

Dança, sons da natureza, música eletrónica, uma voz suave ao fundo… Tudo isto na mesma sala. Os responsáveis são Evaya e Polivalente, que mostram sem medo o que é um cruzamento de música eletrônica com outros estilos musicais. Há espontaneidade, não há ordem nas canções e até há espaço para a improvisação. “Doce Linguagem” é uma das canções mais esperadas da noite e é a canção que a artista usa para se dirigir ao público. “Não sou boa a falar, sou melhor a fazer canções, mas queria pedir-vos para serem melhores uns para os outros, terem compaixão, serem mais doces. Vai ser essa a cura no mundo”.

De uma pequena aldeia até à capital, Evaya traz em todos os concertos cenários mais exóticos e surrealistas. Ao Gerador, revela que muitas das suas canções são retiradas desses lugares, mas há um em especial. “Há sempre um espaço onde volto: a casa dos meus pais que é onde eu vou buscar várias coisas que tenho de curar dentro de mim”. Apesar de não se sentir sempre bem em palco e ainda “lutar contra algumas inseguranças”, para a cantora a música é um espaço onde se pode conhecer melhor. “Não tinha um propósito e a música deu-me um. Acima de tudo, deu-me muita vontade de viver”, confessa.

Para Alexandre Rosas, vereador da Cultura, é esse o grande desafio de quem está à frente da cultura: “abranger um público eclético”. “Este conceito que nós trazemos ao Ovar Expande que é uma música nova, uma música alternativa, é um conceito que não existia”, responde. Alexandre Rosas conta-nos ainda que “há grandes escritores, artistas e músicos” que não têm necessariamente de ser "homens de palco e de grandes concertos”. “Isso também é preocupação de quem programa e de quem está atento realmente ao mundo da cultura e do artístico”, esclarece.

Beatriz Bronze, de nome artístico Evaya, já atuou no festival Nos Alive | ©AnaBarros

Um bombo, um sintetizador e uma loop-station. Está tudo montado para entrar a próxima artista em palco: Ana Lua Caiano. Para quem assistiu, o concerto no Ovar Expande tornou-se num verdadeiro “one woman show”, onde a artista usou inúmeros instrumentos percussivos e vários efeitos sonoros, tudo em tempo real. No fim, os elogios do público multiplicaram-se. “Nunca assisti a nada igual. Foi incrível”, “É sempre bom rever a Ana Lua, é uma energia que se encontra em poucos concertos”, foram alguns dos comentários da plateia, após o término do concerto, que fechou o segundo dia do evento.

E não era para mais. Ana Lua Caiano é uma das vozes emergentes da música nacional que, através da junção da música tradicional portuguesa com a música eletrónica, quebrou alguns tabus, tais como “o fado ser intocável”. Em entrevista ao Gerador, revelou como é o processo criativo das suas músicas. “Estou a passear ou estou à espera de alguma coisa e gravo. Uso muito o telemóvel para gravar ideias”, confessa a cantora de 23 anos. Em palco transforma-se: a força do olhar, as cores fortes, a música feita em tempo real são algumas das características que definem a identidade da cantora.“Sou uma pessoa envergonhada, mas a cantar e a atuar em palco não sou. Tento transmitir a força que uma canção tem”, conta-nos a artista.

Ana Lua Caiano fecha a última noite do segundo dia | ©OvarExpande

Uma partilha de arte entre artistas e público

É dia 21 de outubro, último dia do Ovar Expande. A manhã começou com a última experiência do festival. O público-alvo era todos os artistas e projetos culturais independentes que queriam saber mais sobre o financiamento à cultura. Magda Bull, produtora cultural e formada no Gerador, é a voz desta formação. Da música ao teatro, passando pela pintura, até à dança, a maioria dos participantes vieram de longe para esta iniciativa. “Dá-me imenso prazer partilhar a informação que eu sei.Entusiasmar as pessoas por uma área que eu sei que é exigente e que requer estudo”, revela Magda Bull ao Gerador.

