Em criança, queria ser estilista. Depois, chegou a sonhar ser ilustradora. O destino não estava ainda fechado, mas Adriana Proganó já sabia que passaria pela arte. Este ano, ganhou o Prémio Novos Artistas EDP, numa escolha unânime do júri. A “ousadia” do seu trabalho, que alia “a ironia e o humor à crítica institucional”, valeu-lhe a distinção e está agora a preparar a internacionalização da sua carreira.
Em entrevista ao Gerador por telefone, Adriana Proganó fala sobre os seus primeiros passos no mundo das artes, a sua linguagem, a liberdade e o futuro. Diz que se diverte a brincar com as cores. E é entre as suas atrevidas e coloridas figuras que se confessa mais feliz.
Gerador (G.) – Acaba de ganhar o Prémio Novos Artistas EDP, mas comecemos pelo início. Quando e como é que a pintura e a escultura entraram na sua vida?
Adriana Proganó (A. P.) – Comecei a pintar quando fui [estudar] para Veneza. Como ainda não tinha explorado a pintura – antes, tinha feito só instalações e performances –, decidi experimentar uma coisa diferente. A partir daí, não fiz mais nada. Foquei-me só na pintura.
G. – Portanto, quando estava a estudar Portugal, ainda não pintava?
A. P. – Certo. Estudei artes plásticas. Experimentei mesmo tudo [nesse âmbito], mas só quando fui para Veneza comecei a pintar.
G. – Voltemos à sua infância. A arte sempre esteve presente na sua vida?
A. P. – Sim. Assim que percebi que a arte existia, não fiz mais nada, nem conseguia focar-me em mais nada.
G. – Era uma criança já muito artística?
A. P. – Sim. Quando era criança, queria ser estilista e, depois, passei a querer ser ilustradora. Decidi estudar artes plásticas, porque não sabia bem o que queria, mas queria fazer arte.
G. – Nasceu na Suíça. Quando veio para Portugal?
A. P. – Quando era bebé.
G. – Era muito nova, então. Acha que essa transição impacta de algum modo a sua expressão artística atualmente?
A. P. – Talvez. Acho que tudo impacta o nosso trabalho, seja ele qual for. Inconscientemente vai tudo parar ao trabalho.
G. – Teve, então, sempre um amor pela arte. Foi estudar artes plásticas e, depois, pintura. Que papel tem tido o estudo das artes na sua expressão artística? Há quem considere que a arte não se ensina. Tem essa visão?
A. P. – Entendi que era assim que tinha de ser [ir estudar artes] e queria estar mais perto de pessoas que queriam o mesmo que eu a fazer. Queria ver pessoas que tivessem os mesmos desejos que eu e estar à volta delas. Acho que isso era o mais importante. Não tanto estudar a história da arte, mas estar nesse ambiente.
G. – Estar no ecossistema.
A. P. – Sim, acho que é muito importante, senão o mais importante, estar com as pessoas que querem o mesmo que tu.
G. – Foi estudar, como já disse, para Veneza. Que balanço faz dessa experiência?
A. P. – Foi [no âmbito do programa] Erasmus. Aproveitei logo. Gosto muito de viajar e, assim que tenho oportunidade, faço-o. Achei que Veneza iria ser uma oportunidade única, porque nunca iria viver para lá facilmente, porque é uma cidade muito cara. Como em Veneza também se faz muita pintura, achei que era bom.
G. – E o que é que a levou a apaixonar-se pela pintura?
A. P. – A escola em si potenciava mais a pintura do que outra coisa qualquer. Escolhi à sorte. Não fui com nenhuma paixão, mas correu bem.
G. – Hoje o que a apaixona na pintura?
A. P. – É uma pergunta difícil. É algo que me sinto bem a fazer e tenho desejo de fazer. Quando venho para o ateliê, é algo que tenho necessidade [de fazer].
