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Opinião de Catarina Maia

A sustentabilidade menstrual é um privilégio

O copo menstrual mudou a minha vida. A decisão de optar por este método de…

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O copo menstrual mudou a minha vida. A decisão de optar por este método de recolha menstrual foi simples: é normalmente económico, custa à volta de 30€ e, dependendo obviamente da marca, pode durar até dez anos, o que significa que tão cedo não teria de gastar mais dinheiro em pensos ou tampões. É ecológico – e para mim esta foi a parte mais importante – o que significa que todo o lixo que costumo fazer quando menstruo deixaria de existir. Para quem não se adapta ao copo menstrual, cuja utilização pode ser um pouco desafiante, existem os pensos reutilizáveis: pensos de pano, que lavamos juntamente com a roupa, e que são igualmente económicos e sustentáveis em termos ambientais. Há até quem os faça em casa com tecidos que já não usa, o que os torna ainda mais ecológicos.

Todas as vantagens que me levaram a escolher estes produtos em detrimento dos descartáveis levavam-me a acreditar que estas seriam soluções para toda a gente. Ao longo do caminho, por contactar com tanta gente através do O Meu Útero, aprendi uma lição necessária: eu sou privilegiada por poder usar produtos de recolha menstrual reutilizáveis.

Essa descoberta fez com que começasse a olhar com algum desconforto narrativas que marcas e pessoas usam para impor a sua decisão a outras pessoas: se não escolhes uma opção sustentável, que ainda por cima é económica, estás a agir mal. Ou não te preocupas com o ambiente ou nem sequer te preocupas com a tua carteira.

A alternativa sustentável parece uma solução ideal para qualquer pessoa quando a referência somos nós. O desafio está em olharmos o mundo através de outras lentes e reconhecermos que as experiências das outras pessoas não são necessariamente as mesmas que as nossas.

Há poucos anos, seria constantemente a maior apologista de copos menstruais, discos ou pensos reutilizáveis. Há, no entanto, questões que nos devemos colocar antes de considerarmos que esse é um investimento que deve ser feito: e se o investimento não valer a pena? Por exemplo, a longo prazo, o copo menstrual compensa quando comparado com os valores mensais que gasto em pensos. Mas e se este método não for o ideal para mim? Quantos copos terei de comprar até desistir? Ou até encontrar o certo? Uma vez, uma mulher partilhou comigo que comprou mais de três copos menstruais diversos até perceber que não conseguia utilizá-lo. No espaço de três meses é capaz de ter gasto mais de 100 euros para concluir que tinha apenas perdido dinheiro .

Ou, se falarmos de jovens que não têm condições para higienizar devidamente o copo menstrual (correndo o risco de desenvolver infecções ou até a problemática Síndrome do Choque Tóxico), ou que não têm abertura com os familiares para simplesmente colocarem o penso para lavar na máquina de lavar a roupa; ou se falarmos de comunidades nas quais o acesso a água, por si só, é já uma condicionante (quanto mais a água a ferver).

Defendo que cada pessoa que menstrua deve decidir, para si, o melhor método de recolha menstrual, conhecendo as alternativas que tem ao seu dispôr. Mas as alternativas não são tudo. Temos de saber o que é que nos trará mais conforto no curto prazo também e temos de ter empatia suficiente para entendermos que o que é melhor para mim, é melhor para mim: existem outras realidades e eu não sou ninguém para impingir algo a alguém ou julgar esse alguém por ter tomado uma decisão diferente da minha.

Acima de tudo, saúde menstrual para todas as pessoas que menstruam. O resto, logo se vê.

Acredito que quem menstrua deveria ter a oportunidade de conhecer todos os produtos de recolha menstrual para saber o que é melhor para si. Para que a escolha seja feita em consciência, bastam duas coisas: sangrarmos ciclicamente e termos acesso a informação.

Só assim, pessoas como eu verão que ter a possibilidade de escolher produtos de recolha menstrual reutilizáveis é, de facto, um privilégio. Espero que um dia deixe de ser. Mas, por agora, é o que temos.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Catarina Maia-

Catarina Maia estudou Comunicação. Em 2017, descobriu que as dores menstruais que sempre tinha sentido se deviam a uma doença crónica chamada endometriose, que afecta 1 em cada 10 pessoas que nascem com vulva. Criou O Meu Útero e desenvolve desde então um trabalho de activismo e feminismo nas redes sociais para prestar apoio a quem, como ela, sofre de sintomas da doença. "Dores menstruais não são normais" é o seu mote e continua a consciencializar a população portuguesa para este problema de saúde pública.

Texto de Catarina Maia
Fotografia de Pedro Lopes

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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