Depois de uma formação prática e esclarecedora, todos os inscritos saíram com mais “entusiasmo para continuar. “Às vezes não sabemos por onde começar, estamos perdidos, eu mostro que é possível, através de exemplos práticos”, contou-nos a produtora cultural.

A formação técnica de Magda Bulls trouxe participantes de várias áreas artísticas | ©OvarExpande

E porque na Escola de Artes e Ofícios há sempre algo a acontecer, preparamo-nos para assistir aos três últimos concertos naquela que é a última noite do festival. O relógio marca as 21h13, as luzes coloridas da Sala Expande já foram testadas, bem como o som. Na plateia não há um lugar vazio e até os mais pequenos vieram assistir: deambulam em correria acompanhados de sorrisos pelo recinto. Já no backstage está Pedro Pode, de nome artístico S.Pedro, que traz consigo uns quantos amigos. As suas canções são letras com histórias, como quem diz, ler um livro através da música. Mas, o que define S.Pedro são os estilos musicais aleatórios. “Nós gostamos da aleatoriedade de outros géneros dentro da banda, identificamo-nos com isso e vai ser sempre assim”, revela.

Pedro Pode foi membro da banda Doismileoito | ©OvarExpande

A dançar e a divertir-se no concerto de S.Pedro, juntamente com a plateia, está Lika, a próxima cantora a subir ao palco. Mas não foi a única artista que assistiu aos concertos ao lado do público.

Com o objetivo de ser mais do que um concerto, este ano o Ovar Expande teve também como missão aproximar o público aos seus ídolos: “tantas vezes vamos ver o nosso ídolo e não temos qualquer tipo de proximidade. Aqui podem sentar-se ao lado dos artistas e falar com eles”. E assim foi. A maioria dos artistas em cartaz, nomeadamente Bonifácio, Ana Lua Caiano, Evaya e Best Youth, assistiram aos concertos dos colegas músicos e sentaram-se ao lado do público.

Lika sai apressada e prepara-se para entrar em palco. Quem a vê é sempre de sorriso no rosto. O Gerador entrevistou a cantora do Cazaquistão depois do concerto, altura em que se encontrava emocionada, depois de receber um público que a acompanhou a cantar em português. “Posso dizer-te o que é que a música foi para mim hoje? Foi uma onda gigante que parece que parou mesmo em cima de mim”, confessa-nos a guitarrista. Em pequena, não queria ser cantora, mas tinha uma certeza: “eu queria tocar guitarra”. E foi com vários solos na guitarra elétrica que o concerto da artista começou, mas, desta vez, com novas melodias: em português. “Eu estou a pensar mais em português. E até com os gatos em casa, eu falo em português. Sinto-me bem e cada vez faço mais parte desta língua”, diz-nos.

Lika tem uma aplicação “Lika World Academy” onde dá aulas de guitarra | ©Ana Barros

A pensar em tocar em português estão os Best Youth, a dupla que irá fechar a grande última noite do Ovar Expande. Em boa disposição, Catarina Salinas e Rocha Gonçalves revelam ao Gerador, que a porta de cantar em português não está fechada. “Já escrevemos, já temos textos escritos em português. A nossa língua materna é uma língua lindíssima”, esclarecem. Seja em que língua for, a energia e a química de Catarina Salinas e Rocha Gonçalves é transmitida a qualquer pessoa. “Esta química vem de muitos anos de amizade. É o resultado de dois amigos que gostavam muito de música e estavam tão entusiasmados que decidiram fazer e experimentar” responde, Ed, ao qual Catarina acrescenta “que foi algo muito orgânico e natural”: “há uma química inerente porque começamos isto sem pensar que iríamos ser uma banda e viver disso”.

Em palco foi isso que vivemos. Best Youth transformaram a Sala Expande num concerto de revelação onde tocaram várias músicas novas que irão sair no novo álbum, com lançamento marcado para janeiro de 2024. A última noite não podia ter terminado melhor: era uma hora da manhã e a plateia ainda continuava de pé, a dançar e sem sinais de cansaço. Ainda se ouviu gritos a pedir “só mais uma”. Não só foi uma, como foram mais duas.