G. – No seu trabalho, a cor tem uma presença forte. O que a leva a fazer essa opção?
A. P. – Não é uma opção, assim como pintar também não é bem uma opção. Não é uma escolha, é algo que gosto. Quando vou pintar, uma das coisas que mais me atrai é brincar com as cores. É isso que é a pintura. Brincar com as cores deixa-me feliz.






G. – Esse amor pela cor sempre existiu ou foi surgindo ao longo do seu percurso?
A. P. – Enquanto artista, não era uma coisa à qual me sentisse ligada, mas, assim que comecei a pintar, as minhas primeiras pinturas foram logo muito coloridas. Foi como se estivesse a conhecer as cores, pela primeira vez. Houve logo um fascínio.
G. – Que temas prefere abordar no seu trabalho? O corpo tem uma presença forte.
A. P. – Reparei que, quando fazia desenhos, os corpos nunca tinham sexo. Isso evoluiu para as pinturas. Quando chega a parte de [sinalizar] o sexo, não é muito relevante, não é algo o que procuro. Quero que eles possam ser livres dessa opção. Quando põe um sexo, é porque fica bem.
G. – É uma opção estética?
A. P. – Quando têm [sinalizado] o sexo, sim. Quando não têm, é mesmo uma opção.
G. – Que outros temas tem como prediletos?
A. P. – Sim, acho que falo muito sobre as mesmas coisas, que é a liberdade das figuras em si e a liberdade das ações que elas estão a tomar, sem pensar muito nas regras que temos na sociedade. Gosto que elas sejam rebeldes.






G. – Escreveu-se, a propósito da atribuição do Prémio Novos Artistas EDP, que os seus trabalhos são atrevidos. É assim que os vê?
A. P. – Sim. Acho que muito do meu trabalho é atrevido para a sociedade em que estamos. No contexto em que está, é atrevido, sim.
G. – O que é que significou para si ganhar o Prémio Novos Artistas EDP?
A. P. – Foi uma felicidade muito grande. É uma honra mesmo muito grande estar ali. Já queria isto há algum tempo. Ficou muito feliz.
G. – Como é ser uma artista em Portugal?
A. P. – Sempre tive muita sorte. Assim que comecei a perceber o que queria e a fazer o que queria, tive muito apoio não só dos meus amigos, como do mundo das artes. Tenho noção de que é algo que não acontece a toda a gente. Percebo as dificuldades. Portugal não tem assim tantos apoios, principalmente para artistas que estão a começar. Realmente, tive sorte. Não faço mais nada. Tenho só trabalho de ateliê.
G. – O que leva a dizer, em concreto, que teve sorte?
A. P. – Mesmo os espaços institucionais receberam-me e convidaram-me logo assim que estava a começar. Isso foi logo um impulso para continuar a fazer mais coisas, ter dinheiro para fazer as minhas coisas e também ter motivação, ao estarem a acreditar no meu trabalho.
G. – Estudou fora. Ponderou trabalhar fora de Portugal?
A. P. – Sim. Muitas vezes. Aliás, quero sair, estar noutros sítios e conseguir manter um trabalho [fora de Portugal]. Mas é difícil, porque, sempre que penso que me vou embora, convidam-me para uma exposição ou acontece alguma coisa, e continuo aqui mais uns tempos. É algo que quero muito.
G. – O prémio que agora recebeu pode ser uma ajuda nesse processo?
A. P. – Sim, porque tive muito mais reconhecimento e acho que isso pode ajudar-me. Não só o prémio em si, mas toda a relevância desse prémio.
G. – Para que país gostaria de ir trabalhar?
A. P. – Gostaria de experimentar agora Nova Iorque. É uma cidade que tem muitas coisas a acontecer e eu vivo muito disso. Quero também, mais tarde, ir para o Japão. Não passar grandes temporadas, mas estar um ano ou dois nestes sítios.
G. – Tem planos nesse sentido já para 2023?
A. P. – Gostava de ir já em 2023. Estou à procura de residências [artísticas] e quero tentar, se calhar, uma galeria.