Alexandre Alagôa trabalha com vídeo e som e registou o seu dia-a-dia enquanto trabalhava na Central Gerador. Mostra-nos assim a sua visão deste período em que conviveu com todos os que por lá passaram, dos momentos passados entre amigos e dos artistas que partilharam os seus talentos neste espaço.
Estudou audiovisuais na faculdade de Belas-Artes de Lisboa e completou a pós-graduação em Arte Sonora. Fazer vídeo, explorar as qualidades do som, compôr música, são coisas que considera como lavar a loiça, como cozinhar uma refeição, como levantar-se todos os dias. É algo intrínseco, que faz parte. Precisa de fazer filmes e música, não consegue lidar com o mundo se não o fizer.
Ao longo do tempo apercebeu-se de que o cinema experimental vinha introduzir-lhe a possibilidade de comunicar ou exprimir algo que, no fundo, não diz realmente respeito ao mundo das palavras, ou não é “comunicável” através da palavra. Nesse silêncio, encontrou a sua maneira de falar. Não se interessa por narrar ou ilustrar o mundo, mas sim por apresentar outros modos de o ver que interfiram de forma directa com o sistema nervoso humano. Aqui, o cinema é muito mais do que colocar uma câmara dependente de uma pessoa, seguindo-a de um lado para o outro. Investe muito mais na câmara em si, em todas as suas qualidades mecânicas, e por conseguinte nas respectivas repercussões que têm na interação com a retina, com o corpo.
Atualmente considera que o consumo de imagens se tornou absurdo: "A imagem infiltrou-se de tal modo nas nossas vidas que não há experiência da realidade sem a confirmação da imagem. Quase que a antecede. Mas pior, a imagem torna-se agora via para a criação de realidades que nem sequer existem. É a informação, o excesso de informação, e a contra-informação numa batalha em loop (...) Este ritmo de criação e partilha de imagens diárias para mim não funciona. Se cair nesse sistema sinto quase que fico atrasado em relação a tudo, ao mundo, aos outros, e a mim mesmo. Não consigo nem quero trabalhar dessa forma."
Todo o seu trabalho de vídeo tem um carácter conceptual e experimental: pensa e faz registos de uma determinada ideia, questiona, depois experimenta, investiga, obtém respostas e mais perguntas, continua a investigar, experimenta outra vez, percebe o que funciona e não funciona, obtém respostas mais claras e começa a construir o objeto. Vai sendo um diálogo recíproco. Já tem alguns trabalhos divulgados como, por exemplo, Vortex (2017), It goes without us (2019), There is no such thing as an empty space or an empty time (2019) e, agora, mostra-nos este seu processo criativo com a sua visão da Central Gerador.