Best Youth é uma banda que já conta com 13 anos | ©OvarExpande]

Best Youth fecharam (e bem) a última noite de um ciclo de oito concertos, que foram vividos de um festival que, para além de trazer um universo criativo, faz um tributo à música em todos os sentidos.

“Uma equipa que não é família cumpre a missão, mas não com a mesma paixão”

A promessa era forte: expandir o universo musical em todas as facetas artísticas, marcando-se, em definitivo, como programação cultural de Ovar. “Costuma-se dizer que no segundo ano ou vai ou morre”, diz, Gilberto Godinho, especialista técnico na Escola de Artes e Ofícios de Ovar.

Três anos se passaram e o Ovar Expande parece ter respondido aos seus objetivos. Os comentários e elogios não deixam dúvidas. Comecemos pelos artistas. Evaya, antes de subir ao palco, confessou ao Gerador que nem sempre se sente confortável num sound check. “Às vezes faço o sound check e é tudo tão caótico que nem vontade tenho de ir ao concerto. Aqui as pessoas foram super amáveis, os técnicos foram sempre acessíveis e atentos às nossas necessidades”. Tó Trips afirmou, enquanto apresentava o seu livro, que “faz falta eventos destes sobretudo em pequenas cidades. “É um tipo de evento necessário neste país e é importante sermos ecléticos e procurarmos estes nichos”. Já Lika foi mais longe e afirma que Ovar Expande foi uma “explosão de arte”, elogiando a organização. “Primeiro a organização está super bem feita e eu acho que um bom concerto só é bom quando todos os detalhes estão a ser bem feitos”, confessou a cantora, acrescentando que “é simples ir ver um concerto onde já conhecemos a música e curti-la, mas já é mais difícil estar de alma aberta para conhecer novos artistas”. Os Best Youth apelam para mais iniciativas iguais. “Fomos muitíssimo bem recebidos e, pelo que nos descreveram, só mostra que este festival tem muitas pernas para andar”.

Para aprofundarmos melhor essa questão, o Gerador convidou todos os responsáveis para uma conversa intimista, desde a direção técnica, que faz com que os concertos sejam possíveis de acontecer, até à “cabeça” que pensou nisto tudo.

“Vocês parecem família. É esse o segredo?”, começamos por perguntar. “Nem tanto, calma!”, responde a sorrir José Pimenta, chefe de divisão de cultura e desporto, da Câmara Municipal de Ovar. Nelson Valente, diretor técnico e luminotécnico do Centro de Arte de Ovar, conta-nos que a importância do festival é a de “expandir um bocadinho a cidade de Ovar”. “Eu faço com que as coisas sejam possíveis de acontecer, da melhor forma. Por exemplo, aqui a sala não é fácil para trabalhar a acústica, mas fazemos com que as pessoas se sintam confortáveis, e se sintam que é um prazer vir aqui”. Sem a equipa técnica nada aconteceria, mas sem Gil Godinho também não, ressalta a equipa. “É o Gil que, de alguma forma, dá  início a isto tudo. Ele é o motor de uma carruagem maior que segue”.

A equipa responsável pela organização do festival OvarExpande 2023 | ©AnaBarros

A pensar no próximo ano, já está Liliana Elsig, membro da Acão Cultural e Mediação de espetáculos da Câmara Municipal de Ovar. “Quando estás a tentar melhorar o que vais fazer a seguir de certa forma já estás a pensar no próximo”. Ainda que não haja uma confirmação oficial de um Ovar Expande 2024, há uma certeza: o que vier será sempre um tributo à música de uma equipa que trabalha em família e com paixão. “Uma equipa que não é família cumpre a missão, mas não com a mesma paixão “, afirma José Pimenta.

Texto de Ana Barros

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