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A minha geração está toda fodida

Olá, eu sou a Clara e sou Millennial. — Olá, Clara. Vivemos na pele a…

Texto de Redação

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Olá, eu sou a Clara e sou Millennial.

— Olá, Clara.

Vivemos na pele a velocidade a que o mundo funciona e nos pede para funcionar. Como fomos, de uma forma geral, a primeira geração que não foi só criada por adultos, mas também pela internet, tivemos acesso a essa velocidade de uma forma global. Desta forma, regra geral, ambicionamos muito da vida, especialmente na vertente da realização profissional. No meu caso, sendo eu uma MTV Girl, assisti desde muito nova a estrelas pop que se tornaram famosas ainda na sua adolescência. Eu queria ser como a Britney quando andava na Primária. Todos os dias via o top da MTV, para saber se o Timberlake continuava em primeiro (e para o ver a dançar nos videoclipes — alerta crush).

Podemos realmente alcançar os nossos sonhos, num ambiente super exigente, em que o mundo à nossa volta nos pede permanente dedicação, empenho e adaptação, ou vivemos em constante frustração? E, conseguindo alcançá-los, qual o preço a pagar em termos de saúde?

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As grandes empresas pedem trabalho excessivo, com remuneração baixa. As pessoas jovens querem sair de casa dos pais mas não têm dinheiro para as rendas altas da especulação imobiliária. Não têm contratos decentes de trabalho, ou até nem os têm (alerta falsos recibos verdes). São obrigados a viver em co-habiting. Como opção, ficam a viver com os pais, ou um estúdio minúsculo numas águas furtadas sem elevador. Não, não é a moda das novas amizades; não é uma forma familiar sustentável; não é um espaço “aconchegante, cheio de personalidade”. São desenrascanços da vida.

Desiludidos com a vida corporativa, muitas enveredam pelo mundo do freelance, em busca da felicidade pela realização profissional. Têm depois de lidar com uma instabilidade ainda maior, com os impostos fiscais e segurança social, e muitas vezes “clientes” que não percebem o valor do seu trabalho.

Propostas de trabalho em troca de exposição. Pedidos singelos de “é só mudares isto ou aquilo” que dão mais trabalho que o briefing inicial. Contratos que não são feitos, dinheiros que não são pagos. Pagamentos a 90 dias sem adjudicações. Para quando a obrigatoriedade de celebrar contratos mesmo em trabalhos isolados de freelance? (Claro que há excepções e bons clientes).

O problema é ainda mais vincado quando falamos da área da Cultura — especialmente em tempos de covid. A maior parte das pessoas acaba a fazer várias coisas diferentes, não só por escape de uma área para a outra, mas também por uma questão monetária.

Artista Plástica, Produtora, Dj.
Fotógrafo, Designer, estudante de mestrado.
Fotógrafa e investigadora em Biologia.
Ilustradora, criadora de conteúdos, escritora.
Produtor, Dj, cozinheiro.

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Há um ditado popular que diz “Quem trabalha por gosto não cansa”, que me irrita mesmo. Cansa na mesma, e, com “sorte”, cansa ainda mais, porque acabamos a entregarmo-nos ainda mais ao que fazemos. Como consequência, o que acontece à nossa vida social?

Todo este excesso de trabalho faz com que a nossa vida social sofra, quer no campo do tempo livre connosco mesmas, quer na diversão com as pessoas amigas. Isto acontece de duas formas: ou temos pouco tempo para amizades e relações amorosas, ou acabamos amigos das pessoas com quem trabalhamos, acabando tudo numa grande miscelânea. Esta mistura pode ser muito boa, porque criamos laços de confiança à nossa volta, mas é imprescindível que consigamos separar os ambientes com as mesmas pessoas — agora estamos em trabalho, agora estamos em lazer —, por forma a conseguirmos relaxar a mente, ou focar, conforme a necessidade ou estado de espírito. Por exemplo, eu não quero passar o jantar de São João a combinar o que quero vender na galeria de amigos meus. Embora queira combinar, aquele não será o momento, pois é suposto ser um momento de lazer e não de trabalho. O que se faz para desenlear a confusão? Marcam-se momentos de lazer e momentos de trabalho. Podem ser seguidos um ao outro, mas não devem ser largamente misturados. É como quem adormece, mas passa a noite sempre com sonhos estranhos: não descansamos em condições.

Acredito também que esta questão da instabilidade alimente a crise de compromisso em relações amorosas: como não sabes bem quando tens trabalho ou deixas de ter, quando vais ficar sem casa e vais ter de te mudar — ou seja, não tens a certeza de nada a longo prazo —, podes criar uma tendência de não te queres comprometer com nada, porque nada é certo — à excepção do stress. Tal pensamento pode ajudar ao isolamento, graças a mais uns colegas da desgraça: o dito trabalho excessivo e a vontade que dá de te “esconderes só um bocadinho” quando estás stressada. Este isolamento deve ser contrariado com amizades próximas, que te safam de desgraças emocionais, e relações com pessoas empáticas, ou na mesma situação, criando três espaços de tempo: o meu tempo, o teu tempo e o nosso tempo. Se funciona? Fazendo figas.

Quanto à questão de nada ser certo, aprendi (que já tenho a vida incerta há uns bons anos) a escolher aquilo que quero que funcione — o que não garante que funcione, mas a intenção está focada, pelo menos. Estou constantemente a aprender a ter certezas, um pouco de cada vez, do que me faz feliz, e a lutar por isso. A vida pode não ser muito estável, mas as nossas certezas podem passar a ser um bocadinho. (É mais fácil na teoria do que na prática, mas caramba, é tão bonito assim escrito ahah).

Com tantas vertentes da vida instáveis, estamos muito susceptíveis a burnouts. A procura de equilíbrio no meio de tantas incertezas é como estar a fazer equilíbrio em cima daqueles fios suspensos, a tentar manter o trabalho; com um telemóvel na mão a lidar com hate; a passear o cão, a fazer yoga e a meditar; a tentar o body acceptance; a lidar com sentimentos que fazem sentir muito; a monotorizar a covid; a explicar que não há racismo inverso; a tentar mostrar que amor é amor não tem géneros; a estar atenta ao contrato de arrendamento; a tentar dar atenção aos pais, amigues, responder às vistas; a assegurar trabalho para o mês que vem; e a pensar num plano B caso tudo dê merda; tudo ao mesmo tempo, sem perder o equilíbrio.

Em vez do chamado “sucesso”, não deveríamos almejar saúde com realização profissional e equilíbrio pessoal? Ou, então, ideia para jackpot: redefinir o sucesso para saúde e equilíbrio, em vez de busca capitalista desenfreada. Seria bom. Fica a ideia.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Clara Não-

Clara Não é ilustradora e vive no Porto. Licenciada em Design de Comunicação, pela Faculdade de Belas Artes do Porto, e fez Erasmus na Willem de Kooning Academie, em Roterdão, onde focou os seus estudos em Ilustração e Escrita Criativa. Mais tarde, tornou-se mestre em Desenho e Técnicas de Impressão, onde estudou a relação fabular entre Desenho e Escrita. Destaca-se pela irreverência e ironia nas ilustrações, onde reivindica a igualdade, trata tabus da sociedade e explora experiências pessoais.  Em 2019, lançou o seu primeiro livro, editado pela Ideias de Ler, intitulado Miga, esquece lá isso! — Como transformar problemas em risadas de amor-próprio.  Nas horas vagas, canta Britney.

Texto de Clara Não
Fotografia de Another Angelo

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