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ALLVENUES: ponte digital une pequenas salas de concertos do Norte de Portugal e Galiza

Numa pequena sala de concertos, é possível ver nascer um grande palco. Quando falamos de…

Texto de Ana Mendes

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Numa pequena sala de concertos, é possível ver nascer um grande palco. Quando falamos de acesso à cultura, captação de novos públicos, descentralização e impulso aos artistas emergentes, as pequenas salas de concertos tornam-se epicentros fundamentais na atividade cultural das cidades. A ALLVENUES quer contribuir para o sucesso destes espaços, através de uma ponte além-fronteiras, assente no digital.

Pensada em 2019, a ALLVENUES é uma plataforma online que pretende criar um circuito de pequenas salas de concertos entre o Norte de Portugal e a Galiza. Este setor, que enfrenta, agora mais do que nunca, os severos desafios da precariedade, é o foco deste projeto digital. O objetivo é promover, capacitar e relacionar, não só os espaços e associações culturais, que gerem as pequenas salas, mas também todos os agentes e artistas que nelas coexistem.

Hugo Cunha, representante da ALLVENUES

Foi através de uma candidatura ao programa europeu Europa Criativa que o projeto de “Cooperação de Pequenas Salas de Concertos” obteve apoio para se concretizar. Na génese da ALLVENUES estão três associações, que partilham juntas o palco. A Macho Alfa, promotora cultural de música, com sede em Barcelos, a La Melona, promotora de eventos, em Santiago de Compostela e ainda o espaço de intervenção cultural Maus Hábitos, na cidade do Porto.

A ALLVENUES deu os primeiros passos no início de junho deste ano, celebrando a divulgação da plataforma, que já soma 10 pequenas salas no circuito, do Norte de Portugal e da Galiza. O Gerador falou com Hugo Cunha, em representação da ALLVENUES, para conhecer o trajeto atual e futuro deste projeto.

Gerador (G.) – O que é a ALLVENUES e que associações estão envolvidas neste projeto?
Hugo Cunha (H. C.) – A ALLVENUES é uma plataforma de salas de concertos, de agentes e de bandas. Foi criada no contexto da atividade d’A Macho Alfa, enquanto associação cultural promotora de concertos em pequenas salas. Em 2019, quando criámos o projeto de “Cooperação de Pequenas Salas de Concertos”, e nos candidatámos ao programa Europa Criativa, contactámos com a La Melona, uma associação promotora de concertos na Galiza que, para além de uma editora, é também uma espécie do que somos aqui em Portugal, mas na Galiza, em Santiago. Com eles, organizámos concertos de promoção do Festival Milhões de Festa, mas na Galiza. A La Melona, em conjunto com o Maus Hábitos, que é a sala diretamente associada ao projeto, são o núcleo duro do ALLVENUES, que pretende organizar um conjunto de concertos em pequenas salas das duas regiões contíguas e fazer com que essas regiões, que atualmente vivem cenas independentes, possam, a partir da utilização da ferramenta digital, começar a funcionar em conjunto. São cinco salas de Portugal e cinco salas de Espanha, que respeitam os critérios definidos, como ter uma lotação inferior a 400 pessoas e uma programação regular de música alternativa portuguesa e internacional. Todas elas procuram enfrentar os mesmos desafios e tudo passará pela organização de vários concertos neste circuito que, esperamos ainda este ano, serão realizados através da plataforma.

A ALLVENUES resulta do consórcio entre A Macho Alfa, La Melona e o Maus Hábitos


G. – A ALLVENUES vem tentar direcionar o foco para as pequenas salas, de forma colaborativa.
H. C. – Sim. Não é a primeira vez que se tenta algo deste género, mas é a primeira vez que se tenta com salas pequenas. Há festivais de música interdisciplinares que unem as duas regiões, Norte de Portugal e Galiza, mas não a nível de pequenas salas. O que nos levou a criar o projeto foi exatamente o facto de encararmos as pequenas salas como estruturas essenciais para as cidades e pequenas sociedades culturais onde se inserem e que, muitas vezes, quando falamos de cidades grandes e cidades periféricas, é nessas estruturas que determinado tipo de cultura e efervescência são criadas. Barcelos é exemplo disso, com o espaço casazul, um centro cultural independente que serviu de pequena sala e que provocou uma pequena onda cultural. Noutras cidades como Fafe, com o Café Avenida. Está mais do que documentado a importância destes lugares para a economia local, que são geridos de forma precária e que não são pensados para salas de espetáculos, mas servem de local para que determinado tipo de pessoas se sinta incluída e tenha abertura para criar artisticamente. Pode ajudar as próprias cidades a sedimentar as pessoas, nomeadamente pessoas jovens. Acaba por ser importante para as próprias cidades ter espaços como estes, apesar de muitas vezes nem serem bem vistos pelas instituições, municípios e autarquias. Foi esta soma de fatores que nos levou a formalizar um circuito e integrar uma plataforma digital para suportar esse circuito, de forma a que as pequenas salas comecem a trabalhar em conjunto. Juntas terão alguma força.

