Entre os dias 21 e 31 de outubro, o Doclisboa regressa às habituais salas de cinema com reencontros e estreias mundiais. Resistência é o mote lançado pela Sessão de Abertura desta 19º edição, que conta com filmes desde a-ha e Charlotte Gainsbourg, a Steve McQueen.
Para os amantes, e mesmo para os não amantes, o Doclisboa é um marco do cinema documental em Portugal. Este ano, o Cinema São Jorge, a Cinemateca Portuguesa, o Cinema Ideal, a Culturgest, o Museu do Oriente e o Cinema City do Campo Pequeno, são as telas de uma edição que promete reencontros, estreias mundiais e mostrar o que se faz em Portugal.
Da Sérvia, chega-nos Landscapes of Resistance, de Marta Popivoda, um filme sobre uma das primeiras mulheres a fazer parte da resistência jugoslava contra o Nazismo. Na mesma sessão será exibido ainda o filme de Sérgio Silva - realizador e ex-programador da Cinemateca Brasileira- A Terra Segue Azul Quando Saio do Trabalho, que traz um olhar contemplativo sobre o arquivo cinematográfico e a efemeridade do património e ainda uma viagem, por si programada, dedicada à Cinemateca Brasileira. Alessio Rigo de Righi e Matteo Zoppis, realizadores de Il Solengo (filme vencedor do Doclisboa’15), encerram o festival com The Tale of King Crab.
Este ano o festival traz as secções Heart Beat, que traz um olhar aproximado sobre o universo artístico e, Da Terra à Lua, com um conjunto de olhares críticos sobre o mundo, ambas com 9 filmes em destaque.
A abertura da secção Heart Beat traz-nos a trajetória da reconhecida banda norueguesa a-ha, desde a sua formação à rápida ascensão e reconhecimento internacional, até à sua ruptura, com a-ha The Movie, de Thomas Robsahm. O olhar artístico estende-se ao primeiro filme de Charlotte Gainsbourg, Jane by Charlotte, em que a cantora e atriz se propõe a filmar a sua mãe, Jane Birkin, num documentário que vai traçando uma história tão complexa quanto íntima da relação entre ambas.
Still de a-ha The Movie, de Thomas Robsahm e Aslaug Holm
Uma das estreias mundiais é The Poet’s Wife, da cineasta alemã Helke Misselwitz, onde nos deixamo-nos permear pela obra e sabedoria da pintora turca Güler Yücel e o seu amor pela vida. Ailey, de Jamila Wignot, homenageia o legado do lendário coreógrafo e activista afro-americano Alvin Ailey. Em Becoming Cousteau, Liz Garbus debruça-se sobre a vida e legado do icónico explorador Jacques Cousteau; The Man Who Paints Water Drops, de Oan Kim & Brigitte Bouillot, retrata a vida e as explorações artísticas do importante pintor coreano Kim Tschang-Yeul, enquanto Eugenio Poppo viaja pela história do cinema pós-novo brasileiro em O Bom Cinema.
O cinema português está em destaque nesta secção com três estreias mundiais de três títulos portugueses: Não Pode Ficar, de Maria João Guardão, Eunice ou Carta a Uma Jovem Atriz, de Tiago Durão e Dispersos pelo Centro, de António Aleixo. Nada Pode Ficar, acompanha o processo de desocupação de João Fiadeiro no espaço habitado pela sua companhia, o Atelier RE. AL, nos últimos 15 anos, ao mesmo tempo que percorre a memória desse trabalho, indissociável do panorama da dança contemporânea portuguesa. Em Eunice ou Carta a Uma Jovem Actriz, partilha o seu olhar cúmplice e familiar sobre Eunice Muñoz enquanto atriz, mulher, mãe e avó. Dispersos pelo Centro, produzido por Tiago Pereira e com a participação do reconhecido geógrafo Álvaro Domingues, leva-nos numa viagem até ao centro de Portugal num documento que luta pela memória coletiva deste lado invisibilizado do país.
Still de Eunice ou Carta a Uma Jovem Actriz, de Tiago Durão
André Valentim de Almeida estará também presente no festival com um retrato do associativismo desportivo organizado pelos emigrantes portugueses que residem em Île-de-France. Famille FC é assim um atlas constituído por vinhetas de alguns dos mais de 200 clubes de futebol de origem portuguesa nos escalões amadores, revelando aspectos da sua origem, subidas, descidas, alegrias e percalços.
Também na secção Da Terra à Lua, o cinema documental português ganha destaque com duas produções em estreia mundial: Jamaika, de José Sarmento Matos e, Do Bairro, de Diogo Varela Silva. José Sarmento Matos apresenta-nos uma visão imersiva da realidade deste bairro nos arredores de Lisboa durante o período de isolamento devido à pandemia Covid-19, onde a segregação e a falta de políticas públicas intensifica as fragilidades deste período. Por outro lado, Diogo Varela Silva revive o passado e mostra-nos o presente dos bairros de Alfama e Mouraria.
Still de Do Bairro, de Diogo Varela Silva
Da Terra à Lua conta com a apresentação integral dos três episódios de Uprising, assinados pelos britânicos Steve McQueen e James Rogan e Channel 54, onde o argentino Lucas Larriera parte para uma investigação sobre uma transmissão paralela à da chegada do homem à Lua, onde a natureza e a veracidade da imagem são o ponto de partida para uma série de teorias de conspiração. Closing Words, dos belgasGaëlle Hardy e Agnès Lejeune, reflete sobre a escolha do fim da vida, atravessada pelos questionamentos e generosidade por parte dos cuidadores. O desastre ambiental na cidade japonesa de Minamata e a longa batalha jurídica de décadas levada a cabo pela comunidade afectada são o foco de Minamata Mandala, de Kazuo Hara, que ao longo dos últimos 15 anos tem acompanhado a vida de alguns dos seus habitantes. From The Wild Sea, de Robin Petré, é um poderoso documento sobre a crise climática e a crescente destruição da vida animal marinha.
Mark Cousins regressa ao Doclisboa com The Story of Looking, uma enciclopédia visual que reflete sobre a forma como a realidade é percecionada através do olhar.
A programação fica completa com Mother Lode, de Matteo Tortone, A Midsummer Night's Road, de Noga Chevion, You Can’t Show My Face, de Knutte Wester e The Spark, de Antoine Harari & Valeria Mazzucchi.
Programa disponível, aqui.