Decisão, escolha, opção. Da clássica «pedra, papel, tesoura» ao tradicional «pimpampum», das listas de prós e contras às reflexões mais profundas, das consultas públicas aos saltos de fé, cada decisão carrega consigo um processo único, mais ou menos complexo. A certeza é constante: como indivíduos e sociedade, deparamo-nos frequentemente com momentos cruciais que exigem escolhas, decidir.
Escrever sobre decisões pode levar a vários caminhos, e a uma panóplia de teorias de como o fazemos ou as melhores abordagens, e convido-vos a embarcar nesta viagem comigo. Ao olhar para as várias camadas da nossa vida, percebo que somos todos decisores, o que muda é a nossa esfera de ação. Dependendo do nosso lugar nessa esfera, podemos ser também os que têm de lidar com as decisões que são de outros decisores.
E se muitos se debruçam sobre a fórmula certa de tomar decisões, enquanto se vai travando batalha dos clichês que «não decidir é uma decisão» ou «que a pior decisão é não decidir», surge cada vez mais no contexto das escolhas sociais, ambientais, económicas, a premência de decisões com informação, baseadas em evidências, com ciência. Nessa esfera de ação, ter bons decisores torna-se essencial, e, numa sociedade e mundo a alta velocidade, é cada vez mais desafiante ter este papel.
Se tivesse de escolher uma lista de características para uma pessoa decisora, poria, sem dúvida, a capacidade de ouvir, de consultar, de questionar, de prever cenários, e a coragem. No fundo, a capacidade de ter uma abordagem científica aliada a um humanismo e empatia. Esta abordagem científica na tomada de decisões revela-se crucial em diversos domínios da vida, incluindo o cenário político, onde estas escolhas fundamentais moldam sociedades e determinam o futuro.
Ao ler sobre decisões, dei um salto a outros séculos, e cheguei a uma narrativa particularmente fascinante ao explorar as escolhas de Charles Darwin, conhecido cientista. No século XIX, Darwin embarcou na sua expedição à volta do mundo, que o levou ao desenvolvimento da teoria da evolução. No entanto, uma das decisões mais cruciais de sua vida não ocorreu nas vastidões da natureza, mas sim num contexto mais pessoal – escolher Emma Wedgwood como sua parceira de vida.
O método de Darwin para tomar essa decisão é certamente usado por muitos de nós hoje: fez uma lista de prós e contras. Encontrada esta lista nos seus diários, percebemos que, apesar de ter listados mais contras do que prós, ainda assim decidiu casar com a sua amada Emma. Posso especular um pouco aqui: apesar do seu pensamento científico e tentativa de sistematizar esta decisão, Darwin parece ter compreendido que, apesar do utilitarismo e racionalidade de uma lista, há uma dimensão de propósito, emoção e humanidade quando associada a este tipo de escolhas.
Conduziu-me assim a uma perspetiva intrigante sobre como as decisões baseadas em ciência podem transcender fronteiras disciplinares. Pelo contrário, elas são permeadas por uma dimensão mais ampla de propósito, emoção e humanidade. A narrativa de Darwin nos convida a refletir sobre como a aplicação de métodos científicos na tomada de decisões pode ser enriquecedora, mas nunca totalmente divorciada da complexidade inerente à condição humana.
Se regressarmos aos decisores, sejam elementos num parlamento, governo, organização, e como este balanço entre decisões e escolhas baseadas em evidência, e um olhar completo para o contexto humano dessa decisão, deparamo-nos com a verdadeira complexidade da tomada de decisões.
Por um lado, a ênfase deve ser posta no processo da tomada de decisão e não apenas em quem lidera o país, por exemplo. O sistema como um todo deve ser construído de maneira eficiente e baseado em evidências. No entanto, apesar do valor da ciência, que exige rigor e validação pela comunidade científica, percebemos que, para problemas complexos de formulação de políticas, a ciência, muitas vezes, não fornece uma resposta única.
A aplicação da ciência na política não se resume apenas a dados e análises estatísticas, mas também uma compreensão aprofundada dos problemas sociais e económicos. E nesta dimensão, os valores de quem decide podem apresentar um peso preponderante na decisão, mesmo com toda a ciência envolvida.
Quão interessante seria todo este processo de decisão ser transparente? Ou até em certos pontos mais colaborativo e envolver mais quem também irá lidar com a decisão. Discutir as opções, fazer escolhas em diálogo aberto com especialistas, os decisores políticos, mas também a comunidade envolvida, criando novos decisores.
A ciência, aliada à empatia e ao humanismo, pode conduzir a escolhas políticas transformadoras. As decisões significativas, muitas vezes, requerem uma combinação equilibrada de lógica e sensibilidade, integrando o melhor das descobertas científicas com a riqueza da experiência humana.
-Sobre a Rita de Almeida Neves-
Rita é comunicadora de ciência e uma ativista do poder da ciência em prol da democracia. Tem-se dedicado a programas educativos e de aproximação de ciência à sociedade. Bioquímica, partilha a paixão entre as palavras e as moléculas, e nunca a vão encontrar sem um caderno e caneta.