A criação de uma rede de ligações profissionais e cooperativas, entre o Norte de Portugal e Galiza, é um dos objetivos da plataforma

G. – Como vê a relação entre as duas regiões transfronteiriças, Norte de Portugal e a Galiza, no âmbito das pequenas salas?
H. C. – Essas regiões têm uma coisa em comum favorável ao projeto, a própria forma como as salas são geridas. Estas são as duas regiões mais periféricas da Europa e isso significa para as salas que encontram maior dificuldade em articular-se com os circuitos de bandas internacionais, comparativamente ao centro da Europa. E no centro acontece algo muito diferente do que acontece nas nossas pequenas salas. Para além da proximidade regional e dos objetivos económicos que justificam o investimento, as pequenas salas nunca são financiadas pelo Estado, tornando-as dependentes de outros financiamentos. As salas no centro da Europa pertencem a associações que, na grande maioria, são financiadas pelo Estado, têm mecanismos de cultura e são apoiadas. Por exemplo, na Holanda, há espaços com excesso de lucro porque recebem financiamentos mesmo com sala fechada. Aqui, estamos com salas fechadas e sem qualquer tipo de apoio. Tudo isto justifica que as duas regiões sejam mais apoiadas, mesmo pela dificuldade geográfica, o que faz com que as pequenas salas tenham programações curtas. Permitir terem êxitos de bilheteira e alimentar a união em rede faz com que se fortaleçam economicamente, e dessa forma possam atrair mais artistas e pessoas.

Ao preparar a candidatura apercebi-me de que Portugal é um dos poucos países que não tem uma associação de salas de concertos em circuito. Em Espanha, por exemplo, surgiu por necessidade e atualmente existe uma associação quase para cada região autónoma.

A primeira fase do projeto arrancou com formações sobre comunicação, gestão e organização das pequenas salas

G. - O projeto ALLVENUES arrancou no início do mês de junho. Em que consistiu esta primeira fase?
H. C. - O nosso objetivo nesta primeira fase foi preparar um programa de formações para as salas que pertencem ao circuito ALLVENUES, que serão as primeiras a usar a plataforma e as primeiras a beneficiar com ela. A ideia de as capacitar servirá para que consigam inaugurar, de forma eficaz, a plataforma, e para que possam colocar em prática as ferramentas que disponibilizamos nas formações. Dessa forma, podem programar, comunicar, gerir e organizar o que vai acontecer, transmitindo uma ideia de profissionalismo e eficácia às outras salas que queiram, no futuro, entrar na rede. Nesta fase de formações, tivemos partilhas nas áreas da comunicação, assessoria, programação e cooperação em cidades e estruturas de menor dimensão. Na unidade de “Comunicação e Assessoria de Imprensa”, tivemos a Sara Cunha, da Lovers & Lollypops, do TREMOR, habituada a entidades de diferentes escalas. O Gonçalo Riscado, do Musicbox, apresentou “Organização, Gestão e Financiamento”, enquanto gestor cultural desta maior pequena sala, abordando as adversidades, o tipo de cuidados a ter na gestão. Depois o Luís Fernandes, da gnration e Semibreve, liderou o workshop “Programação e Cooperação”, que é o que ele faz de melhor. Para além destes três especialistas, em comunicação, programação e organização, tivemos também o Liveurope, uma associação europeia de pequenas salas, parte do programa Europa Criativa, que falou do projeto Liveurope e de como apoiam essas salas. Foi importante perceber que existem estes temas para melhor capacitar as salas do circuito.

G. – O que se segue, após as formações?
H. C. – A ideia é que, nesta fase que se sucede, a partir deste mês de julho, as salas possam fazer acontecer todos os processos para a criação do circuito. A parte de outubro e novembro deste ano, 2021, vamos ter um circuito e concertos nas 10 salas, para pôr em prática esta ideia, utilizando a plataforma ALLVENUES. Haverá um ciclo de concertos em que duas bandas, uma de cada país, irão passar por três salas por fim de semana. Quatro fins de semana de concerto e duas bandas para mostrar ao público português e espanhol. O objetivo é que os quatro eventos, que passam por esta rede, sirvam para divulgar a plataforma e promover a ideia das pequenas salas de concertos. Isto numa segunda fase. Na terceira fase, a partir do início de 2022, a rede será aberta a outras salas que queiram participar e, através da plataforma, criar uma série de eventos com o selo do projeto. A plataforma não será fechada se houver salas de outras regiões interessadas, mas tudo corresponde ao ritmo destas das fases de projeto.

Gonçalo Riscado, do Musicbox, apresentou o módulo “Organização, Gestão e Financiamento


G. - Que artistas podemos esperar neste circuito de concertos?
H. C. - Os artistas serão os que geralmente frequentam este tipo de salas, sendo que gostávamos de ter alguma variedade. Pensámos em bandas rock e programação de entretenimento, porque é um tipo de programação que gostamos de fazer, enquanto promotora. A música eclética, música alternativa, talentos emergentes e regra geral são este tipo de artistas que frequentam as salas de concertos, onde conhecem o seu primeiro público e tomam outro tipo de envergadura. E quanto ao público, será aquele interessado em ver concertos ao vivo, um público generalizado, que ouve rádio alternativa e interessado por música e cultura.

G. – A plataforma encontra-se, portanto, numa etapa muito inicial. Para já, onde podemos encontrar a ALLVENUES e seguir os próximos passos do projeto?
H. C. – Neste momento, a plataforma já está desenvolvida. Já começámos a trabalhar a landing page, que será o sítio da plataforma online, o www.allmusicvenues.com. A ALLVENUES acaba por integrar tudo isto que falámos, criar um espaço de cooperação e desenvolvimento para as salas das duas regiões, de forma inovadora e pertinente, e que, à sua medida, tenta defender e promover estes artistas e os seus concertos. Teremos mais novidades em breve. Até lá, estamos ativos nas redes sociais, Facebook e Instagram.

Texto de Ana Mendes
Fotografias da cortesia de ALLVENUES

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