“Na Área Metropolitana de Lisboa, a maioria das pessoas que trabalham e produzem riqueza são pessoas que moram nos territórios estigmatizados e racializados, mas mesmo assim não têm representatividade, não têm voz, as suas reivindicações são secundarizadas, negadas ou subalternizadas”.
As palavras são de Flávio Almada, ativista e porta-voz do Movimento Vida Justa, que nasceu há cerca de um ano, por iniciativa de uma série de ativistas ligados à vida de bairros populares e periféricos na Área Metropolitana de Lisboa. Exigem acesso à habitação e à saúde, emprego com dignidade, salários justos, transportes e creches gratuitas.
“Trabalhamos, produzimos a riqueza aqui e, no entanto, não há investimento em políticas públicas direcionadas para essas comunidades onde abunda a falta de equipamentos sociais", afirma.
Flávio Almada explica que a mobilização é apenas um dos eixos do Movimento Vida Justa, e que o principal objetivo é criar “sujeitos políticos” da periferia. Só com organização política, defende, é possível ultrapassar as dificuldades atuais, que afetam principalmente os mais pobres. “Essa situação pode mudar e vai depender da ação coletiva, de participar, de não se acantoar, não se deixar enganar por propostas vazias, por conversas fiadas, por transferência de ódio para determinados grupos, quando nós sabemos que [há] uma pequena minoria que anda a ganhar grandes lucros à custa disso.”
Flávio Almada, que como rapper é conhecido como LBC, é ativista e porta-voz do movimento Vida Justa. Coordena o Moinho da Juventude, na Cova da Moura, na Amadora, uma das mais maiores e mais antigas associações daquele bairro, e que providencia educação e alimentação a crianças, lutando pela integração dos jovens. Mestre em Estudos Internacionais, também pertence à Plataforma Gueto, um movimento político antirracista. E é ainda membro do coletivo Mbongi 67, um espaço cultural, de “resistência urbana”, que é também uma livraria e se situa na Damaia.