fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Natércia Rodrigues Lopes

Carta do Leitor: O argumento romântico para a participação política

A Carta do Leitor de hoje chega-nos pelas mãos de Natércia Rodrigues Lopes, que desvenda o lado emocional da participação política.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

A força da Democracia está na pluralidade das vozes que de forma igualitária a constituem: a mais participada das Democracias é também a mais forte. A perda de participação política que marca os nossos dias é, por isso, simultaneamente um factor e um sintoma de deterioração do sistema democrático. Cresce, em silêncio mas implacável, a distância entre as pessoas e a Democracia que deveria ser sua, e que só pode dizer-se plena quando for verdadeiramente inclusiva.  

Os argumentos para a participação política tendem a focar-se no apelo ao voto, frisando a importância de não abdicarmos da nossa voz. A participação política é também uma forma de serviço à comunidade em que nos inserimos, ou uma forma ativa de defendermos os nossos direitos individuais e coletivos. Todos estes argumentos são válidos e verdadeiros. Mas esquecem que a política é muito mais que momentos eleitorais, e que a Democracia é mais que um voto. A política é, talvez acima de qualquer outra coisa, uma relação que mantemos connosco e com os outros. A política é, por isso, emocional, e faz falta o argumento romântico para a participação política. 

Embora isso nem sempre transpareça em discursos altamente curados e ensaiados, a política é uma coisa de muita intimidade. Não há nada mais íntimo do que descobrir ou revelar como sentimos o mundo: as nossas ideias sobre relações em sociedade, sobre o papel do indivíduo no coletivo, ou sobre as ligações que temos com o mundo natural. O pensamento de alguém sobre direitos, sobre espiritualidade, sobre autonomia, sobre ética, comunidade, paz, memória, simbolismo, enfim – sobre política – refletem as suas mais profundas crenças, desejos e preocupações. O posicionamento político de alguém, especialmente quando é partilhado sem esse rótulo, é o que de mais perto fala da sua verdade. E saber de alguém essa verdade aproxima-nos profundamente.

Na minha vida ter-me-ei apaixonado mil vezes, vezes sem conta, por pessoas que se entregaram àquilo em que acreditam, e confessaram-no claramente, quase sem querer nem dar por isso. Quantos sorrisos troquei depois, quando por fim nos olhámos pela primeira vez, alma desnuda. Apercebermo-nos do quanto nos emocionamos a debater política é o momento em que nos apaixonamos por ela e por tudo o que ela trata, que inclui os outros e a nós mesmos. Só a paixão desses momentos permite fazer política verdadeira e transformadora. Só essa paixão nos permite mobilizarmo-nos para a ação, rumo aos nossos sonhos.

Por isso, o romance não é um sub-produto do trabalho político. Pelo contrário, é fator necessário a esse trabalho. Todos os ideais que nos desenham um mundo melhor e uma sociedade mais justa são românticos por definição, fugindo à análise determinista daquilo que é e, em vez disso, arriscando imaginar o que poderia ser. Não é possível idealizar o futuro sem nutrir a esperança de que vale a pena o trabalho, e de que é possível a mudança. 

Se deixarmos de acreditar em ideais, o que defendemos? Se deixarmos de acreditar nas pessoas, por quem lutamos? Se abandonarmos o romance, que será feito dos nossos sonhos, desejos e ambições? E sem esses, que existência nos resta? A cantiga é uma arma porque nos revolta as emoções e acende as revoluções que somos. Se não vivemos profunda e constantemente apaixonados uns pelos outros, pela vida, e pelo mundo, poderemos dizer-nos vivos? 

Fazer política é apaixonante. É apaixonarmo-nos pelo mundo, e por nós mesmos como parte dele. É ver a sociedade como uma coisa linda pela qual vale a pena lutar. É partilhar essa visão com outros, e entregarmo-nos em abraços de camaradagem que nos devolvem o fôlego. É deixar que nos encha o peito a alegria de imaginar o que poderá vir a ser. 

Ser politicamente ativo é um ato de amor. 

Se quiseres ver um texto teu publicado no nosso site, basta enviares-nos o teu texto, com um máximo de 4000 caracteres incluindo espaços, para o ge***@*****or.eu, juntamente com o nome com que o queres assinar. Sabe mais, aqui.
Texto de Natércia Rodrigues Lopes

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

6 Novembro 2025

Ovar Expande: ser cantautor para lá das convenções

5 Novembro 2025

Por trás da Burqa: o Feminacionalismo em ascensão

3 Novembro 2025

Miguel Carvalho: “O Chega conseguiu vender a todos a ideia de que os estava a defender”

31 Outubro 2025

Tempos livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

29 Outubro 2025

Catarina e a beleza de criar desconforto

27 Outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

24 Outubro 2025

Tempos livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

17 Outubro 2025

Tempos livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

16 Outubro 2025

Documentário ambiental “Até à última gota” conquista reconhecimento internacional

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

29 SETEMBRO 2025

A Idade da incerteza: ser jovem é cada vez mais lidar com instabilidade futura

Ser jovem hoje é substancialmente diferente do que era há algumas décadas. O conceito de juventude não é estanque e está ligado à própria dinâmica social e cultural envolvente. Aspetos como a demografia, a geografia, a educação e o contexto familiar influenciam a vida atual e futura. Esta última tem vindo a ser cada vez mais condicionada pela crise da habitação e precariedade laboral, agravando as desigualdades, o que preocupa os especialistas.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0