A etiqueta do serviço à mesa e do comportamento dos clientes nos restaurantes alterou-se bastante devido à situação de pandemia que atravessamos neste ano de 2020.
Hoje as mesas não estão aparelhadas quando chegamos e temos de esperar pela desinfeção do espaço (mesas e cadeiras). Só depois se colocam as toalhas, pratos e talheres, para finalmente os clientes tirarem as máscaras de proteção facial e sentarem-se à mesa.
O afastamento dos clientes em cada mesa deve tentar respeitar o espaço de segurança. Para quem não habite debaixo do mesmo teto recomenda-se que esteja livre um círculo de raio igual a um metro em torno de cada comensal (portanto 2 metros de diâmetro). Uma mesa composta (união de 4 mesas de um metro de lado, em quadrado) que sentava à vontade 8 pessoas – duas em cada lado do quadrado - passaria a sentar apenas 4, duas em topos opostos.
Durante a refeição propriamente dita os empregados andam sempre de máscara e viseira, mas obviamente que os clientes não podem comer de máscara posta.
Nas idas à casa de banho, ou outras saídas da mesa por breve tempo, deve tornar-se a colocar a dita máscara.
Em teoria, cada garrafa que se vai buscar à adega ou frigorífico deve ser desinfetada se for colocada na mesa para o cliente se servir. No caso desse trabalho ser feito pelo empregado – estando as garrafas afastadas da mesa – pode-se evitar essa tarefa.
O pagamento deixou de poder ser feito à saída, na “caixa”. É o terminal de multibanco ou do cartão de crédito que vem sempre agora à mesa (em casas onde isso ainda não acontecia). E é solicitado com alguma enfâse que se pague sempre com cartão e não em dinheiro “vivo”.
Uma consequência notada deste novo normal tem a ver com o ruído. As pessoas estão mais afastadas, é lógico que falem mais alto para estabelecer uma conversa social. E como os restaurantes estão mais vazios, o som da conversa será mais audível na sala. Portanto, cuidado com o que dizem.
Nem conversas sigilosas, nem – na ponta oposta do espectro - palavrões que ficam bem numa roda de amigos, mas que podem chocar a senhora de idade mais confortável que está na mesa mais próxima da nossa.
A propósito, conto um caso passado à minha frente, embora no enquadramento da liberdade de movimentos que agora não possuímos.
Uma senhora na casa dos “sessentas”, sozinha mas muito bem arranjada - à vista parecia classe alta ou média alta - só arranjou mesa na sala de jantar de uma cervejaria da moda em Lisboa ao lado de dois cidadãos bem mais novos e ligeiramente “avançados” que esperavam por outro igual que nunca mais chegava.
Os jovens cidadãos já de si falavam muito alto, mas quando recebiam ou faziam chamadas pelo telemóvel é que era o bom e o bonito! Toda a gente da sala ficava a saber os pormenores da conversa, que se cruzava com as inevitáveis “bojardas” do vernáculo da malta nova, ainda por cima ligeiramente intoxicada :
- "Tu não me fales desse Cabr**!”; “Liga-lhe outra vez da-se! ; Mas esse ganda fdp nunca mais aparece?!"
E por aí diante.
A senhora do lado estoicamente nada dizia. Os rapazes de vez em quando davam-se conta e pediam desculpa:
- " A senhora desculpe a conversa..."
E ela respondia:
-" Não se incomodem porque eu sou muito falha de ouvido e nem me dou conta do que estão a dizer..."
E embora ela lhes tivesse logo respondido, como se ouvisse ainda melhor do que eu que estava a 5 metros e não perdia nada, eles acreditaram...
Grande Senhora!
-Sobre Manuel Luar-
Manuel Luar é o pseudónimo de alguém que nasceu em Lisboa, a 31 de agosto de 1955, tendo concluído a Licenciatura em Organização e Gestão de Empresas, no ISCTE, em 1976. Foi Professor Auxiliar Convidado do ISCTE em Métodos Quantitativos de Gestão, entre 1977 e 2006. Colaborou em Mestrados, Pós-Graduações e Programas de Doutoramento no ISCTE e no IST. É diretor de Edições (livros) e de Emissões (selos) dos CTT, desde 1991, administrador executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações em representação do Instituidor CTT e foi Chairman da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia (ONU) desde 2006 e até 2012. A gastronomia e cozinha tradicional portuguesa são um dos seus interesses. Editou centenas de selos postais sobre a Gastronomia de Portugal e ainda 11 livros bilingues escritos pelos maiores especialistas nesses assuntos. São mais de 2000 páginas e de 57 000 volumes vendidos, onde se divulgou por todo o mundo a arte da Gastronomia Portuguesa. Publica crónicas de crítica gastronómica e comentários relativos a estes temas no Gerador. Fez parte do corpo de júri da AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal – para selecionar os Prémios do Ano e colabora ativamente com a Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal para a organização do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, desde a sua criação. É Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana.