Tudo começou com uma simples e complexa questão: quais os temas que mais inquietam os jovens? “A saúde e bem-estar mental foi a resposta a que cheguei”, partilha Pedro Amaral, fundador e diretor da Amaral Dias, que decidiu, na altura, criar um projeto escolar “que promovesse o envolvimento, empenho e saúde psicológica dos alunos.”
Com foco nas áreas da educação e literatura, assim nasceu o Jornal Digital da Escola, que, mais tarde, ganhou o nome que hoje apresenta, fruto da vontade de expandir a publicação, para além das quatro paredes da instituição.
No site Amaral Media, é publicado conteúdo áudio, vídeo e escrito, com o objetivo claro de fomentar e difundir o conhecimento e de ter um impacto positivo nas vidas através da literatura.
O Gerador quis conhecer melhor este projeto (e o seu mentor), que este ano lançou a iniciativa “Poesia e Prosa nas Escolas” – uma ação que dá aos estudantes do ensino secundário, em Portugal, a oportunidade de publicar gratuitamente textos literários escritos por eles, permitindo assim que possam construir os seus universos literários.
Pedro Amaral, fundador, diretor e editor-chefe do projeto falou ao Gerador.
Fundaste este projeto com 16 anos. Porque achaste que era um projeto que fazia falta?
“Tende vergonha de morrer até teres conquistado alguma vitória para a humanidade [Be ashamed to die until you have won some victory for humanity]”. Ouvi esta frase de Horance Mann – através do astrofísico Neil deGrasse Tyson – e desde então que me acompanha.
Apesar da incrível experiência que tive, passar pelo secundário fez-me sentir a falta de união entre os alunos de diferentes turmas e, juntamente, a minha familiarização com questões de saúde mental. Acreditei que algo precisava de ser feito e, se conseguisse mover a agulha nesta área, conseguiria ajudar as pessoas a ter uma vida melhor. A possibilidade de contribuir para um mundo melhor, juntamente com a minha crença de que ter pessoas mais felizes e com bem-estar faz sempre falta, levou-me a começar este projeto.
Como está montado o projeto? E quais são os objetivos principais? O Amaral Media tem dois pilares primordiais: educação e literatura.
Na literatura, temos uma vasta biblioteca de conteúdo literário original e escrito por várias pessoas. Nesta parte da missão, o que nos rege é ter impacto nas vidas através da literatura.
Na educação, antigamente éramos mais generalistas, mas agora focamo-nos em três áreas – psicologia, tecnologia e filosofia – estando assim na intersecção entre as ciências e as humanidades. E aqui a nossa missão é fomentar e difundir o conhecimento.
A abordagem que adotamos para as duas publicações é diferente e igual em simultâneo. Estas diferem, porque, enquanto na publicação educativa procuramos profissionais e pessoas especializadas nas respetivas áreas, na publicação literária adotamos uma abordagem que assenta na ideia da democratização da literatura.
A literatura pode ser escrita por todos e ser para todos. E unindo ambas as publicações, temos a nossa visão global de criar um mundo de pessoas mais cultas, unidas e com bem-estar. Acredito que isto pode ser feito, através da arte literária, da educação ou da abordagem de temas de saúde mental.
Como olhas para a maneira como a literatura é trabalhada ao longo do ensino obrigatório?
Considero a minha experiência algo atípica, uma vez que vim para Portugal em 2019 e acabei aqui o secundário. Tive professores fantásticos e a minha professora de português deu-me mais do que alguma vez podia pedir. Aprendi sobre o sublime universo literário português e tive uma experiência positiva nos três anos.
Diria, no entanto, que existem claramente ações que podem ajudar a melhorar o cenário da literatura no ensino, nomeadamente: a adoção de formas mais cativantes de ensinar as obras; a organização de programas que dão vida às obras estudadas, por exemplo, peças de teatros, poesias expressivas lidas pelos alunos; o acrescento (nas disciplinas de inglês, espanhol, etc.) do estudo de obras estrangeiras que também são de interesse para a humanidade.
Achas que os alunos são incentivados o suficiente a escrever os seus próprios textos?
Na minha experiência tive algumas vezes a caneta na mão para escrever um texto literário, mas acredito que se pode incentivar mais os alunos, através de projetos escolares e nacionais de escrita literária. Tentámos no Amaral Media fazer isso com o projeto “Poesia e Prosa nas Escolas” e acredito que uma maior coordenação entre o Amaral Media e o sistema de educação daria em algo muito mais frutífero.
Mas é claro que nem todos os alunos gostam de escrever e há que permitir que assim o seja. Todavia, acredito profundamente que é do interesse de todos desenvolver a competência da escrita, pois, é através da escrita que muitas pessoas pensam, e desenvolver a escrita nas escolas contribui para uma sociedade melhor e dá-nos mais Antónios Damásios e Fernandos Pessoas.
O processo de submissão de textos terminou em março. Que balanço fazes do projeto Poesia e Prosa nas Escolas?
O “Poesia e Prosa nas Escolas” foi interessante, mas surgiram vários obstáculos. Começámos por escolher depender da comunicação social para passar a mensagem para os alunos do país, mas nunca obtivemos uma resposta. Tivemos então de mudar de estratégia e depender das redes sociais. Tinha o desejo de deslocar-me às várias escolas do país, mas isso revelou-se impossível. Comecei então a ligar pessoalmente para as escolas secundárias de todo o país – que são 967 no total –, mas nem ia na décima quarta escola, quando me apercebi de quão caro seria. E, tendo eu os meus 17 anos, não tinha ainda nenhum dinheiro no bolso para gastar.
Digamos que foi a nossa primeira experiência e que aprendemos várias lições. A adesão podia ter sido melhor – e sempre pode – mas estamos gratos pelas pessoas que participaram.
Podem estar atentos que iremos publicar os textos brevemente. Este foi o nosso pontapé de saída e temos em construção muitos mais projetos para mais faixas etárias, por isso, estamos ainda apenas no começo de algo muito maior.