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A Open Food Facts quer empoderar os consumidores através da informação

A organização sem fins lucrativos é responsável por um dos maiores bancos de dados de acesso livre sobre produtos alimentares a nível mundial. Em entrevista ao Gerador, o fundador da Open Food Facts, Stéphane Gidandet, explica que “uma base de dados de produtos alimentares gratuita, aberta e colaborativa — uma Wikipédia para produtos alimentares — tem de existir.”

Texto de Débora Cruz

Fotografia de NRD, via Unsplash

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A missão da equipa de colaboradores que integra a Open Food Facts pode ler-se num dos documentos disponíveis no site da organização. “Procuramos capacitar as pessoas através de dados: permitindo que consumidores, produtores, investigadores [e] governos consigam medir e mudar em grande escala o impacto dos alimentos na nossa saúde e no nosso planeta.” Fundada por Stéphane Gigandet, em 2012, a organização disponibiliza a informação nutricional e ecológica de mais de 3 milhões de produtos de cerca de 180 países. Em Portugal, a lista conta já com mais de 12 mil alimentos.

Em entrevista ao Gerador, via e-mail, o fundador da Open Food Facts confessa que, em 2012, tinha subestimado a “criatividade e capacidade” de a indústria alimentar criar tantos novos produtos todos os anos. “Quando comecei o projeto, desenhei-o para que conseguisse suportar 1 milhão de produtos, mas agora temos mais de 3 milhões de produtos alimentares de todo o mundo! Pode parecer que isso é uma vitória para os consumidores (com muitas mais opções disponíveis), mas também destaca a importância de haver transparência nos produtos alimentares para que os consumidores possam realmente fazer escolhas acertadas.”

A organização acredita que os dados referentes a produtos alimentares são de interesse público e, por isso, as informações produzidas podem ser acedidas de forma gratuita através do site ou da aplicação. Através desta, qualquer utilizador pode contribuir para o aumento da base de dados ao adicionar novos produtos e as respetivas informações, nomeadamente a origem do alimento e os países onde é vendido. “O coração do projeto Open Food Facts é a sua comunidade”, diz o fundador, “o projeto tem crescido muito e isso só foi possível graças ao apoio crescente dos voluntários.” 

Stéphane Gigandet dá conta de que, para além das “dezenas de milhares de pessoas” que adicionam fotos e informações de produtos ao banco de dados, há também “centenas” de outras pessoas que fazem o projeto crescer, nomeadamente através do desenvolvimento de software do site e da aplicação, e do contacto com os produtores para que compartilhem os dados dos seus alimentos. “Através do crowdsourcing, conseguimos recolher informações detalhadas sobre milhões de produtos alimentares: fotos, ingredientes, valores nutricionais, alérgenos, rótulos e muito mais. Ao dar aos consumidores acesso a informação detalhada e pontuações calculadas (Nutri-Score, Eco-Score e NOVA), damos as chaves para as pessoas questionarem o que comem”, lê-se no documento.

Desenvolvida em 2015, a Nutri-Score é uma pontuação (atribuída através de 5 cores) que indica o valor nutricional de um produto alimentar.

Lançada em 2021, a Eco-Score é uma pontuação (atribuída através de 5 cores) calculada em parte com a base de dados pública Agrybalise, que tem em conta a Avaliação do Ciclo de Vida de um produto (Life-cycle assessment, em inglês), e critérios de qualidade adicionais (tais como embalagens, certificações ou país de origem).

NOVA é uma pontuação que indica o nível de transformação, ou de processamento, de um produto alimentar.

No site, a organização destaca que cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo são consideradas obesas, e que o mesmo se aplica a 1 em cada 3 crianças na União Europeia, segundo a Organização Mundial da Saúde. De acordo com a World Obesity Foundation, em 2035 cerca de 4 bilhões de pessoas vai viver com obesidade, comparativamente a 2.6 bilhões em 2020. Ao mesmo tempo, salientam que a indústria alimentar é responsável por cerca de 1/3 das emissões de gases de efeito de estufa e por cerca de 70% do uso de água a nível mundial. “Começámos a Open Food Facts porque estamos convencidos de que estes problemas podem ser resolvidos tendo muito mais pessoas a fazerem parte da solução e a trabalhar juntas para um bem comum maior”, enfatiza a organização.

A equipa explica que muitos consumidores ficam sobrecarregados com a quantidade de informações encontrada nas embalagens dos alimentos e têm por vezes dificuldades a “decifrar aditivos alimentares misteriosos” ou a “diferenciar os rótulos”. No entanto, os colaboradores acreditam que existe um “desejo genuíno de fazer melhores escolhas para a nossa saúde e para o nosso planeta”, sobretudo quando se trata de alimentação. De facto, até ao momento, mais de 20 mil voluntários contribuíram com a publicação de novos produtos a nível internacional. 

“Existem muitas razões pelas quais as pessoas contribuem para a Open Food Facts (a comida é importante para todos nós por muitas razões), mas muitos colaboradores partilham a crença que eu tinha no início do projeto: uma base de dados de produtos alimentares gratuita, aberta e colaborativa — uma Wikipédia para produtos alimentares, como costumamos dizer - tem de existir”, argumenta Gigandet. Para além da ajuda aos consumidores e produtores, o fundador defende que a base dados é importante para auxiliar investigadores a “identificar as ligações entre o que consumimos e a nossa saúde”, bem como “ajudar a definir e implementar políticas de saúde pública.”

A organização crê que “há poder nos números e no conhecimento”, pelo que destacam que, juntos, os cidadãos podem contribuir para alterar o paradigma do sistema alimentar. Ao ter acesso gratuito aos dados produzidos, a organização sustenta que os consumidores fazem escolhas mais conscientes e informadas. “Os consumidores informados esperam dos produtores melhores alimentos e produtos mais saudáveis. A transparência muitas vezes leva a mais transparência e à responsabilização: à medida que a procura evolui, a oferta também deve evoluir.” A organização crê que consumidores bem informados fazem com que os produtores precisem de “repensar a sua produção”, orientando-a para produtos com uma menor pegada ambiental e maior qualidade. 

Quando comecei a Open Food Facts, não imaginava todos os diferentes usos para os quais as pessoas usariam os dados do projeto, mas sabia que a imaginação coletiva deles superaria em muito a minha. Essa é a promessa e a beleza dos dados abertos em geral: os benefícios do compartilhamento gratuito de dados são maiores do que podemos imaginar


Stéphane Gigandet, fundador da Open Food Facts

“Temos cada vez mais produtores que nos procuram”, admite Gigandet. “No início, era principalmente para garantir que tínhamos dados completos e atualizados sobre os seus produtos, mas muitos deles agora usam a Open Food Facts no seu trabalho diário para avaliar o impacto geral na saúde e no ambiente das suas linhas de produtos, e para encontrar maneiras de os melhorar.” O fundador dá conta de que a organização criou uma plataforma gratuita para os produtores, com o objetivo de os ajudar a enviarem os dados de produtos. Em troca, a Open Food Facts fornece-lhes informações sobre como podem melhorá-los e obter melhores pontuações, como o Nutri-Score.

A independência é também um dos aspetos salientados pelos colaboradores. “[Somos] um projeto apoiado por diversos parceiros, mas sempre independentes da indústria alimentar”, escrevem. Sendo uma organização sem fins lucrativos, o trabalho desenvolvido é financiado através de entidades públicas, como a agência de saúde francesa Santé publique France, de doações e de instituições privadas. 

Durante a próxima década, Stéphane Gigandet espera que a comunidade da Open Food Facts continue a crescer, nomeadamente a nível geográfico. Por outro lado, o fundador admite que uma maior extensão e abrangência do projeto é um objetivo. “No início estávamos muito centrados na saúde, mas agora estamos a concentrar-nos cada vez mais noutros aspetos, como o impacto ambiental e o impacto social”, explica. 

Um exemplo dessa extensão é o novo projeto que acabam de lançar, Open Prices, para criar maior transparência nos preços dos alimentos. “E é claro que o que fizemos pelos alimentos faria muito sentido para todos os outros produtos (beleza, eletrónicos, têxteis, artigos desportivos, tudo!), por isso estamos a redobrar os nossos esforços no projeto  Open Products Facts", conclui. 

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